O levantador Demián González, do Vôlei Renata, já teve experiências na Turquia e no Brasil. Em 2018, após uma passagem pelo Halbank, da liga turca, voltou à equipe de Campinas, pela qual fora vice-campeão da Superliga na temporada 2015/2016. Ele se sentia menos à vontade em Ancara do que no interior de São Paulo, mas o “problema” é que ele suspeita que sua família esteja “adaptada demais” ao Brasil.

“Outro dia fui à escola do Valentín, meu filho de seis anos, e constatei que ele canta perfeitamente o Hino Nacional Brasileiro. E não sabe cantar o argentino. Vi no caderno dele que desenha bem a bandeira do Brasil. E ainda ganhou uma camisa do Corinthians de um amiguinho, no aniversário”, desabafa, amargurado, o levantador, que é fanático pelo Boca Juniors e só se consolou um pouco quando soube que a professora tratou de ensinar o garoto a desenhar a bandeira alviceleste, com uma simpática figura solar ao centro.

Ciumeiras à parte, Demián se considera afortunado por jogar a Superliga. Logo na primeira temporada em Campinas, ganhou, num churrasco de confraternização, uma camisa da seleção brasileira de número 6 das mãos de Maurício, embaixador da equipe campineira. O bicampeão olímpico (92 e 2004) é ídolo de infância do argentino. “Não existe comparação entre as ligas argentina e brasileira quando se pensa em nível técnico ou salarial. Nesta temporada, alguns problemas ocorrem na Superliga. Há times que não pagam salários e equipes foram desfeitas, mas aqui é muito melhor do que lá”, afirma.

German Johansen é testemunha dessa instabilidade financeira no América-MG. Em Montes Claros, onde joga sua equipe, atrasos salariais ocorrem. Mas o oposto, autor de 16 pontos na final do Mundial Sub-23, em que a Argentina superou a Rússia no ano passado, recusa-se a comentar o assunto. “A liga do Brasil figura no conjunto das melhores do planeta. Aqui se treina muito, mais do que na Europa, e aprendi a buscar melhoras diariamente”, diz o atacante de 2m.

Vicky Mayer, levantadora do Flamengo, sentiu uma diferença ainda maior em relação ao campeonato de seu país, porque o vôlei feminino argentino está mais mergulhado no amadorismo. “Jogar aqui é uma experiência linda. Temos muitos jogos e em cada um você tem que deixar todo o suor na quadra. Não se pode relaxar nem por um segundo”.