O governo da Alemanha ficou mais perto de adotar um racionamento de gás natural, após a Rússia cortar o fornecimento para a maior economia europeia, numa escalada das tensões disparadas pela invasão da Ucrânia por forças russas, no fim de fevereiro.

Berlim deu início nesta quinta-feira à segunda parte de um plano de três fases para lidar com a escassez de gás após o gigante russo de energia Gazprom, maior exportador de gás do país, reduzir a entrega do produto por meio do gasoduto Nordstream em cerca de 60% na semana passada.

As reservas de gás da Alemanha estão atualmente em 58% da capacidade, e o governo estima que faltará gás até dezembro se o fornecimento não voltar a subir, segundo o ministro de Economia alemão, Robert Habeck.

A segunda fase, conhecida como “nível de alarme”, é um pré-requisito para o governo implementar algumas das medidas de economia de gás anunciadas na semana passada, incluindo a substituição de gás por carvão para a geração de eletricidade e a criação de incentivos financeiros para empresas consumirem menos gás.

O racionamento, que viria na terceira fase, focaria a indústria, podendo prejudicar gravemente empresas que utilizam gás como combustível ou matéria prima para produção, provavelmente empurrando a Alemanha para uma recessão, conforme alertam economistas e executivos.

A Alemanha ficou fortemente dependente do gás russo ao longo de décadas e tem enfrentado dificuldades para diversificar suas fontes. Berlin está se esforçando agora para construir nova estrutura que permita migrar para o gás natural liquefeito (GNL) entregue por navios, mas a transição é cara e exige tempo, tornando uma falta de gás temporária durante o inverno alemão cada vez mais provável.

Pela lei alemã, as reservas estratégicas de gás precisam atingir 80% da capacidade até outubro e 90% até novembro, um cenário que dificilmente irá se concretizar.

Se o governo adotar a terceira parte do plano, conhecida como “fase de emergência”, o regulador de energia alemão poderá dar início ao racionamento.

Habeck afirmou nesta quinta que não pode descartar um eventual racionamento para a indústria alemã, mas ressaltou que o pior poderá ser evitado por outras medidas que estão em andamento. “Espero que (o racionamento) nunca aconteça,” disse.