Reprodução/Instagram – Postagem do jogador Niku00e3o

A Aliança Nacional LGBTI, que defende os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais, enviou carta ao Atlético Paranaense nessa quinta-feira (dia 7) para pedir uma reunião sobre as manifestações do meia-atacante Nikão no Instagram. Em 8 de maio, o jogador publicou uma imagem de casais homossexuais com os dizeres: “isso nunca será aceito por Deus”. A imagem também continha uma citação bíblica: "Com homem não te deitarás, como se fosse mulher, isso é abominação", Lv-18:22. 

A postagem do jogador provocou reações nas redes sociais. “Consideramos que o episódio em questão foi grave, por extrapolar os limites da liberdade de expressão e de convicção religiosa ou moral”, disse a Aliana Nacional LGBTI, em carta ao Atlético. “Portanto, enviamos ao jogador a notificação extrajudicial, sendo que recebemos do mesmo uma contra-notificação, na qual se afirma que o jogador exerceu seu direito de liberdade de expressão religiosa em mensagem destinada aos seus seguidores”, afirmou o grupo. 

Para a Aliança, a declaração do jogador “independente de ser no âmbito particular ou público, influencia negativamente a opinião pública” e “reflete de forma prejudicial na imagem do próprio clube”. 

“É a nossa prática sempre buscar primeiro o diálogo na tentativa de resolver de forma amistosa eventuais situações que podem ser prejudiciais para a população LGBTI e, por este motivo, gostaríamos de solicitar uma reunião com vossa senhoria ou pessoa designada da diretoria do Clube e, se possível, junto com o próprio jogador Nikão, para que se chegue a um entendimento mutuamente aceitável”, diz a carta da Aliança.

Veja abaixo a carta enviada ao Atlético, na íntegra:

“Aliança Nacional LGBTI pede um posicionamento do Atlético Paranasense sobre a fala LGBTIfóbica do jogador Nikão

Preocupação com manifestações de convicções religiosas pessoais do jogador "Nikão"

Ao:      Sr. Luiz Sallim Emed
Presidente 
Clube Atlético Paranaense de Futebol

Assunto: Preocupação com manifestações de convicções pessoais do jogador “Nikão”

Senhor Presidente e Equipe,

A Aliança Nacional LGBTI é uma entidade que atua em rede e cuja missão é contribuir para a promoção e defesa dos direitos humanos e cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais (LGBTI) e que tem entre suas finalidades específicas promover o respeito à diversidade LGBTI.

Cabe ressaltar que são registrados anualmente mais de 300 assassinatos de pessoas LGBTI decorrentes de discriminação no Brasil, e que o serviço Disque 100 recebe milhares de denúncias de violações dos direitos humanos das pessoas LGBTI, de modo que o Brasil tem a infelicidade de se destacar no cenário mundial como um dos países, se não o país, onde menos se respeita a diversidade sexual. Basta visitar o site Homofobia Mata https://homofobiamata.wordpress.com/ para encontrar dados sobre o assassinato diário de pessoas LGBTI no Brasil. Em Curitiba são reiterados os casos de ataques LGBTIfóbicos, a exemplo de situações como o caso do homem gay agredido com ácido em seu rosto enquanto era ofendido com frases como “Tome! Seu viado.”; ou como o casal de lésbicas, agredidas fisicamente no transporte público; ou então o cabeleireiro gay que foi esfaqueado dentro do ônibus, entre diversos outros casos.

Quem a homotransfobia matou hoje? Segundo relatos pela mídia e nas rede social, N. era filho de pais evangélicos, e sofria bullying na escola por que seria “afeminado”. 

As atitudes de violência e discriminação contra pessoas percebidas como sendo, de alguma forma, “diferentes”, são influenciadas, entre outras, por questões culturais e, sobretudo, pelos pronunciamentos de pessoas formadoras de opinião pública, podendo estes ser positivos ou negativos. Como bem disse Nelson Mandela, “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

Posto isto, em 08 de maio de 2018, o jogador do Atlético Paranaense, Maycon Vinícius Ferreira da Cruz, o “Nikão”, publicou no instagram postagem condenando a homossexualidade, complementando com os dizeres “Deus guarda nossos filhos”. Além de atingir os mais de 3.500 seguidores na referida rede social, o pronunciamento teve bastante repercussão na mídia em geral, vindo assim a incidir sobre a opinião pública. 

Consideramos que o episódio em questão foi grave, por extrapolar os limites da liberdade de expressão e de convicção religiosa ou moral, a partir do momento que feriu os direitos constitucionais alheios, neste caso a dignidade humana da população LGBTI. Portanto, enviamos ao jogador a notificação extrajudicial anexa, sendo que recebemos do mesmo uma contra-notificação, também anexa, na qual se afirma que o jogador exerceu seu direito de liberdade de expressão religiosa em mensagem destinada aos seus seguidores.

Entendemos que uma declaração pública de natureza LGBTIfóbica por parte de um jogador do Atlético Paranaense, independente de ser no âmbito particular ou público, influencia negativamente a opinião pública, sobretudo a dos “seguidores”, e também reflete de forma prejudicial na imagem do próprio Clube.

É a nossa prática sempre buscar primeiro o diálogo na tentativa de resolver de forma amistosa eventuais situações que podem ser prejudiciais para a população LGBTI e, por este motivo, gostaríamos de solicitar uma reunião com vossa senhoria ou pessoa designada da diretoria do Clube e, se possível, junto com o próprio jogador Nikão, para que se chegue a um entendimento mutuamente aceitável.

Na expectativa de sermos atendidos, agradecemos pela atenção e colocamo-nos à disposição.

Respeitosamente,
Toni Reis
Diretor Presidente

Mateus Cesar Costa
Advogado
OAB/PR 86.134

Marcel Jeronymo Lima Oliveira
OAB/PB n. 15.825
Coordenador do Setor de Atendimento Jurídico”