SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para montar um negócio tradicional, os primeiros passos que o empreendedor deve dar são procurar um bom ponto comercial e traçar um plano de negócio. No caso das startups, há mais etapas nesse início.


“Como elas trabalham com ideias inovadoras, que muitas vezes criam novos mercados, o ponto mais importante é verificar se a ideia faz mesmo sentido para a sociedade”, afirma Leandro Queiroz, consultor do Sebrae-SP.


Nessa fase, o empresário deve se concentrar nos problemas que sua startup pretende solucionar. Só depois de ouvir seus potenciais clientes e entender os problemas que eles enfrentam, é chegada a hora de entrar na prática e testar a ideia pela primeira vez.


Isso é feito por meio do desenvolvimento de um produto mínimo viável (MVP, do inglês) que, em termos básicos, significa uma versão simplificada e barata do produto ou serviço que se pretende oferecer.


O MVP serve para fazer os ajustes na ideia e ver se ela realmente tem mercado. “Digamos que o empreendedor queira fazer bolos de casamento: o MVP seria um teste com um bolo simples de fubá”, explica Queiroz


Muitas vezes, os resultados dos primeiros testes com um MVP acabam modificando o projeto da startup.


Foi o que aconteceu com a Eletrika, empresa criada por Lucilene Oliveira, que oferece o serviço de empréstimo de aparelhos eletroportáteis, como aspirador de pó, furadeira, liquidificador, entre outros itens.


Lucilene conta que teve a ideia da sua startup no fim de 2017, quando se mudou para um apartamento de 45 metros quadrados no bairro da Barra Funda, em São Paulo.


“Como o apartamento era muito pequeno, não tinha como ter todos os eletrodomésticos em casa. Foi quando tive a ideia de criar um negócio para emprestar esses produtos”, explica.


No início de 2018, a empresária já tinha começado a desenhar sua ideia de negócio. Inicialmente, o plano era criar uma plataforma na qual pessoas que possuem eletroportáteis pudessem emprestar seus equipamentos para quem precisasse deles.


“Para validar a ideia, anunciei no grupo do Facebook do meu condomínio e, em maio, fiz a primeira locação. Emprestei o meu mouse e meu teclado sem fio para um vizinho”, explica.


O teste fez com que Lucilene alterasse sua ideia de negócio. Em suas conversas com os primeiros clientes, percebeu que a maioria tinha apego emocional aos seus eletrodomésticos, que muitas vezes foram presentes de amigos e familiares, o que impedia os empréstimos e dificultava o desenvolvimento do negócio.


“Percebi que seria preciso ajustar a ideia e comecei a elaborar um modelo não mais C2C [de consumidor para consumidor], mas sim B2C [de empresa para consumidor].”


Para fazer a mudança no modelo de negócios, Lucilene contou com a ajuda de mentores do Startup SP, programa de desenvolvimento de startups digitais do Sebrae.


Com isso, ela conseguiu formar conexões com parceiros da indústria, como Electrolux e Mondial, e recebeu R$ 50 mil em equipamentos para montar seu estoque inicial de eletroportáteis.


Hoje, os empréstimos são feitos pela startup para os clientes, em um modelo B2C, com valores a partir de R$ 29,90. “Eu e meu marido fazemos as entregas, e nosso faturamento ainda é baixo [R$ 1.300 por mês], mas estamos crescendo”, diz.


Sobre a ajuda de aceleradoras e incubadoras para o desenvolvimento da ideia de negócio, Artur Vilas Boas, coordenador estratégico do NEU (Núcleo de Empreendedorismo da USP), ressalta que essa é uma boa maneira de ter acesso a recursos, mas que o pequeno empresário precisa ficar atento.


“Esses modelos são bons porque o empreendedor se dedica mais. Ter um compromisso externo, com um contrato, dá mais seriedade e movimenta o negócio, mas não é um requisito. A aceleradora, por exemplo, pega um percentual da empresa, e isso pode prejudicar na frente, quando se tenta fazer outras captações de dinheiro”, afirma Vilas Boas.


Foi com esse pensamento de manter o controle do negócio nas próprias mãos que os empreendedores Matheus Pagani e Vinicius Sampaio desenvolveram a Ploomes, plataforma digital para companhias que une ferramentas de gestão de clientes e de vendas para o setor de indústrias e distribuidoras.


Pagani conta que a plataforma foi elaborada a partir de problemas que seu pai e o pai de seu sócio enfrentavam nas empresas em que trabalham. “Eles reclamavam que os sistemas que usavam não eram completos, então, entre 2007 e 2008, eu e o Vinicius fizemos uma primeira versão para eles usarem”, explica.


Depois de alguns anos, em 2014, os dois decidiram revisitar a ideia da plataforma como um produto a ser oferecido para o mercado.


“Corremos atrás por conta própria, com o apoio de poucas pessoas próximas. Claro que houve momentos em que sentimos falta de um apoio profissional, e poderíamos ter pulado algumas etapas se tivéssemos buscado ajuda, mas hoje estamos bem e conseguimos excelentes resultados”, diz.


Atualmente, a Ploomes conta com mais de 500 clientes e neste ano recebeu um aporte de R$ 1 milhão do investidor Jander Martins, fundador de empresas como Nexaas e MasterSAF. Com isso, a startup estima aumentar em 300% o faturamento anual em relação a 2018.