SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A classe trabalhadora não será um dos segmentos mais beneficiados durante o governo Jair Bolsonaro, na visão da maior parte dos brasileiros.


Levantamento do Datafolha mostra que apenas 11% da população acha que eles serão os mais privilegiados nos próximos anos.


Os políticos aparecem à frente -21% dos brasileiros esperam ver o setor como o mais beneficiado. Em seguida, vem a indústria, com 18%.


Bancos e agricultores figuram com 13% e 12%, respectivamente.


Tecnicamente, estão empatados com os trabalhadores, já que a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.


O levantamento foi realizada nos dias 18 e 19 de dezembro em 130 municípios do país.


As promessas de campanha de Bolsonaro incluíam medidas impopulares entre os trabalhadores, como o aprofundamento da reforma trabalhista –com a chamada “carteira verde e amarela”, que teria menos diretos.


Segundo o novo governo, a proposta será a de ampliar a flexibilização das leis trabalhistas, mas manter os direitos previstos pela Constituição, como as férias e o 13º salário.


Durante a corrida eleitoral, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, chegou a criticar o 13º salário. Ele afirmou que o benefício era uma “mochila nas costas dos empresários” -comentário que à época teve repercussão negativa.


Para defensores da flexibilização das regras trabalhistas, porém, as reformas são uma forma de aumentar o número de vagas no país e, portanto, beneficiar a força de trabalho.


Entre os eleitores que declararam voto no atual presidente, a porcentagem dos que acham que trabalhadores serão os mais privilegiados ficou acima da média, em 17%.


No caso dos que votaram no petista Fernando Haddad, que perdeu o segundo turno para Bolsonaro, o índice foi de 3%.


A taxa não tem variações significativas nos recortes por sexo ou renda familiar.


A principal diferença de percepção é entre as regiões do país: no Sul, 22% acham que os trabalhadores serão os maiores beneficiados pelo novo governo, taxa que cai para 6% no Nordeste. Foi justamente no Nordeste onde o petista teve seu maior número de votos.


Para 12% dos brasileiros, a percepção é a oposta, e a expectativa é que os trabalhadores serão os mais prejudicados durante a gestão Bolsonaro.


Essa porcentagem é maior também entre os moradores do Nordeste (19%) e pessoas cujo partido de preferência é o PT (19%).


Se a perspectiva dos brasileiros para os trabalhadores é negativa, para os setores de serviços e comércio é ainda pior. Só 9% e 8%, respectivamente, dos brasileiros acham que os segmentos serão prioritários.


Os dois setores sofreram forte retração durante a crise econômica e vêm se recuperando lentamente. Esses setores também respondem por um expressivo quantitativo da mão de obra brasileira.


No acumulado de 2018, até novembro, o varejo teve uma alta de 2,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


O setor de serviços, até novembro de 2018, ainda acumulava uma queda anual de 0,1% na comparação com igual período de 2017.


Os segmentos também aparecem no topo da lista de expectativa negativa: 14% e 13% dos brasileiros acham que serviços e comércio estarão entre os mais prejudicados sob a gestão Bolsonaro.


Eles aparecem tecnicamente empatados com os agricultores (14%) e os trabalhadores (12%).


Quem lidera a lista, porém, é a classe política. Para 24%, o setor será o mais prejudicado durante o governo Bolsonaro –que se elegeu com o discurso da antipolítica e da anticorrupção.


Essa percepção de que a classe política será a mais prejudicada é mais forte entre os homens (29%), os mais ricos, principalmente aqueles com renda acima de dez salários mínimos (34%), os moradores do Sul do país (29%) e os eleitores declarados de Bolsonaro (38%).