SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após uma série de problemas com o armento utilizado no policiamento de rua, entre eles a possibilidade do disparo acidental, a Polícia Militar de São Paulo prepara uma licitação para troca de metade de todas as pistolas da corporação.


Serão adquiridas, em um primeiro momento, 40 mil pistolas calibre .40 em licitação internacional.


O valor estimado da medida é de cerca de US$ 20 milhões — algo como R$ 80 milhões.


Na próxima quinta-feira (2), uma audiência pública sobre a compra vai ser realizada. O intuito é apresentar às empresas interessadas as especificações técnicas exigidas para as armas e também discutir sugestões dos presentes.


Segundo a PM, os moldes serão parecidos aos da licitação vencida pela Glock em 2018, mas reduzindo o número de cinco carregadores para três.


O edital deve sair apenas após 30 dias da audiência. O Exército já deu o aval para a aquisição do armamento.


A outra metade das pistolas deve ser comprada em até três anos, segundo a PM.


A PM de São Paulo tem cerca de 80 mil homens e mulheres, excluindo dessa conta o efetivo do Corpo de Bombeiros (cerca de 8.000 pessoas).


De acordo com a instituição, o armamento atual da corporação tem entre oito e dez anos de uso e quase todas não têm mais peças de reposição.


Entre as exigências de segurança da arma a ser adquirida está o teste de queda. A pistola não pode disparar se cair acidentalmente.


“Nosso objetivo é fornecer um armamento que seja moderno, eficiente e seguro”, disse o coronel Sidney Mendes de Souza, Diretora de Logística da PM de SP.


Essa será a segunda licitação internacional realizada pela corporação. Na primeira, concluída em 2018, a PM comprou 5.000 pistolas Glock para o policiamento de choque, do que a Rota (tropa de elite da PM) faz parte.


O certame chegou a ser vencido inicialmente pela italiana Beretta, ainda em 2017, mas acabou revogado após suspeita de direcionamento.


A compra da Glock quebrou uma hegemonia de décadas da Taurus e ocorreu após a empresa brasileira ser impedida de comercializar com o estado de São Paulo, em razão de problemas na execução de contrato de R$ 30 milhões para fornecimento de 6.000 submetralhadoras .40.


A empresa não teria conseguido resolver os problemas técnicos das armas. As submetralhadoras tiveram seu emprego vetado por apresentarem falhas consideradas insolúveis, “como fissuras e rompimento de canos”.


As pistolas Taurus também apresentam uma série de reclamações de falhas por funcionamento. Além da necessidade de um recall de todas as armas da corporação, sugiram indícios de que ela pode disparar sozinha.


No ano passado, o Ministério Público de São Paulo pediu arquivamento de processo contra o policial militar Rafael Júnior Pereira, que matou uma pessoa durante abordagem. A alegação da defesa, aceita pelo promotor com base em laudo do IC (Instituto de Criminalística), foi que arma disparou sozinha.


“Existem inúmeros casos iguais. Essa arma aí [Taurus] não tem condições”, diz advogado João Carlos Campanini, defensor do PM.


“E venho repetindo: os PMs que fazem a escolta do governador, do secretário, usam essa mesma arma. O dia que disparar e acertar alguém importante, eles vão tomar providência. Enquanto estiver morrendo pobre na periferia, fica por isso mesmo.”


Procurada, a Taurus informou por meio de nota que “não está impedida de licitar com a PM do Estado de São Paulo” e que “não responde a ilações, especulações e sobre ações judiciais em curso”.