FELIPE GIACOMELLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Preocupado em atrair os brasileiros, o SeaWorld, parque americano famoso por apresentações de animais marinhos, veio ao Brasil nesta semana para promover a construção de um novo ambiente para suas orcas.
Além dos encontros já promovidos com agentes de viagem, foram realizadas apresentações em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte para a imprensa especializada e blogueiros que falam de Orlando (EUA).
A iniciativa acontece em um momento delicado para o parque. Lançado em 2013, o documentário “Blackfish” denunciou maus tratos recebidos pelas baleias no SeaWorld, o que pode ter resultado na morte da treinadora Dawn Brancheau, atacada por um dos animais, em 2010.
O filme aponta os tanques apertados e a obrigação de participar de apresentações em troca de comida como causas de a baleia Tilikum ter matado sua treinadora.
Após o lançamento do filme, o SeaWorld registrou queda no público. No primeiro trimestre deste ano, porém, viu o número de visitantes crescer 5,6%, mas segue acumulando prejuízo.
É aí que entra a iniciativa de apresentar no Brasil o novo espaço das orcas, chamado de Blue World. Brasileiros estão atrás apenas dos britânicos entre os maiores visitantes estrangeiros do parque.
A área, cuja inauguração na sede de San Diego, na Califórnia, está prevista para 2018, terá 38 milhões de litros de água, quase o dobro dos tanques atuais, de acordo com a companhia.
O parque afirma que o Blue World foi elaborado antes da divulgação do documentário. “Só poderemos fazer comparações quando o espaço for lançado. Nossos estudos mostram que o estresse dos animais agora é baixo”, diz Gisele Montano, pesquisadora brasileira do SeaWorld.
Após trocar o presidente-executivo e sofrer três processos na Justiça em 2015, o SeaWorld diz que as críticas de antigos treinadores no filme “Blackfish” foram retiradas do contexto.
ANIMAIS SAUDÁVEIS
Montano também criticou as alegações do documentário sobre as condições dos animais no parque, principalmente suas 30 orcas, e afirmou estarem todos saudáveis, incluindo Tilikum, que continua participando das apresentações.
No entanto, como a baleia já se envolveu na morte de três pessoas -além de Brancheau, morreu também uma treinadora em um parque no Canadá, além de um homem que invadiu as instalações do SeaWorld-, a empresa estabeleceu protocolos especiais para cuidar de sua orca macho.
“Fisicamente ele está saudável. Só que ele aprendeu no parque do Canadá que, se tiver uma pessoa na água, ele pega com a boca. E, uma vez que aprendeu algo, não dá para desaprender. É igual a um cachorro que late quando tem alguém no portão de casa”, diz a pesquisadora.
Ela também citou um estudo recentemente publicado pela Editora Oxford que aponta a expectativa de vida das baleias do SeaWorld ser parecida com a dos animais na vida selvagem, em que 97% morrem antes de completar 50 anos.
A pesquisa se tornou uma resposta a um dos processos na Justiça dos EUA. Nele, o SeaWorld é acusado de dar informações erradas sobre os animais, como o tempo de vida, para fazer parecer que eles não sofrem no cativeiro.
“Eu acho que a expectativa de vida no parque, na verdade, é maior. É parecido com os seres humanos, como a medicina evoluiu, passamos a viver mais”, declara Montano, ressaltando o acompanhamento médico que os animais têm no parque.
Ela cita um pinguim que passou por um tratamento com células-tronco como exemplo dos tratamentos avançados para os animais.
Após a morte de Brancheau, a Justiça americana proibiu os treinadores do SeaWorld de participar das apresentações com as baleias dentro da água. O parque disse que não tem expectativa de mudar a decisão judicial.