SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) Os moradores da faixa de Gaza voltam a protestar. Mas, desta vez, o alvo das manifestações é o Hamas, o grupo islamita que controla o enclave palestino desde 2006.


Na semana passada, centenas de pessoas protestaram –sob o mote “queremos viver”– contra o aumento do custo de vida no território, causado em parte por um aumento de impostos.


As forças de segurança do Hamas reprimiram o movimento, agredindo e prendendo dezenas de manifestantes. As cenas de violência circularam nas redes sociais.


O coordenador da ONU (Organização das Nações Unidas) para a paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, disse em comunicado que “o povo sofrido de Gaza” deve ter seu direito de protestar respeitado.


“Eu condeno fortemente a campanha de detenções e violência feita pelas forças de segurança do Hamas contra os manifestantes”, afirmou Mladenov, de acordo com a agência de notícias Reuters.


O Hamas acusa a facção rival Fatah, que governa partes da Cisjordânia, de provocar os protestos para causar instabilidade.


“Nós enfatizamos nosso apoio a manifestações pacíficas, mas não deixaremos que os protestos sejam explorados para provocar o caos”, declarou um porta-voz do Hamas, Iyad al-Buzom, à emissora catariana Al Jazeera.


Os protestos contra Israel foram cancelados na semana passada, em parte devido à onda de descontentamento com o Hamas. Mas havia também o temor de uma escalada da violência: na quinta-feira (14), Israel bombardeou alvos na faixa de Gaza após o disparo de dois foguetes em direção a Tel Aviv.


A faixa de Gaza vive uma crise econômica e humanitária aguda. De acordo com a ONU, cerca de 53% dos moradores do território vivem na miséria, e mais de 49% estão desempregados.


A situação resulta do bloqueio de fronteiras mantido desde 2007 por Israel e Egito. A faixa de Gaza, que tem cerca de um quarto da área da cidade de São Paulo, concentra 2 milhões de habitantes.


PROTESTOS INÉDITOS


Protestos na faixa de Gaza são rotineiros, mas são raras as demonstrações de dissenso contra o Hamas. Há um ano, moradores da faixa de Gaza vêm organizando manifestações próximo à fronteira com Israel para exigir o direito de retornar a suas casas –mais de 70% dos habitantes do território são refugiados.


As forças de segurança de Israel têm respondido aos protestos com gás lacrimogêneo e munição letal, em ações que podem constituir crimes de guerra, de acordo com a ONU. Nos últimos meses, mais de 250 manifestantes foram mortos e 6.000 ficaram feridos.