Franklin de Freitas – Tradicional prato feito aos poucos perde para outros alimentos: surpreendentemente

Embora ainda seja a base da dieta dos brasileiros, o arroz e o feijão estão perdendo espaço no prato da população. Segundo dados do IBGE, na análise do porcentual de pessoas que consumiram os alimentos nas 24 horas anteriores à entrevista, o consumo do feijão variou de 72,8% para 60% entre 2008 e 2018, enquanto a frequência de consumo do arroz variou de 84% para 76,1% e as preparações à base de arroz variaram de 1,4% para 2,8%.

Os dados fazem parte da “Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil”, divulgada na última semana pelo IBGE. Apesar da redução na frequência de consumo, o estudo também aponta que o arroz e o feijão seguem entre os alimentos mais consumidos – considerando o consumo diário per capita, os destaques são o café (163,2 g/dia), o feijão (142,2 g/dia), o arroz (131,4 g/dia), sucos (124,5 g/dia) e refrigerantes (67,1 g/dia).

Por outro lado, a dieta do brasileiro ganha novos sabores. A salada crua, por exemplo, é consumida diariamente por 21,8% da população – antes, o porcentual era de 16%. Sanduíches também estão mais frequentes, tendo variado de 8,3% para 13,8%. Aumentos de menor magnitude ocorreram para outros legumes (de 4,4% para 8,5%), aves (de 27,0% para 30,8%) e preparações à base de aves (de 0,6% para 3,6%).

Curiosamente, alimentos como arroz, feijão, pão francês, farinha de mandioca, milho e peixes frescos estão mais presentes na mesa de pessoas com renda mais baixa o que na daqueles com renda mais alta. Por outro lado, os produtos industrializados, que têm valor de mercado maior, são mais encontrados nas famílias de rendimento per capita mais alto.

Um exemplo disso é a pizza. Nos domicílios com maior rendimento, 4,6% dos moradores relataram ter comido o produto, enquanto nos domicílios de renda mais baixa esse número era de 1%. A diferença também fica evidente quando analisada a quantidade consumida: as famílias do primeiro quarto de rendimento (renda mais baixa) consomem, em média, 1,8 gramas de pizza por dia, enquanto aqueles do último quarto (renda mais alta) consomem 12,5 gramas.

“Isso acontece porque as pessoas de maior rendimento têm condições de comprar alimentos mais variados. A renda permite que essas pessoas façam opções por esses alimentos, que embora não tenha uma qualidade nutricional muito desejada, custam mais caro”, afirma André Martins, gerente da pesquisa, apontando, ainda, que alimentos como arroz e feijão, embora estejam com o consumo em queda, ainda são bastante presentes na mesa do brasileiro.

“A gente observa que a alimentação ainda é muito baseada na culinária tradicional brasileira, com a presença de arroz, feijão e carne. Isso é muito bom, levando-se em consideração que quase 70% da nossa energia diária média vêm dos alimentos in natura ou minimamente processados. Mas ainda consumimos uma quantidade de legumes, frutas e verduras abaixo do recomendado.”

Jovens consomem mais salgados e menos verduras e legumes
Quando considerados os grupos de idade, chama a atenção o fato de os jovens terem uma alimentação bem menos regrada e adequada do que os mais velhos, o que tem se traduzido nos anos recentes no aumento dos índices de sobrepeso e obesidade.

O consumo de frutas, verduras e legumes em geral, por exemplo, é menor entre adolescentes em relação a adultos e idosos, com exceção do açaí e da batata inglesa. O mesmo acontece com o leite desnatado, pão integral, café, chá, sopas e caldos.

Inversamente, o consumo de alimentos como biscoito recheado, refrigerantes, bebidas lácteas, salgadinhos do tipo chips, sanduíches e pizzas chega a ser 20 vezes maior entre os jovens do que entre os mais velhos. O consumo de ultraprocessados, contudo, é desaconselhado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, justamente porque eles são nutricionalmente desbalanceados e tender a ser consumidos em excesso.

Homens consomem três vezes mais cerveja que mulheres
Outro dado curioso trazido pelo IBGE é que o consumo de cerveja entre homens é mais que o tripo da média feminina: 54,5 gramas por dia contra 16,4 gramas por dia.
Na maior parte das vezes (51%), a bebida alcoólica é adquirida e consumida fora do domicílio, o que também foi observado para as bebidas destiladas (44,1%), salgados fritos e assados (40,1%), outras bebidas não alcoólicas (40,1%), sorvete/picolé (37,2%), salgadinhos chips (32,7%), bolos recheados (32,6%) e refrigerantes (31,1%).
O percentual consumido fora do domicílio foi maior entre os homens para a maioria dos alimentos e preparações e as maiores diferenças foram encontradas para outras bebidas não alcoólicas, cuja parcela de consumo fora de casa entre os homens era o dobro da observada para mulheres. Em contrapartida, as mulheres apresentaram maior proporção de consumo fora de casa do que os homens para preparações à base de pescado e vinho.