Franklin de Freitas – Eduardo Regueira Campos com a obra Louvado Seja Deus

A arte, seja de qual área for, significa a tradução completa de toda a capacidade crítica e a entrega de um artista. Sendo óbvia ou não, o papel artístico de uma obra é despertar o pensar, levar o espectador a enxergar além. E, nesses tempos tão polarizados, nos quais uma verdadeira “caça às bruxas” é empreendida, optar por este caminho é, acima de tudo, um ato de coragem. Principalmente no sentido de enfrentar os próprios demônios e questionamentos, e colocá-los de maneira nua e crua, para a apreciação do público.

O artista plástico Eduardo Regueira Campos entende bem o que significa essa forma de se “despir” em relação à arte. Dono de uma das obras mais controversas e intrigantes do cenário curitibano, ele prioriza o ato de pensar em cada ponto de suas criações. Uma delas, intitulada de ‘Louvado Seja Deus’, inclusive, desperta vários sentimentos, mas nunca a indiferença. O quadro foi construído com base em uma ilusão de ótica, relacionada à figura de Jesus Cristo, e que surgiu na internet já há algum tempo. Com base no conceito de “afterimage” (que consiste em uma imagem que continua a ser percebida pelo olhar, mesmo após a visão ter se deslocado para outro ponto), a obra é constituída por papelotes de LSD, camuflados em camadas, decomposições e cores psicodélicas, formando a figura de Jesus Cristo, e distribuídos em um espaço em branco na tela (colocado ao redor de um papel alumínio). “O objetivo do quadro é proporcionar o despertar de uma sensação ligada ao conceito da arte metafísica, no qual o espectador, ao olhar para um dos rostos de Jesus, e desviar o olhar para a parte branca do quadro, sentir o mesmo efeito do LSD – ou da abstração da fé – e perceber o que não conseguimos enxergar de maneira prática.”
Para Eduardo, a utilização do LSD possibilita a tradução do ponto de ilusão da religião. “Estamos acostumados a possuir uma visão dogmática, sem questionarmos muito, sem pensarmos de forma profunda sobre as coisas. O que eu desejei fazer com o quadro é justamente o oposto disso: possibilitar a construção de uma visão mais pragmática, não tão dogmática, apelar para o método científico mesmo”. 

‘Estamos acostumados a duvidar pouco das coisas’, afirma Eduardo

O artista buscou pensar dentro do universo que criou para suas artes que possuem, como uma espécie de ponto de partida, a necessidade de expressar a frustração da polarização e a falta de conscientização das pessoas. “É uma ode à dúvida. Estamos acostumados a duvidar pouco das coisas. A minha intenção, através da minha arte, é transgredir mesmo, incomodar as pessoas, levá-las a uma reflexão contínua sobre o sentido das coisas”. Tanto que Eduardo critica o sentido de se fabricar arte, apenas visando o lucro. Para ele, a porção questionadora e indagadora de uma obra deve sobressair sobre a sua estética.

“A pessoa que for comprar uma obra de arte deve, acima de tudo, escolher um trabalho que traduza a sua filosofia de vida, ela deve ter essa filosofia traduzida nos objetos, nos elementos que fazem parte de sua casa. Coisas que reflitam a sua personalidade, as suas dúvidas, os seus anseios e questionamentos.”
Questionado se considera ‘Louvado Seja Deus’ a sua obra mais emblemática, Eduardo acredita que não. “Cada trabalho era o melhor a ser feito naquela época, a sua melhor versão. Ela é a mais emblemática, dentro do tempo e do espaço em que foi produzida. Mas cada obra é única, ela pode despertar novas visões e conceitos com o tempo”.

E, em meio a tantas pessoas que mudam de opinião e comportamento o tempo todo, e também sobre a continuidade do tempo, e seus objetivos para o futuro, ele afirma que pretende construir versões melhores de si mesmo. “Eu espero me manter fiel ao meu modo de viver, de interpretar as coisas, equilibrar decisões, refletir sobre elas, buscar ideais que possibilitem ajudar a diminuir coisas que eu vejo como ruins, moralmente e socialmente falando.”

E, para ele, a arte salva? “Acho que existem ferramentas certas para a pessoa se salvar. Termos uma consciência maior das coisas. Eu, particularmente, acho que não ter fé é um luxo, mas no mundo em que vivemos, é quase impossível alcançar isso. O homem se enxerga como uma epítone do universo, acreditando que tudo que existe, existe para o consumo da raça humana. E nós não diferimos de nenhuma outra raça que exista no universo.”
Para quem deseja conhecer as obras de Eduardo, elas podem ser conferidas em seu site: https://eduardoregueiracampos.com.br