Criador de personagens que entraram para o imaginário popular, como Nazaré Tedesco (Senhora do Destino) e Jorge Tadeu (Pedra Sobre Pedra), Aguinaldo Silva chegou à televisão no fim dos anos 1970 e escreveu ou foi coautor de novelas de sucesso. Fora da TV Globo desde o começo deste ano, Aguinaldo falou ao Estadão, por e-mail.

Ficou surpreso com a escolha de Fina Estampa para ser reapresentada em horário nobre?

Sim. Afinal, menos de um mês antes, eu tinha deixado de fazer parte do time de novelistas da emissora, por vontade dela. Fiquei feliz.

Por que acha que a história de Fina Estampa fisgou novamente os telespectadores?

Alguns críticos lamentaram a escolha de Fina Estampa. Dizem que a novela é “antiga” ou “datada” e passa longe do modelo das novelas atuais. Este “modelo atual” é aquele que os críticos aprovam. O problema é que as novelas não são feitas para os críticos e, sim, para 50, 60 milhões de telespectadores. E o que esses querem – as audiências comprovam – não são novelas que não parecem novelas, mas, sim, novelões, aquelas que seguem fielmente as regras estritas do melodrama. Nesse sentido, Fina Estampa é, sim, uma novela que vai mexer com os sentimentos do telespectador sempre que for exibida.

Acha que, de alguma maneira, Fina Estampa envelheceu?

Uma novela de televisão tem que ser vista – e julgada – enquanto está sendo exibida. Tanto que os remakes de novelas de sucesso não funcionaram. A Fina Estampa que está no ar não é a original, já que foi reeditada. Com isso, ela perdeu gorduras e agora parece fresca e nova.

Outro dia o senhor fez uma defesa do personagem Crô (Marcelo Serrado). Disse que ele representa o gay afeminado, que precisa ser visto sem preconceito. Algumas situações que envolvem o personagem soam como politicamente incorretas hoje?

Me espanta que, numa época em que cada pessoa pode escolher o próprio sexo – se um homem diz “eu sou mulher”, é oficialmente aceito como tal -, continue havendo um preconceito tão grande contra o assim chamado “gay pintoso”. Graças a Deus, vivemos num tempo em que cada pessoa é o que deseja ser e, portanto, se um gay quer ser pintoso, é um direito dele… O que me interessava nessa dupla Crô e Tereza Cristina (Christiane Torloni) não era ressaltar a sexualidade ou os maneirismos dele, mas, sim, a relação entre dominador e dominado e quem é quem nesta charada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.