BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, publicou em sua conta no Twitter um poema que abre o manifesto de Brenton Tarrant, que em meados de março realizou ataques a tiros em uma mesquita na Nova Zelândia e matou 50 pessoas.

Martins atualizou sua foto de perfil na rede social e publicou a imagem de um ataque de cavalaria. Acima dos cavaleiros, aparece a inscrição “Do not go gentle into that good night”.

No Brasil, o poema citado por Martins em sua conta social, de autoria do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953), foi traduzido por Augusto de Campos como “Não vás tão docilmente nessa noite linda”.

O poema abre o manifesto The Great Replacement (“a grande substituição”), texto publicado por Tarrant na internet em que ele explica os motivos e as influências que o levaram a cometer o massacre nas mesquitas em Christchurch. 

Tarrant transmitiu ao vivo, pelo Facebook, cenas do ataque que ele perpetrou.

Nas suas mais de 70 páginas, o atirador se define como um “homem comum nascido na Austrália em uma família de classe trabalhadora e de baixo salário”.

O título do manifesto é referência ao livro do polemista francês Renaud Camus. Na obra, Camus discorre sobre a “teoria” de que a maioria branca europeia está em curso de substituição por imigrantes não brancos da África do Norte e da África subsaariana, muitos dos quais muçulmanos. 

O atirador se posiciona como um nacionalista branco, contra a diversidade racial, apoiador de Trump e do brexit –mas não do partido de extrema direita francês Frente Nacional– e inspirado, entre outros, pelo atirador da Noruega Anders Breivik, cujos ataques em 2011 vitimaram 77 pessoas. 

O Brasil aparece em uma seção intitulada “Diversidade é Fraqueza”, no qual Terrant diz que os países “diversos” ao redor do mundo são locais de “conflito social, político, religioso e ético”.

O uso do poema por Martins, que despacha a apenas metros do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, foi criticado internamente no Itamaraty.

Na visão de diplomatas consultados pela reportagem, que falaram sob condição de anonimato, o gesto pode ser classificado como no mínimo insensível, uma vez que o massacre na Nova Zelândia é recente e o poema foi associado à tragédia pelo próprio atirador. 

Aos 30 anos, Martins foi diretor da área internacional do PSL antes de ocupar o posto no Palácio do Planalto.

A reportagem entrou em contato com Martins, mas não obteve resposta até a conclusão deste texto.