Já disse que quebrei o pé? Não foi a queda de queixo que contei há uns dias não. Ali foi a mão. Não foi a cabreirice da semana passada, os dias trancados em casa também não. Ali foi a Covid. Entre uma coisa e outra, derrubei o celular no chão. E entre o chão e o celular tinha um pé. O dedo do meio, bem no meinho, amorteceu a queda. O celular tá como novo, mas o dedinho quebrou. Faz mais de 15 dias já. Agora, consertar que é bom, nada. 

Eu voltei no hospital da mão. Peguei o mesmo ortopedista. Mas de novo? Ele disse. Pois então. Fiz o raio X, comprovei a fratura, mas não consegui ficar para aprender a imobilizar com esparadrapo. Explico. Se eu ficasse, cancelaria a agenda inteira de sessões, como fiz no dia da mão, e como tive que fazer no pior dia da Covid. Mas de novo? Diriam os analisandos todos. Voltei correndo (risos) para o consultório e, à noite, obedeci como se deve a um compilado de vídeos ortopédicos no Youtube.

Bem-feita ou incompetente, desde que fiz a primeira imobilização, me sinto meio assim, bamba, ainda quebrada.

Semana passada voltei a correr (mais risos, agora, nervosos). Não é que já estivesse sem dor, mas é que pensei que as costas, o joelho, as pernas, o quadril e a cabeça já não suportariam mais uma semana parados. Ocorre que costas, joelhos – que inclusive ficam nas pernas – e quadril doiam de compensação. E passaram a doer tanto de compensação quanto de esforço descabido. Resultado, me sinto meio assim, bamba, quebrada.

Sábado fui ao primeiro evento presencial da escola. Era a mostra literária. O texto da minha mais nova foi escolhido para a leitura compartilhada. Uma crônica, que coqueiro não dá banana. Coisa linda. Antes da leitura teve aquela socialzinha com os pais. Numa roda de seis, cinco eram membros de casais desfeitos na pandemia. A única que segue casada- e que, tadinha, estava por fora do caos matrimonial pandêmico -, faz um comentário extra romântico destinado ao agora ex-casal Henrique e eu. Me senti, adivinha, meio assim bamba, quebrada.

Ontem fui à feira do livro. Era um dia especial. Pacaembu lotado, comovente de tão bonito. O convite era para as mulheres que escrevem, seríamos todas fotografadas para registro da atividade feminina na literatura. Muitas outras cidades repetiram a fotografia. Aqui, a Folha de São Paulo contou mais de 400 autoras. Entre elas, eu.  Andei o estacionamento do estádio de ponta a ponta, desci e subi os degraus altos da arquibancada, fui a cada um dos estandes. E sabe do que mais, nem lembrei do dedinho. Ontem, mais do que sábado ou semana passada, me senti meio assim bamba, mas de um outro jeito. Pra além do corpo. Enquanto os afetos e os fazeres estiverem em movimento, enquanto a força do grupo for capaz  de impulsionar, eu vou seguir a passos largos, um tropeço, uma dorzinha aqui, outra ali, mas a passos largos. A gente quebra, mas  reconstrói, minha gente. Todo dia. Boa semana, queridos.

 

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