Fala-se muito atualmente sobre estarmos constantemente reavaliando nossos atos, e que devemos levar em conta as avaliações que outros fazem sobre nós, já que isso nos auxiliaria a ver nossos atos e palavras “de fora”, e por isso mesmo, ao considerarmos as repercussões, avaliar com mais clareza alguns comportamentos. Da mesma forma também confiamos muito nas avaliações sobre escolas, empresas, prestadores de serviço, pois elas confirmariam ou refutariam algumas de nossas percepções, permitindo luz sobre alguns detalhes que seriam importantes, porém nem sempre apreendemos numa primeira visão.

No entanto, o envolvimento em autoavaliação geralmente não é um processo tranquilo, e qualquer tipo de organização, com ou sem ajuda de especialistas, não ultrapassa esta fase com serenidade.

Toda autoavaliação ao ser tornada pública pode servir ou desservir os interesses pessoais ou empresariais. As instituições de médio e grande porte que realizam processos de avaliação deparam-se inevitavelmente com as complexidades atinentes a esta prática; começando pelo indispensável juízo da comunidade externa, clientes, fornecedores e a opinião pública. Por mais que considere tratar-se de assunto “entre muros”, assim como nenhum homem é uma ilha, organizações também não são: nenhuma entidade formada por seres humanos estará livre de disputas, tensões entre direção, gerencias e profissionais, causadas em grande parte por interpretações “enviesadas” e talvez reducionistas do empreendimento e de suas finalidades; assim é que o corpo técnico entenderá que a atualização tecnológica é o primeiro item a ser considerado, a área administrativa valorizará as atividades a ela afetas, o modo de gestão e suas peculiaridades; a contabilidade e o setor financeiro lutarão ferozmente pelo equilíbrio orçamentário, a alta direção considerará os objetivos estratégicos embora às vezes não se detenha em como atingi-los. E existe ainda a preocupação individual, o foco na carreira e na sobrevivência, parte do procedimento humano.

Nenhuma atividade grupal, em qualquer setor, deixa de ter seus participantes com algo a esconder ou revelar, e aqueles que conscientemente sabotam qualquer tentativa de implantar processos avaliativos em suas unidades.

Gerir um estabelecimento é tomar decisões nem sempre fáceis, equilibrar lutas pelo poder, fazer ou destruir alianças, implantar projetos e uma série de pequenas atividades que constroem ou destroem a capacidade de atingir objetivos.

Embora toda corporação conte com pessoas de boa fé, que procuram com honestidade compreender o trabalho conjunto e formas de melhorar procedimentos, não é simples escapar aos jogos do poder e aos interesses dos atores nas estruturas laborais. Afinal, estão em jogo as hierarquias, os núcleos de excelência, os julgamentos de valor, os rendimentos individuais, e tudo isso irá com certeza alimentar o debate ideológico, a racionalidade, as classificações contraditórias.

Evidentemente isso atinge também as composições educacionais, que não são desligadas do restante da sociedade, e refletem suas qualidades e mazelas; principalmente em relação aos grandes processos avaliativos, como Enem, Saeb, Pisa e muitos outros, que são tornados públicos e, portanto, interferem diretamente na visão comunitária sobre o processo educacional, permitem um ranqueamento muitas vezes falacioso e desgostam a muitos.

Basta pensar, quando o nível médio do desempenho dos alunos de uma escola é mais baixo que o das concorrentes, mas a dispersão dos resultados for maior, ou seja, ela oferece um ensino menos homogêneo, ou mais atividades comunitárias, mais inclusão familiar, ou menos centralização, para perceber não é fácil esperar consenso entre o resultado formal de suas avaliações e suas respectivas autoavaliações; como o sabem todos os professores, tão difícil quanto avaliar é receber com tranquilidade uma avaliação ou efetuar uma correta autoavaliação.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.