A crença em si mesmo é um sustentáculo emocional valioso, e como quase tudo na vida deve ter equilíbrio. Os dois extremos são perigosos e deletérios: o excesso, que pode redundar em arrogância, sentimento de onipotência e, no limite psicopatia; a falta, que leva à descrença, pessimismo e depressão. Nos dois casos, a pessoa não tem noção realista de si mesma, ou tudo pode ou nada pode; e os fatos costumam provar que essas duas certezas são más conselheiras.

Professores, em particular, sabem que a crença na própria eficiência não traz em si a solução correta de questões matemáticas, ou a elaboração de um bom texto, mas pesquisas na área educacional mostram que esta confiança auxilia na seleção de boas estratégias e reduz a ansiedade, dois fatores essenciais para uma solução robusta dos problemas escolares ou vivenciais.

Em função disso, o interesse em saber como se origina a fé na própria capacidade tem grande importância educacional, dado que esta é uma boa chave para o controle do processo de ensino e aprendizagem, despertar na criança ou no jovem esta potencialidade facilita o trabalho docente, pode produzir um profissional mais competente no futuro, e uma pessoa melhor na convivência com sua comunidade.

Aparentemente, a boa crença em si mesmo é construída a partir de vários fatores: as experiências exitosas que vamos acumulando ao longo da vida, sucessos continuados em tarefas simples acumulam-se e fortalecem o senso de uma possível vitória em eventos mais complexos; o sentimento de dar conta, pequenas conquistas como auxílios domésticos realizados a contento, frases espirituosas elogiadas, reconhecimento de esforços mesmo que ínfimos. Por outro lado, fracassos repetidos, exigências impossíveis de serem atendidas a cada etapa de desenvolvimento, darão um senso mais deficitário de eficácia, um medo que poderá imobilizar. É importante observar que um fracasso eventual dentro de uma série de sucessos terá pouca importância para a positividade de um forte sentimento de capacidade pessoal; e da mesma forma um sucesso eventual numa série de fracassos também não mudará o sentimento negativo em relação à chance de vir a vencer.

Assim, é imprescindível a existência de muitas experiências exitosas na formação do ser humano. Não apenas a escola, mas também familiares, precisam ter sempre presente que cada etapa da vida tem seus desafios e conquistas, solicitando sim a criança, porém sempre dentro de sua faixa etária e possibilidade física e mental, de forma que esta possa acumular mais sucessos que insucessos em sua trajetória.

Uma pesquisa interessante feita da década de 1980 constatou que crianças que podiam assistir vídeo de uma vitória sua, significativa na solução de algum problema, tendiam a ter melhor desempenho nos próximos desafios em relação àquelas que não tiveram seu desempenho filmado, o que sugere que a observação do próprio sucesso incrementa a autoconfiança, ou seja, a percepção de um progresso real de certa forma modela a aquisição de habilidades. Já os fracassos anteriores são fortes indutores de ansiedade, quando estes são associados – principalmente pelos adultos — à sua capacidade, mais que ao esforço ou facilidade/dificuldade da tarefa, ou mesmo ao simples azar.

Embora crianças muito pequenas demonstrem não diferenciar exatamente a capacidade do esforço, assim que desenvolvem a possibilidade de discriminar ambos, consideram sempre a capacidade como mais importante, até porque culturalmente este é um fator mais difundido, associado ao que consideramos inteligência. Atribuir o sucesso à capacidade torna-se assim o reconhecimento da própria inteligência, e pessoas inteligentes estão fadadas ao sucesso… ou assim estabelecemos em nossa sociedade, o que nem sempre é verdadeiro.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.