SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O desenvolvimento da tecnologia de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) tem potencial de trazer mudanças profundas, aumentando a produtividade e diminuindo desigualdades em setores como saúde, cidades, agropecuária e indústria.
O Brasil tem capacidade de acompanhar essa tendência mundial, mas essa expansão recai em questões como a aprovação do Plano Nacional de Internet das Coisas, que visa fomentar o avanço da tecnologia, e, principalmente, a desoneração tributária.
Essas foram algumas das avaliações apresentadas por especialistas presentes no debate que abriu o primeiro seminário Internet das Coisas, nesta quarta-feira (30). O evento, realizado pela Folha de S.Paulo com patrocínio da Samsung, ocorreu no auditório do jornal, em São Paulo. A mediação ficou a cargo da repórter da Folha de S.Paulo Paula Soprana.
É o governo que vai fazer mudar tudo? Não, o governo tem o grande papel de não atrapalhar. Pode fazer algo bom, como faz o BNDES com seus incentivos para projetos de IoT, mas precisamos passar a isenção tributária de sensores, fazer sair o Plano Nacional de Internet das Coisas e regular melhor a privacidade, afirmou Thiago Camargo Lopes, ex-titular da Secretaria de Políticas Digitais do Ministério da Ciência e Comunicações, divisão extinta recentemente pelo governo de Jair Bolsonaro.
A maneira como a taxação é aplicada hoje impede qualquer progresso no setor, segundo Eduardo Levy Cardoso Moreira, presidente-executivo do SindiTelebrasil, Febratel e Telebrasil (sindicato das empresas de telecomunicações). Para ele, a internet das coisas só se desenvolverá no Brasil se houver taxação zero.Hoje incidem sobre chips taxas como a Fistel, ligada à fiscalização, a Condecine, destinada ao incentivo do cinema nacional através do Fundo Setorial do Audiovisual, e a CFRP, que fomenta a radiodifusão pública.
Como exemplo, Levy usou um chip de R$ 1, que hipoteticamente geraria receita bruta de R$ 12 anuais para uma empresa de telecomunicação. Com as taxações, contudo, ao fim do primeiro, a receita líquida seria de cerca de R$ 2,20 negativos e, nos anos seguintes, de aproximadamente R$ 1,50.
Estamos falando de um aplicativo para IoT, que é o futuro, disse o presidente da SindiTelebrasil. Assim não é possível imaginar que internet seja prioritária em um país como o Brasil.
A dificuldade e os custos envolvidos em levar conexão para áreas remotas do país também foi apontada pelos palestrantes como um entrave para o desenvolvimento da tecnologia.Nada adianta ter IoT em áreas que não têm sinal de internet, disse Ricardo Rivera de Sousa Lima, chefe do Departamento de Telecom, TI e Economia Criativa do BNDES. Estamos trabalhando para ver de que maneira conseguimos levar internet a lugares que não têm conectividade adequada.
Áreas de baixa densidade e mais distantes vão ter custo de conectividade mais alta sempre, continuou Lima. Além dos valores maiores de infraestrutura, distorções tributárias também dificultam esse processo. O menor tributo de internet no Brasil é em São Paulo, enquanto Roraima, que é bem mais pobre, é um lugares em que mais se cobra, disse Levy, do SindiTelebrasil.
A expansão dessa cobertura é fundamental, uma vez que, entre os principais ganhos decorrentes da difusão da tecnologia de internet das coisas, está o potencial de diminuir desigualdades sociais e potencializar oportunidades, defende Thiago Camargo Lopes. Além de mudanças em níveis individuais interessantes, há possibilidade de transformação social forte.
Por outro lado, é esperado que, conforme a tecnologia evolui, seus custos também diminuam, segundo Eduardo Conejo, gerente sênior de Inovação da Samsung América Latina. É possível que, no futuro, com o mesmo montante de dinheiro [investido], dê para incluir mais pessoas.
Para os palestrantes, a expectativa com o governo de Jair Bolsonaro em relação ao campo de IoT é positiva. “É um tema que está na cabeça de muita gente. Se houver adecisão de lançar o Plano Nacional de Internet das Coisas ainda nos primeiros 100 dias, ele sai”, disse Thiago Camargo Lopes.