SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP (FOLHAPRESS) – Duas baleias jubarte foram flagradas enquanto nadavam a poucos metros de duas balsas que fazem a travessia entre Ilhabela e São Sebastião, na tarde de sábado (23). Mas não foi um fato isolado: ao longo do dia, foram avistadas ao menos sete baleias no canal de São Sebastião.


A dupla de mamíferos foi vista perto das embarcações por volta das 13h30 e ficou poucos minutos no local, segundo registro do projeto Baleia à Vista, que faz monitoramento desses animais no litoral norte de São Paulo.


O número de baleias avistadas pelo Baleia à Vista neste ano já superou o registrado em toda a temporada de 2018 na região. De acordo com o projeto, entre 27 de maio e este sábado foram vistas 49 jubartes. No ano passado, entre junho e agosto, foram 42.


Na última segunda-feira (17), a travessia Bertioga-Guarujá foi paralisada devido à aproximação de baleias no canal. Segundo a Dersa, responsável pelo sistema de travessia marítima, o serviço ficou parado por “poucos minutos”.


Neste sábado, não houve necessidade de paralisar a operação, de acordo com a Dersa, já que os animais estavam a uma distância segura das embarcações.


Mas isso não está descartado. “Devido ao relato de presença excessiva de baleias na costa norte do litoral paulista, a travessia São Sebastião-Ilhabela pode sofrer interrupção em sua operação a qualquer momento”, diz trecho de comunicado da Dersa.


Além das baleias vistas pelo projeto, outras 151 foram avistadas desde o dia 4 pela ONG Viva Baleias, Golfinhos e Cia, segundo Julio Cardoso, fundador e diretor do Baleia à Vista.


Ele disse que ainda não há informações precisas sobre a razão de as baleias jubarte estarem se aproximando da costa com tanta frequência. Além do aumento da população após a proibição da caça às baleias, ele afirmou acreditar que seja uma mudança de comportamento das gerações mais novas, que não guardam informações sobre riscos registrados por animais que vivenciaram o tempo da caça.


“Tudo ainda é hipótese, mas é certo que o número aumenta a cada ano e temos que adotar medidas para garantir a segurança dos animais e das embarcações”, disse.


Para tentar manter a segurança dos animais e das embarcações, Cardoso discute com órgãos públicos, Marinha e empresas que operam embarcações na região a criação de um sistema de alerta.


“Queremos criar uma rede, um sistema de alerta. Queremos que as embarcações, que possuem rádio, comuniquem a presença dos animais, para que possam ser adotadas medidas de segurança”, disse.


Segundo ele, entre as medidas de segurança estão a redução da velocidade ou até mesmo desengate do motor quando perto dos animais. “Desacelerar a embarcação evita colisões, e o motor desengatado evita estressar o animal com muito barulho, as baleias são muito sensíveis ao som.”


O Baleia à Vista ainda prepara uma campanha para conscientização de moradores, turistas, pescadores e navegantes que frequentam a região. Entre os dias 9 e 17 de julho, representantes do Instituto Baleia Jubarte, referência nacional em monitoramento desses animais, farão palestras e oficinas em Ilhabela.


AUMENTO


Segundo o Instituto Jubarte, a estimativa é que 20 mil baleias utilizem a costa brasileira para reprodução, principalmente entre julho e novembro. A grande concentração dos mamíferos ocorre na região de Abrolhos, litoral sul da Bahia, considerada a principal área de reprodução das baleias jubarte no atlântico sul.


De acordo com Sergio Cipolotti, biólogo coordenador operacional do Instituto Baleia Jubarte, a população cresce, em média, cerca de 10% por ano. Os dados são calculados por meio de censo aéreo -o último foi feito em 2015 e o próximo deve ser realizado em setembro deste ano.


“Com o crescimento populacional, esses animais estão voltando a ocupar as antigas áreas de reprodução, que praticamente é quase toda a costa do Brasil. Mas as baleias jubarte se concentram muito ainda na costa da Bahia e norte do Espírito Santo”, disse o biólogo.


Segundo ele, a grande preocupação da aproximação das baleias na costa da região sudeste é com a prática de pesca de rede e de esportes náuticos.


As redes podem provocar, por exemplo, capturas acidentais, causando danos aos pescadores e lesões nas baleias.


“Com relação aos esportes, estamos fazendo uma campanha muito forte. Orientamos que não se pratique nenhum esporte de remo ao redor dessas baleias, é perigoso. Quando não tem ruído do motor, a baleia pode realmente se aproximar muito e fazer acrobacias que podem ocasionar acidentes graves”, disse Cipolotti.


Mamíferos foram avistados próximos à balsa Julio Cardoso/Projeto Baleia à Vista Mamíferos foram avistados próximos à balsa