Franklin de Freitas

O estoque do Banco de Leite Humano do Hospital de Clínicas (HC) em Curitiba está com apenas 26% de sua capacidade de armazenamento. Com isso, a instituição entrou em alerta e pede por mais doações, para que o leite não acabe nas próximas duas semanas. Dos 10 congeladores que são usados para guardar o leite, sete foram desligados porque estão vazios. Em compensação o consumo aumentou, segundo o hospital. A principal destinação é para bebês que ficam internados na Unidade neonatal de Terapia Intensiva (UTI). No hospital, são 30 leitos e quase sempre todos estão ocupados. O leite materno aumenta a imunidade da criança e tem todos os nutrientes que o bebê precisa para um desenvolvimento saudável.

A nutricionista Anna Carolina Almeida, responsável pelo banco de leite do HC, afirma que o tempo mais frio e a baixa de doações durante o período de férias de julho fazem com que o mês de agosto tenha quedas no número de voluntárias dispostas. Isso ocorre anualmente, porém, em 2019 a redução foi maior que no ano passado. “A gente geralmente associa a escassez do meio do ano e até por conta das baixas temperaturas. Foi um pouco mais significativa (neste ano) do que no ano passado”, revela.

De acordo com a nutricionista, o estoque, que tem capacidade de armazenamento para cerca de 220 litros, está com 60 litros nesta semana. “É suficiente para duas ou três semanas”, afirma. Por isso, é necessário que haja reposição, senão o estoque corre risco de acabar no período. “Na época de maior leite estocado tivemos 185 litros”, conta.

Somente a unidade neonatal de terapia intensiva do HC, que tem prioridade para fornecimento, consome 25 litros por semana.

O cadastro do banco de leito do HC tem hoje 92 mães, mas nem todas doam com frequência. Além disso, a quantidade de doação varia de mulher para mulher. “Mães com bebês novos consegue doar até dois litros. Outras conseguem de 150 mililitros, 200, 400, depende muito, e isso enquanto ela tiver o excedente de leite”, afirma.

Funcionários do banco de leite vão até as casas das mães uma vez por semana para recolher esse leite que ela colheu por conta própria, seguindo as orientações a respeito dos frascos e higiene pessoal. “A gente costuma ressaltar que os bebês filhos de mães que não conseguem amamentar são salvos pelas doadoras, mas é bom para elas também, porque quanto mais ela ordenha, maior será a produção de leite que ela vai ter e o estímulo que vai acabar revertendo para alimentar o próprio filho”, ressalta.

Para doar leite para o banco do Hospital de Clínicas, em Curitiba, o telefone para contato é (41) 3360-1867. “A mãe liga e recebe as orientações iniciais sobre como fazer. Liga, faz um cadastro e já pode colher (o leite). Já quando a mãe faz o primeiro contato, ela precisa ter um primeiro frasco de 50 ml, tem que ser de vidro e com tampa de plástico. Precisa ferver e seguir outras orientações”, explica.

De forma permanente, o Banco de Leite do HC precisa fazer campanha para incentivar a doação do leite materno e de frascos para a sua coleta. O estoque de recipientes de vidro com tampa plástica e de leite têm sido baixos. Em janeiro de 2017, 122 litros de leite estavam em armazenamento. Em junho do mesmo ano, o número aumentou, passando para 194 litros. Contudo, desde o ano passado, o volume de leite em estoque começou a registrar queda. Em janeiro de 2018, eram 98 litros estocados. Hoje, o Banco de Leite conta com, somente, 77 litros armazenados. No mesmo período de agosto de 2018, o estoque era de 170 litros de leite. Na mesma semana de agosto, mas em 2019, há apenas 65 litros. Estoque do início de 2019 era de 230 litros. “No período mais quente as doações aumentam”, lembra.

A situação também é de alerta em outras unidades. No Hospital e Maternidade de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, por exemplo, o estoque é suficiente para os próximos 40 dias. O ideal, conforme o hospital, é que o estoque seja suficiente para seis meses, que é o tempo que o leite pode ficar armazenado. O contato do Hospital e Maternidade é o (41) 3283-5522.

A doadora, além de apresentar excesso de leite, deve ser saudável, não usar medicamentos que impeçam a doação e se dispor a ordenhar e a doar o excedente. A condição é prevista em lei que regulamenta o funcionamento dos Bancos de Leite no Brasil (RDC Nº 171).

Para a doação, são entregues frascos estéreis para a doadora numa primeira visita a domicílio. Posteriormente, a doadora deve seguir as seguintes orientações: lavar os frascos de vidro com tampa plástica e fervê-los por 15 minutos; deixar o frasco e a tampa escorrerem sobre pano limpo até secarem (não secar internamente com o pano, devido ao risco de contaminação do recipiente); não tocar no interior da tampa ou do frasco que, após bem seco, deve ser mantido fechado até sua primeira utilização.

O leite pode permanecer em congelador ou freezer por até 14 dias, até ser conduzido ao Banco de Leite Humano. O conteúdo deve chegar congelado ao seu destino para ser analisado, pasteurizado e submetido a rigoroso controle de qualidade, antes de ser destinado a uma criança.

Por isso, se a doadora pretender levá-lo até o hospital, ela deve colocar os frascos com leite em caixa térmica com gelo reciclável, ou, se preferir, pode entrar em contato com o banco e solicitar que seja feita a coleta em casa, por meio do telefone (41) 3360-1800, para, também, receber mais informações e orientações em relação à doação.

Por que doar leite humano?
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano está presente em todos os estados brasileiros, com mais de 220 bancos de leite humano e 190 postos de coleta, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, a rede consegue suprir apenas 60% da demanda dos recém-nascidos internados em UTIs neonatais do Brasil. Ou seja, 40% dessas crianças não têm acesso ao leite. Portanto, toda ajuda é bem-vinda. Um pote de leite materno doado, por exemplo, é capaz de alimentar dez recém-nascidos internados por dia. Dependendo do peso do bebê, cerca de 1 ml já é o suficiente para nutri-lo cada vez que ele for alimentado. Bebês que estão internados e não podem ser amamentados pelas próprias mães têm a chance de receber os benefícios do leite materno por meio da doação. Com ele, a criança se desenvolve com saúde, tem mais chances de recuperação e fica protegida de infecções, diarreias e alergias.