RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O barítono paulistano Paulo Szot (pronuncia-se shot), cantor lírico brasileiro radicado nos Estados Unidos e um dos nomes mais reconhecido no mundo, agora reforça sua presença no país como o artista residente da Osesp neste ano.


Nos últimos meses, Szot já cumpriu temporada do musical “Evita” na Austrália, fez a opereta “A Viúva Alegre”, de Franz Lehár, em Roma, se apresentou no clube 54 Below –onde antes era o Studio 54–, em Nova York. Agora, vai alternar os programas em São Paulo com três apresentações no festival de Ravinia, perto de Chicago.


Em outubro, volta ao Metropolitan de Nova York para seu quinto espetáculo na casa, dividindo com Plácido Domingo o papel de Sharpless em “Madama Butterfly”.


Capaz de alternar música de câmara, sinfônica, ópera, musicais e cabaré, Szot diz poder transitar entre os 


gêneros “com corpos diferentes, usando a técnica vocal básica”. “Música é física.”


A carreira mundial na ópera foi catapultada pela participação no musical “South Pacific”, de Rodgers e Hammerstein, na Broadway, em 2008, que deu a ele o prêmio Tony. “Meu agente Bruce Zemsky e eu decidimos arriscar. Apesar de opiniões catastrofistas de que seria o fim do prestígio, aconteceu o contrário”, lembra o barítono.


Zemsky, morto há dois anos, foi responsável pela projeção internacional de Szot, que estreou como solista no Brasil em 1997, como Figaro em “O Barbeiro de Sevilha”. O primeiro protagonista no Metropolitan veio em 2010, na montagem de William Kentridge para “O Nariz”, de Shostakovich. “Kovaliov [personagem do conto de Gogol] conseguiu me assombrar, era um encosto, mas um grande desafio”, lembra o cantor.


Com 22 anos de carreira solo, ele diz que a maturidade vocal se alinha à maturidade pessoal. Szot recebe diversas propostas para cantar, mas diz não aceitar tudo. “Hoje quero cantar o que me faz feliz.” 


A colaboração com a Osesp começa com concertos na próxima semana, em programa russo na Sala São Paulo e em Campos do Jordão, no interior paulista. A música russa, aliás, pontua a carreira do barítono, que estudou na Leste Europeu e fez importantes protagonistas em óperas russas.


Um dos programas com a Osesp é o recital, em dezembro, com canções de Claudio Santoro, cujo centenário se comemora neste ano, com o pianista Nahim Marun.


Na semana passada, Szot gravou em um estúdio em São Paulo as três primeiras canções de um projeto desenvolvido com Marun para um álbum duplo dedicado à obra de Santoro. Das 35 peças, 22 são inéditas em disco –a exceção são os conhecidos 13 poemas de Vinicius de Moraes musicados por Santoro.


Essa é também a estreia fonográfica de Szot. No estúdio, o cantor se entrega a uma leitura intensa das canções, secundado pelo piano cirúrgico de Marun. “Mais do que beleza vocal ou fraseado bonito”, diz Marun, “ele tem veia dramática, interpreta cada palavra. Isso vem do trabalho com Eduardo Amir. Os dois têm uma simbiose que vai à essência da música”.


Barítono e ator, Amir é, nas palavras de Szot, seu marido, o “companheiro de vida e de trabalho há 20 anos”. “Dudu tem formação sólida em teatro e música, me deu suporte para crescer na interpretação”, afirma.


Na gravação, um pigarro se intromete e não cansa de atrapalhar. “A voz do cantor é uma incógnita gigante e permanente, porque se trata de um instrumento vivo, sofre com poluição, cheiros, alergias”, diz o cantor.


Para o festival de Ravinia, Szot apresenta, sob regência de Marin Alsop, a “Oitava Sinfonia” de Mahler e peças de Bernstein, inclusive a “Missa”. 


Alsop, pupila do compositor americano, convidou Szot para o papel principal da “Missa”. “Além dos imensos desafios vocais, o cantor carrega o espetáculo, que tem centenas de artistas; um papel sob medida para Szot, com sua versatilidade, humildade e seu calor humano”, diz a regente, que deixa a Osesp neste ano.


PAULO SZOT


Qui. (27) e sex. (28), às 20h30, na Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16); sáb. (29), no Auditório Claudio Santoro, em Campos do Jordão. Ing.: R$ 55 a R$ 230 (SP) e R$ 100 (Campos). www.osesp.art.