SÃO PAULO, SP, E SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Três barragens de um mesmo complexo da mineradora Vale se romperam na manhã desta sexta-feira (25) em Brumadinho, cidade da Grande Belo Horizonte. Os rejeitos atingiram uma área administrativa da empresa, onde havia funcionários, além da comunidade Vila Ferteco. Em nota, a Vale não descarta que pode haver vítimas, mas ainda não há informações sobre mortos. O Corpo de Bombeiros estima 200 desaparecidos.


Segundo Valdir de Castro Oliveira, professor titular da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que vive em Brumadinho, a comunidade rural Vila Ferteco tem cerca de 200 pessoas.


Já a região toda próxima às barragens tem em torno de mil moradores, segundo a empresária mineira Natália Farina, 30. Ela, que estava trabalhando no centro de Brumadinho no momento do incidente, disse que não houve alerta antes do rompimento por lá, e que a lama continua descendo, enquanto a população busca abrigo em partes altas da cidade.


O biólogo Luiz Guilherme Fraga e Silva, 27, se salvou “por uns 30 segundos” de ser levado pelos rejeitos. Mineiro de Belo Horizonte, ele fazia um trabalho de campo na cidade, tirando fotos da comunidade, quando viu um tsunami de lama vindo em direção à ponte em que estava.


“Saiu varrendo tudo e eu fui correndo para um trevo próximo. Vi todo mundo saindo gritando das casas e a lama levando os fios de postes de luz, tudo caindo”, conta Luiz Guilherme. “Até agora não caiu a ficha, nem sei como estou dirigindo.”


O Instituto Inhotim, um dos maiores centros de arte ao ar livre da América Latina e localizado no município, foi esvaziado por medida de segurança por causa do rompimento e não abrirá nem no sábado nem no domingo.


O rompimento foi na região do córrego do Feijão, na altura do km 50 da rodovia MG-040. As barragens tinham volume de 12,7 milhão de m³ de rejeito de mineração. A de Mariana, que se rompeu há três anos, tinha 50 milhões de m³ de rejeitos.


Por volta das 15h30, dois feridos acidente deram entrada no hospital de pronto socorro João 23, em Belo Horizonte. Pelas primeiras informações, são duas mulheres de 15 e 22 anos. As vítimas chegaram ao hospital resgatadas pelo helicóptero do corpo de bombeiros. Estão neste momento no setor de politraumatizados. Até as 16h30, outros dois feridos chegaram ao local.


Moradores de cidades próximas, como Betim, estão sendo orientados a deixar bairros que ficam perto do rio.


A Copasa, companhia de abastecimento do estado, informou que, caso seja necessário, a região atendida pelo sistema será atendida por outras represas.


A empresa afirma ainda que o abastecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte não será prejudicado.


A Vale informou que ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens. De acordo com a site da companhia, a Barragem VI – córrego do Feijão foi construída em 1991.


De acordo com o governo de Minas Gerais, uma força-tarefa do estado já está no local do rompimento, para acompanhar e tomar as primeiras medidas.


Em rede social, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que lamenta o ocorrido. “Determinei o deslocamento dos Ministros do Desenvolvimento Regional e Minas e Energia, bem como nosso Secretario Nacional de Defesa Civil para a Região”, afirmou. “Nossa maior preocupação neste momento é atender eventuais vítimas desta grave tragédia.”


Os recibos de ações da Vale negociados na Bolsa de Nova York caem perto de 8% nesta tarde, reflexo do rompimento das barragens em Brumadinho. No Brasil, a Bolsa está fechada pelo feriado de aniversário de São Paulo.


TRAGÉDIA DE MARIANA (MG)


Há três anos, em Bento Rodrigues, vilarejo de Mariana (MG), a barragem de Fundão, da mineradora Samarco se rompeu causando a maior catástrofe ambiental do país. A empresa pertence também à Vale, além da BHP Billiton.


​O acidente em 5 de novembro de 2015 deixou 19 mortos e dezenas de desabrigados. A lama com rejeito de minério se espalhou por 650 km. O processo criminal, no entanto, ainda se arrasta sem decisão.


Na estimativa da Fundação Renova, criada pelas mineradoras para fazer a recuperação social e ambiental após o desastre, a construção do novo Bento Rodrigues deve demorar pelo menos 22 meses.


Em paralelo, a Samarco já tenta obter nova licença operacional e resolver problemas estruturais internos, além de encontrar soluções de segurança para os rejeitos, a fim de voltar a minerar.