Um novo estudo descobriu que uma molécula produzida pelo metabolismo humano e presente na urina pode ser usada como marcador para identificar a presença e a agressividade do câncer de próstata.

A descoberta desse uso potencial da molécula, conhecida como sarcosina, foi feita nos Estados Unidos e é destaque na edição desta quinta-feira (12/2) da revista Nature.

“Biomarcadores atuais para detecção da progressão do câncer de próstata são mais imprecisos do que gostaríamos. Por conta disso, é de grande interesse a descoberta de um indicador preciso. A sarcosina e outros metabolitos podem se mostrar excelentes indicadores para a progressão da doença”, disse Sudhir Srivastava, chefe do Grupo de Pesquisa em Biomarcadores do Câncer do Instituto Nacional do Câncer, um dos autores do estudo.

A sarcosina é resultante da hidrólise da creatina ou da degradação biológica da colina. Metabolitos são compostos intermediários resultantes das reações enzimáticas do metabolismo.

Os pesquisadores identificaram dez metabolitos que se mostram mais abundantes nas células da próstata à medida que o câncer progride. Uma dessas moléculas, a sarcosina, ajuda as células cancerosas a invadir tecidos adjacentes.

Conforme o câncer se desenvolve, os pesquisadores observaram que os níveis de sarcosina aumentam tanto nas células tumorais como nas amostras de urina, o que sugere que medições desse metabolito podem ajudar na criação de métodos diagnósticos não invasivos para a doença.

Segundo os cientistas, a descoberta abre também a possibilidade de desenvolver medicamentos que possam inibir a progressão do câncer de próstata por meio da manipulação dos caminhos e da ação da sarcosina.

Sabe-se que as células passam por mudanças complexas à medida que o câncer se desenvolve e se torna metastático. O novo estudo partiu do princípio de que os metabolitos poderiam oferecer um bom retrato dessas alterações moleculares.

Os pesquisadores usaram espectrometria de massa – que identifica substâncias químicas com base no tamanho e na carga elétrica de seus componentes – para comparar os níveis de 1.126 metabolitos diferentes encontrados em tecidos saudáveis da próstata, em tumores localizados e em casos de câncer com metástase.

Do total, verificaram que 60 metabolitos estavam presentes em células tumorais mas não em benignas. Desses, dez apresentaram níveis que se elevaram drasticamente durante a progressão da doença.

“Trata-se de uma prova de que podemos identicar metabolitos, ou painéis de metabolitos, que podem estar relacionados com a agressividade do câncer de próstata”, disse Arul Chinnaiyan, outro autor do estudo.

Os cientistas direcionaram o estudo para um dos metabolitos, a sarcosina, por essa ter apresentado níveis elevados em tumores localizados e níveis ainda maiores em situações de metástase. Em seguida, confirmaram os aumentos em uma nova série de amostras de tecido da próstata e verificaram que havia mais sarcosina na urina dos pacientes com a doença do que em indivíduos saudáveis.

O grupo voltou a atenção a testes laboratoriais para ver como a sarcosina afetava o comportamento de células in vitro. Ao adicionar o metabolito a células da próstata e ao manipular os caminhos bioquímicos de modo a produzir ainda mais a molécula, os pesquisadores observaram que as células benignas se tornaram cancerosas e invasivas. Ao bloquearem a produção de sarcosina, a invasão foi interrompida.

Apesar do sucesso no trabalho, os pesquisadores alertam que os resultados obtidos in vitro precisam ser agora confirmados em modelos animais, que será a próxima fase do estudo.

O artigo Metabolomic profiles delineate potential role for sarcosine in prostate cancer progression, de Arun Sreekumar e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.