SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou acima dos 100 mil nesta quarta-feira (19) pela primeira vez na história, uma marca simbólica esperada há meses pelo mercado financeiro.


O recorde representa um cenário de otimismo de investidores locais com as reformas, especialmente a da Previdência, e certeza de que um novo ciclo de redução da taxa Selic pelo Banco Central está próximo.


Em março, o Ibovespa, principal índice acionário do país, chegou a ser negociado acima desse patamar por dois pregões, mas o nível foi perdido no fechamento. 


O índice subiu 0,90%, a 100.303 pontos nesta quarta. O volume financeiro foi de R$ 15,458 bilhões, que pode ser considerado elevado para uma véspera de feriado. 


A Bolsa entrou em uma trajetória de alta desde a vitória do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em outubro do ano passado, valorização que se acelerou desde a posse, em 1º de janeiro. No ano, o Ibovespa acumula ganho de 14%.


Simbólica, a marca esconde números não tão animadores. O Ibovespa levou 12 anos para dobrar de tamanho. A primeira vez que atingiu os 50 mil pontos foi em 2007. No mesmo período, o CDI, que remunera investimentos em renda fixa, rendeu mais de 200%.


Além disso, a Bolsa ainda está distante da máxima histórica corrigida pela inflação. Para bater o recorde de 2008, quando bateu 73.438 pontos, precisaria estar valendo mais de 130 mil pontos.


O ânimo dos investidores desta quarta foi impulsionado pela divulgação da ata do Fed (banco central americano), que optou por manter a taxa básica de juros entre 2,50% e 2,25% ao ano, com indicação de que deve cortar o juro na próxima reunião.


A decisão, no entanto, não foi unânime. James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, votou por um corte de 0,25% na taxa. O anúncio veio de acordo com a expectativa de investidores, que aguardam cortes neste ano.


O parecer do banco central americano fortalece a expectativa de queda da taxa Selic. Nesta quarta, às 18h, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulga a decisão sobre manter ou altarar a taxa básica de juros brasileira.


Desde que bateu recorde, a Bolsa refletiu a desconfiança de investidores com o governo de Jair Bolsonaro (PSL). Havia o questionamento de sua capacidade de aprovar reformas, sendo a crucial a da Previdência. No pior momento do ano, em maio, chegou a perder os 90 mil pontos. Ficou, porém, na maior parte do tempo orbitando ao redor dos 95 mil pontos. 


Já a onda de otimismo recente é explicada por analistas por vitórias do governo no Congresso.


O mercado decidiu ignorar o ruído causado pela divulgação de mensagens atribuídas ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e ao coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol. Também não comoveu investidores a demissão do presidente do BNDES, Joaquim Levy.


Em junho, uma negociação do executivo com parlamentares liberou verbas para Educação, condição para que o Congresso aprovasse recursos extras ao governo. Foi um sinal concreto de alguma disposição do governo Bolsonaro a negociar com o Poder Legislativo.


Isso se soma ao compromisso do Congresso, em especial, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em aprovar a reforma da Previdência.


Na quinta-feira (13), o relator do projeto na comissão especial, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), apresentou o seu parecer com uma economia prevista de R$ 1,13 trilhão em dez anos. O valor supera as expectativas do mercado, que esperava um projeto entre R$ 700 bilhões e 800 bilhões.


Apesar de fazer concessões em pontos polêmicos para conquistar apoio na Câmara, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) manteve em seu relatório na comissão especial o eixo central da reforma da Previdência apresentada pelo governo Jair Bolsonaro.


Pilares como a idade mínima para se aposentar, fórmula de cálculo para obtenção de benefício e uma transição em dez anos, mas com variadas regras sem atingir um grande número de trabalhadores, estão preservados.


Isso tem sido suficiente para animar o mercado, apesar de um primeiro sinal de que estados e municípios ficarão de fora da reforma.


Não foi a única notícia positiva a animar investidores: Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e Petrobras fecharam um acordo para que a estatal venda refinarias, decisão que se soma ao aval do STF (Supremo Tribunal Federal) para a venda de subsidiárias de estatais mesmo sem apoio do Congresso.


A decisão é importante para o projeto de desestatização do governo Bolsonaro.


Ainda que investidores preguem o cenário doméstico como motivo para a valorização do Ibovespa, o ambiente externo tem ajudado o país.


As Bolsas estrangeiras se firmaram no positivo após o acordo fechado entre Estados Unidos e México e expectativa de entendimento entre os americanos e chineses.


À espera do fim da guerra comercial e de um corte de juros, os índices americanos se aproximam de seus recordes históricos. 


Neste cenário, as moedas emergentes têm se valorizado ante o dólar, a exemplo do que ocorre com o real.


A moeda americana fechou em queda de 0,25%, a R$ 3,8510.