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DAVOS, SUÍÇA (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro cancelou uma entrevista coletiva que concederia a jornalistas em Davos, no Fórum Econômico Mundial, 40 minutos antes de ela ser realizada.

A equipe do Fórum foi pega de surpresa. Bolsonaro se reuniu com o presidente da Suíça, Ueli Mauer, e com o ex-premiê britânico Tony Blair após almoçar com investidores.

Em seguida, porém, ele tomou o caminho de seu hotel em vez de se dirigir ao centro de imprensa, onde faria um pronunciamento seguido de entrevista coletiva com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça).

O assessor da Presidência Tiago Pereira Gonçalves disse a repórteres que aguardavam o presidente que o cancelamento da entrevista se deu devido à “abordagem antiprofissional da imprensa”.

Depois de a informação ser publicada, a comitiva mudou a versão duas vezes: primeiro, uma assessora e o ministro Augusto Heleno (GSI) afirmaram que o presidente quis se poupar de uma agenda carregada. Mas os demais compromissos foram mantidos. Passada uma hora, o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) afirmou que o presidente retornara ao hotel porque precisara trocar a bolsa de colostomia que usa.

Repórteres estrangeiros ficaram estupefatos com o cancelamento, comunicado oficialmente pela organização do Fórum 17 minutos após o horário da coletiva.

A organização não ofereceu motivos para o cancelamento e pediu aos jornalistas que perguntassem à delegação brasileira – a equipe do Fórum levou quase uma hora para entender o que houve.

A assessoria de comunicação do presidente tentara organizar uma declaração antes do encontro com o premiê italiano, Giuseppe Conte, mas o brasileiro se recusou, alegando falta de tempo.

É incomum que um chefe de Estado não dê nenhuma entrevista coletiva em Davos.

No fim da tarde, o assessor que atribuiu o cancelamento do encontro da comitiva com a imprensa à suposta hostilidade dos repórteres veio cobrar da Folha de S.Paulo explicações pela divulgação da informação.

Exaltado, ele abordou a reportagem ao lado do bar do lobby do hotel em que a delegação está hospedada. No fim da altercação, tocou levemente o ombro do jornalista Lucas Neves, mas não fez ameaças nem o intimidou.

Foi conduzido para fora do ambiente por outros repórteres que estavam ali e por funcionários do estabelecimento.

Em visitas ao Fórum, os presidentes Fernando Henrique Cardoso (em 1998) e Dilma Rousseff (2014) não deram entrevista coletiva. Em 2007, Lula participou de uma coletiva. Em 2018, Michel Temer falou com jornalistas na entrada de seu hotel.