DAVOS, SUÍÇA, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta-feira (24), mostrou otimismo com os últimos desdobramentos na Venezuela e a decisão de Brasil, Estados Unidos e outros 12 países reconhecerem Juan Guaidó como presidente interino.
“Venezuela está indo bem”, disse ele em Davos, ao sair de um almoço com chefes de organismos multilaterais e de outros governos oferecido pelo Fórum Econômico Mundial para tratar de globalização.
O Brasil está acompanhando com atenção a evolução da situação, especialmente o comportamento dos militares, disse um integrante do governo à reportagem. Segundo essa pessoa, as próximas horas serão cruciais para definir o encaminhamento da situação.
Na manhã desta quinta, a União Europeia pediu eleições livres no país, enquanto a Rússia advertiu os países que reconheceram o governo interino que pode haver um banho de sangue caso falte comedimento.
Em Brasília, o presidente interino, Hamilton Mourão (PRTB), defendeu a saída de Maduro: “Uma solução é o Maduro ir embora. Embarca lá com o bandão dele para algum país que o receba. Pronto, segue o baile e a Venezuela volta a tentar se organizar democraticamente.”
O governo brasileiro tem dificuldade para avaliar a posição dos militares venezuelanos, já que nos últimos anos a cooperação passou de pouca para nenhuma entre as Forças Armadas dos dois países. Há a percepção, porém, de que existem rachaduras na base de apoio a Nicolás Maduro.
O Brasil também espera outras reações internacionais, mas encara como lastro os protestos populares.
Os próximos passos do governo estão sendo calibrados.Questionado pelo jornal americano The Washington Post, Bolsonaro negou que vá “embarcar o Brasil em uma intervenção militar”. “Não temos histórico de buscar intervenção militar para solucionar problemas”, afirmou.
A ala militar também é contra o envio de tropas. Mas essa não é uma posição consensual de todo o governo nem de todos os conselheiros do presidente, apurou a reportagem.
Na noite de quarta (23), quando anunciaram a decisão de reconhecer Guaidó, Bolsonaro, o colombiano Iván Duque, a vice-presidente peruana Mercedes Aráoz e a chanceler canadense, Chrystia Freeland, prometeram mais detalhes dos próximos passos no comunicado do Grupo de Lima, o que não ocorreu – o comunicado é sucinto.
Também o presidente do Equador, Lenín Moreno, participou da reunião de quarta, reconheceu Guaidó, mas preferiu não participar da declaração conjunta nem aparecer nas imagens do momento.
Ambas as coisas são indícios de que, embora eles concordem que Maduro precisa deixar o poder, não há unanimidade sobre que passos tomar.
O próprio Guaidó, um deputado de 35 anos ligado ao partido Vontade Popular, considerado radical por muitos analistas, não é unanimidade entre a fragmentada oposição venezuelana. O governo brasileiro não está 100% convicto de suas capacidades e intenções, mas no momento o avalia como alternativa melhor que Maduro até a condução de novas eleições. Por isso também é importante observar o comportamento dos militares venezuelanos e sua adesão.
Essas dúvidas devem ser sanadas nas próximas horas ou no máximo dias, disse Ricardo Hausmann, que dirige na Universidade Harvard o Centro para Desenvolvimento Internacional e tem sido um crítico proeminente do regime de sua Venezuela natal.
Para ele, que acompanhou a decisão de reconhecer Guaidó, “a determinante será se os militares ouviram os protestos nas ruas ou se se aferrarão ao regime”.