Neste ano, o grande destaque esportivo será a Copa do Mundo, a ser disputada na Rússia entre os dias 14 de junho e 15 de julho. Como não poderia ser diferente, a nossa seleção brasileira se credenciou mais uma vez na competição, e agora parece até que um pouco melhor do que da edição passada, em 2014, quando foi atropelada pela Alemanha na semifinal, naquele fatídico 7 a 1. E o que nos faz ter essa sensação de que estamos melhores?

Três são os motivos. O primeiro é o fato de nossos craques que jogaram a Copa passada estarem mais velhos e mais experientes. Vale ressaltar que experiência é algo que só se percebe o valor quando se tem. Nessa nova condição, teoricamente estão mais aptos a suportar a pressão, mais maduros, com menos medo.

Outro motivo que contribui para essa sensação diz respeito ao local onde a competição será realizada. Não será aqui, como foi em 2014. Poderia representar um ponto negativo, mas, para muitos jogadores, isso auxilia no alívio do estresse e da pressão existente quando se joga em casa.

Há um terceiro fator, e esse merece toda a nossa atenção. Dessa vez, temos um técnico que também entende da parte técnica, como eram os anteriores, mas mais do que eles, entende muito bem de pessoas. Esse entendimento faz total diferença.

Em momentos decisivos, principalmente quando se fala de atenção tática, de habilidades de precisão e de desempenho de capacidades no limite máximo, como exige esse tipo de competição curta como é a Copa do Mundo, ter o emocional apto para realizar, cumprir e fazer representa o grande diferencial.

Sem dúvidas, em termos de qualidade técnica, seleções montadas com os 60 ou 70 melhores jogadores brasileiros da atualidade teriam totais condições de ganhar a Copa. Mas, em termos de preparação emocional, liga-se o sinal de alerta. Nossos 11 melhores podem ter dificuldades. A falta desse tipo de preparo pode interferir.

Já faz alguns anos que equipes europeias de ponta realizam um trabalho de treinamento emocional com seus craques desde a infância. No Brasil e, em geral, na América do Sul, algumas equipes contam com a atuação de psicóloga acompanhando o desenvolvimento. São, entretanto, duas coisas absolutamente diferentes. Treinar o emocional é algo muito mais complexo, que demanda tempo, regularidade e muita dedicação.

Quando se entende de verdade a capacidade de nossa mente, fica muito claro como é possível mudar o desempenho de um atleta, o fazendo aperfeiçoar ainda mais sua performance. É uma pena que aqui no Brasil esse trabalho é muito raro de ser observado.

Tite, o técnico da nossa seleção, sabe o poder que a mente exerce no desempenho de cada um de seus comandados. Isso nos faz ter a sensação, então, de que chegaremos melhor preparados para a competição.

De fato, é um ponto em nosso favor. Mas, vale dizer, que ainda sob esse aspecto, há um grande abismo que separa a preparação de nossos atletas para a preparação de atletas principalmente das seleções europeias.

Somos mais de 200 milhões de brasileiros na torcida para que nossos atletas se sobressaiam com suas qualidades e habilidades. Contudo, é preciso dizer que a diferença em relação aos outros seria ainda maior se a visão sobre o atleta enquanto pessoa fosse ainda mais cuidada e planejada. Faria o país evoluir em termos profissionais, não só no futebol, como no esporte de modo geral.

 

Cristiano Parente é professor e coach de educação física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso internacional promovido pela Life Fitness