Gabriel Marchi

O Brasil terá o primeiro empreendimento multirresidencial do país a zerar as emissões de gases do efeito estufa relacionadas à sua fase de construção. Num momento em que nações do mundo inteiro se mobilizam no combate às mudanças climáticas, as parceiras Altma, HIEX e RAC Engenharia anunciam os resultados dos estudos e o plano para compensar 100% das 2.640 toneladas de CO2 emitidas na obra do Árten, edifício residencial lançado em Curitiba. A mitigação do impacto ambiental será feita por meio de investimentos para a manutenção dos estoques de carbono presentes na Reserva Natural das Águas, de propriedade da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação (SPVS), localizada em Antonina, no Litoral norte do Paraná, onde fica o maior remanescente contínuo do bioma Mata Atlântica, a Grande Reserva Mata Atlântica.

O cálculo das emissões produzidas pelo empreendimento foi obtido pela metodologia mais confiável disponível no mundo para medir o footprint, ou seja, o impacto ambiental, de obras da construção civil. Uma consultoria internacional especializada no mercado de edificações e infraestrutura foi contratada para realizar uma Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do projeto. A partir desse tipo de estudo, é possível definir de forma precisa qual é a melhor estratégia para compensar e equilibrar o nível de emissões de gases.

No caso do Árten, as 2,6 mil toneladas de CO2 calculadas pelo estudo correspondem às emissões produzidas desde a extração da matéria prima usada na obra, passando pelo transporte desses materiais, até os últimos acabamentos instalados no edifício. Para alcançar o objetivo, a proposta de compensação prevê a proteção, pela empresa, de 5 hectares ou 50.000 metros quadrados de floresta.

Segundo especialistas, metade das emissões de uma obra costuma ser gerada na fase da construção e a outra metade, ao longo do tempo de uso da edificação. Mas a avaliação do impacto ambiental da primeira ainda é incomum no Brasil. A maioria dos empreendimentos procura compensar o operacional, ou seja, a segunda metade. Dessa forma, o impacto da construção gera um passivo que ninguém assume. O pioneirismo do Árten reside no fato de investir no cálculo das emissões de uma fase da obra que não costuma ser compensada pela indústria da construção civil. Ao realizar essa compensação, por meio de uma ação inovadora em parceria com a SPVS, o projeto promove uma ação ambiental mais relevante e resulta em valor agregado ao imóvel do ponto de vista ambiental e social. A conservação de Florestas Nativas para manutenção dos estoques de carbono também contribui para conservar outros serviços ecossistêmicos prestados por esses ambientes, essenciais a toda sociedade.

O diretor de desenvolvimento imobiliário da Altma Incorporadora, engenheiro civil Gabriel Falavina, diz que não só os consumidores têm aderido aos produtos que investem em sustentabilidade, como também os players do setor se inspiram em práticas ambientalmente inovadoras. “Sem dúvida, o sucesso do Árten vai servir como diretriz para muitas outras construtoras e incorporadoras lançarem produtos que também sejam ambientalmente conscientes”, diz Falavina. “O mercado imobiliário tem alto impacto ambiental e, por isso, práticas conscientes de redução e compensação de danos no nosso setor serão fundamentais para o futuro do planeta.”

Recomendações
Além de calcular a quantidade das emissões da fase de construção, a ACV propõe uma série de medidas que podem ajudar a reduzir ainda mais o impacto ambiental da edificação. Uma delas é optar pela instalação de equipamentos de ar condicionado que utilizem como fluido refrigerante o chamado gás R-32, que é menos agressivo ao meio ambiente do que o R-410, produto mais comum hoje no mercado. Como essa deverá ser uma decisão dos donos do imóvel, a recomendação será incluída no Manual do Proprietário do Árten.

A responsável pelo projeto Carbono Zero do Árten na RAC Engenharia, Júlia Berticelli Basso, diz que o estudo e o processo de compensação inauguram uma prática que deve se estender para os novos empreendimentos do Grupo RAC. “Sempre tivemos o olhar voltado para a sustentabilidade, a inovação e o impacto social, o que nos garantiu várias obras certificadas”, diz Basso. “Mas sentíamos necessidade de uma metodologia que nos permitisse quantificar o impacto e indicar de que forma poderíamos atenuá-lo. O projeto Carbono Zero da construção do Árten é o case pioneiro que nos permite aliar práticas inovadoras ao nosso propósito.”

Uma vez calculado o volume de gases de efeito estufa que impactam o ambiente, as empresas que contrataram a ACV passaram a procurar alternativas para a realização do plano de compensação. Basso explica que a prioridade era investir em um projeto que ficasse no Paraná, de preferência perto de Curitiba, onde o edifício está sendo construído. Embora a compra de créditos de carbono fosse uma das possibilidades, os parceiros do empreendimento optaram pela metodologia oferecida pela SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), que trata-se de uma ação voluntária de compensação de emissões via um formato de Pagamento por Serviços Ecossistêmicos, que garante a manutenção de florestas nativas. A organização é reconhecida pelo trabalho de conservação da natureza no estado, por meio da proteção de áreas nativas, ações de educação ambiental e desenvolvimento de modelos para o uso racional dos recursos naturais.

O gestor executivo da Hiex Empreendimentos, Lucas Poletto, diz que o projeto Carbono Zero da construção do Árten eleva a preocupação do Grupo RAC com sustentabilidade a um novo patamar. Ele explica que todas as obras da empresa aplicam ações para reduzir o impacto gerado no meio ambiente e na sociedade. “Neste novo empreendimento, resolvemos ir mais longe. Além de agregar valores como a geração de energia limpa e o reuso de águas pluviais, estamos fazendo a compensação de 100% do carbono gerado pela construção do empreendimento”, afirma Poletto. “Com isso esperamos contribuir para o atingimento das metas brasileiras e globais de redução de emissões, ajudando a combater as mudanças climáticas.”

Sobre a ACV
A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de Edificação e Infraestrutura considera todos os impactos durante o ciclo de vida do projeto, da extração dos materiais, transporte, construção, operação, manutenção e reuso até o fim de vida. O software que calcula as emissões de gases de efeito estufa e as análises seguem as normas internacionais ISO 14044 e EN15978.

Sobre a Reserva Natural das Águas/SPVS
A Reserva Natural das Águas, situada no município de Antonina, litoral norte do Paraná, fica a cerca de 85 quilômetros de Curitiba. Ela faz parte de uma área de 19 mil hectares de vegetação nativa, gerida como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), localizados nos municípios de Antonina e Guaraqueçaba.
As Reservas Naturais das Águas, Guaricica e Papagaio-de-cara-roxa estão dentro da Grande Reserva Mata Atlântica, maior remanescente contínuo desse bioma. Todas elas são mantidas pela SPVS.

A metodologia da SPVS é uma ferramenta técnica e robusta que oferece estratégias de compensação de emissões alinhadas à manutenção da biodiversidade presente nas Florestas Nativas antigas, garantindo os estoques de carbono presentes nesses ambientes e uma série de outros serviços ecossistêmicos, benefícios diretos e indiretos que provêm de forma gratuita da natureza. Atende aos procedimentos do “GHG Protocol” para inventário de emissões e um amplo estudo feito em conjunto com Embrapa Florestas e The Nature Conservancy, para cálculo de estoque de carbono presentes no bioma Mata Atlântica.

Sobre o Árten
O residencial de alto padrão Árten é um empreendimento que reúne conceitos de Arte, Design, Tecnologia e Sustentabilidade. O prédio está em construção na Rua Dias da Rocha Filho, 239 (entre as ruas José de Alencar e Almirante Tamandaré), entre os bairros Alto da XV, Juvevê e Cabral, em Curitiba

Com uma extensa relação de itens de sustentabilidade, o projeto do Árten reverencia a inteligência construtiva para a redução de impacto ambiental e ampliação do coeficiente de aproveitamento dos espaços. A obra adota o conceito TETRIS de construção, que garante máxima área construída útil, com menos corredores. Também estão entre os diferenciais o design biofílico, que valoriza o verde e otimiza a entrada da luz natural nos ambientes de uso compartilhado e unidades; a disposição inteligente de janelas para permitir ventilação cruzada nas unidades duplex; e esquadrias termoacústicas como parte das soluções que garantem conforto térmico e acústico.

Sobre mudanças climáticas
Em 2015, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21), 195 países e a União Europeia assinaram o Acordo de Paris, compromisso que tem como meta manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C. O índice mais prudente seria o de 1,5°C, em comparação aos níveis pré-industriais.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os gases de efeito estufa precisam ser reduzidos pela metade. O Brasil assumiu como objetivo cortar as emissões em 37% até 2025, com o indicativo de redução de 43% até 2030 – ambos em comparação aos níveis de 2005.

Qualquer aumento de temperatura próximo a 2,7°C representaria danos irreversíveis para a humanidade e para muitas das espécies do planeta. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mesmo um aumento de 2°C teria um grande impacto sobre a alimentação, segurança e saúde humana. Assim, ações ambientais ligadas prioritariamente à conservação da biodiversidade são fundamentais para a mitigação das mudanças climáticas.

Sobre a SPVS
Desde 1984, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) realiza ações voltadas à proteção do patrimônio natural no sul do país. É hoje considerada uma das mais representativas organizações especializadas no tema da conservação da biodiversidade no Brasil com foco no bioma Mata Atlântica, e suas atividades apresentam grande afinidade com a inovação e busca de atendimento a prioridades no campo da conservação.