Reprodução Google Maps

A direção da BRF, uma das maiores empresas brasileiras de alimentos, comunicou aos funcionários da planta de Carambeí, na região do Campos Gerais a 135 quilômetros de Curitiba, que pretende suspender a produção por 60 dias, a partir de junho. A empresa justifica excesso de estoques e baixa demanda.

A suspensão da produção pode chegar a até cinco meses, período máximo previsto em lei para que os funcionários permaneçam em regime de Lay Off (que é suspensão temporária do contrato de trabalho), quando receberão uma bolsa qualificação pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador.

O secretário do sindicato dos trabalhadores, Wagner do Nascimento Rodrigues, afirma que a suspensão está relacionada à política externa do governo Jair Bolsonaro, que se aproximou de Isreal, quando anunciou interesse em abrir um escritório de representação comercial em Jerusalém. Em Carambeí, 90% da produção eram vendidos para países de maioria da população muçulmana, com o chamado abate Halal, que segue preceitos muçulmanos. A empresa não respondeu à reportagem o questionamento relacionado a essa motivação.

Havia expectativa de que após o Ramadan, em maio, como em todos os anos, as exportações para países árabes aumentassem, o que não ocorreu. Em 2019, o Ramadan vai de 6 de maio a 4 de junho.

“A unidade de Carambeí, no Paraná, como a de Francisco Beltrão e Dois Vizinhos, tem uma peculiaridade que é o abate Halal. É uma exigência para a as empresas do setor frigorífico que exportam para países de maioria muçulmana. A linha de produção tem que ser em direção a Meca, quem faz a sangria tem que ser de uma religião monoteísta O que nos causa preocupação e não acreditamos que seja uma coinscidência, é que desde o momento que houve uma mudança no governo federal houve uma aproximação também com Israel, em um primeiro momento falando em mudança de Embaixada (de Tel Aviv) para Jerusalem, e em um segundo momento abrindo um escretório em Jerusalem, terra sagrada para três grandes religiões, isso causou um mal estar na comunidade muçulmana”, deduz o secretário do sindicato dos trabalhadores, Wagner do Nascimento Rodrigues. 

A planta de Carambeí conta com 1,5 mil funcionários. Desses, 1,2 mil devem ser dispensados a partir de junho.

O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de Carambeí conseguiu com a empresa um acordo para que o curso de capacitação oferecido ocorra na cidade de residência de cada trabalhador, na maioria de Ponta Grossa ou Carambeí; além de transporte gratuito, alimentação durante o curso, manutenção do vale em  R$ 184, e inclusão de aposentados da ativa no programa.

Também faz parte do acordo uma indenização em caso de demissão posterior. Cada trabalhador eventualmente demitido deverá receber cinco vezes o piso da categoria, caso a BRF não o chame de volta ao fim dos cinco meses.

RESPOSTA BRF

Em nota, a BRF afirmou que a decisão de suspensão da produção na unidade reforça a estratégia já anunciada de manter os estoques em níveis adequados para a operação da companhia, ao mesmo tempo em que priorizará gestão da oferta para assegurar o equilíbrio do sistema produtivo. A empresa não respondeu ao questionamento da reportagem sobre uma redução de demanda de países de maioria da população muçulmana.

A BRF afirma que a demanda atendida atualmente pela fábrica de Carambeí poderá ser integralmente garantida por outras unidades da BRF, sem impacto no atendimento a mercados e clientes.

A companhia ressalta que todos os termos contratuais vigentes serão honrados junto aos atuais produtores da região, que estão sendo contatados desde o dia 3 de abril para tratar dos próximos passos e sanar eventuais dúvidas.