Franklin de Freitas – “Fernanda e Carolina

A Praça Maria Bergamin Andretta, localizada no bairro Água Verde, ganhou vida nova no último final de semana. É que um módulo policial no cruzamento da Rua Bento Viana com a Avenida Água Verde, abandonado há cerca de 10 anos, deu vez para o primeiro café social de Curitiba, o Café 7 Espresso. Construído em sete dias, o estabelecimento inaugurado no último domingo faz parte de uma iniciativa ainda maior, que procura dar oportunidade às egressos do sistema prisional para que recomecem suas vidas.

Criado no começo deste ano, o projeto Geração Bizu trabalha para reinserir na sociedade pessoas que cumprem pena monitoradas com tornozeleira eletrônica. Atualmente, seis mulheres são atendidas pelo programa, todas já inseridas no mercado de trabalho e duas delas empregadas no café – a ideia, porém, é em breve dobrar o número de funcionários no 7 Espresso.

“Nossa proposta aqui (o café) é de fazer mais um local de trabalho para que essas pessoas tenham alguma forma de gerar renda. Trabalhamos num processo de mudança de vida. O trabalho aqui no café é um início, mas esse processo tem de acontecer por um longo tempo, é algo de longo prazo”, explica Carolina do Amaral e Silva, psicóloga e assistente social do projeto.

De acordo com Fernanda Rossa, idealizadora e coordenadora do Geração Bizu, a ideia de construir o café surgiu após a análise de várias propostas, como a criação de algum negócio ambulante ou a realização de uma feira no Tatuquara. Mas foi na praça em frente à Igreja do Água Verde que encontraram o local perfeito, que viria a ser cedido pela Prefeitura de Curitiba numa parceria público-privada, e também tiveram a ideia de construir um café.

Para que a ideia saísse do papel, quis o destino que há cerca de três meses que Fernanda conhecesse Leopoldo Guimarães, sócio da Mora Constrói, após uma palestra. Apresentado o projeto, a construtora logo abraçou a iniciativa, assumindo o desafio de reformar o espaço a partir da estrutura já existente. Mas em abril, um incêndio destruiu com o que restava do módulo policial e quase colocou tudo a perder.

“O projeto inicial utilizaria toda a estrutura já montada, seria feita apenas uma reforma. Mas aí veio o incêndio e foi tudo destruído. Liguei chorando para o Leopoldo para contar, decepcionada porque o projeto tinha acabado. Mas ele tratou de me acalmar e foi em busca de parceiros”, recorda Fernanda.

O espaço começou a ganhar vida ao longo da última semana e foi inaugurado no domingo. O custo real da obra era de R$ 70 mil, mas o valor acabou saindo 20% disso, cerca de R$ 15 mil, graças ao apoio de 21 parceiros.. “No final, o fogo acabou trazendo essa coisa de renovação. Uma infinidade de parceiros apareceram e conseguimos superar todos os obstáculos”, comemora a coordenadora do projeto.

 Receptividade da comunidade surpreende

Em princípio, gerou preocupação a forma como os próprios moradores do Água Verde receberiam o novo estabelecimento e a sua proposta de reinserção social. “No Brasil, quando uma pessoa é presa é como se ela ficasse marcada e o sistema prisional é muito fechado também. Se as pessoas entrassem num presídio, teriam mais compaixão”, comenta a psicóloga do projeto, Carolina do Amaral e Silva.

Nesses primeiros dias do café, contudo, a aceitação por parte do público tem sido grande. “Nos surpreendeu a receptividade da sociedade. O público do bairro, em geral, é mais conservador e ainda tinha o fato de aqui já ter sido um módulo policial. Mas até aqui tem sido muito bacana”, relata Fernanda. “Nosso objetivo é quebrar a cultura do crime. Não adianta o Estado e a sociedade continuarem agindo da mesma forma. É preciso fazer algo para mudar esse cenário”, complementa.

SERVIÇO

Café 7 Espresso / Projeto Geração Bizu
           
O que é: O Geração Bizu é um programa de desenvolvimento pessoal, profissional e social para a população carcerária, visando a inserção no Mercado de Trabalho. Entre as iniciativas do projeto, uma das mais recentes foi a criação do Café 7 Espresso, no bairro Água Verde. O estabelecimento, inaugurado no último domingo, já emprega duas egressas do sistema prisional e a ideia é dobrar o número de funcionários.

Como ajudar: Além de conhecer o café, outras formas de ajudar são por meio de doação e recursos e oferecendo cursos de capacitação. Empresas também podem aderir ao programa, recebendo um selo do Governo Federal e um benefício fiscal para a contratação desta mão de obra e contribuindo para a diminuição da violência, a redução do índice de reincidência e quebrando com a “cultura do crime”. O contrato de trabalho é com o Departamento Prisional, podendo o funcionário ser substituído a qualquer tempo.

Endereço: Cruzamento da Rua Bento Viana e Avenida Água Verde, em frente à Igreja do Água Verde (Café 7 Espresso)

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