RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Caixa Econômica Federal escolheu a sua nova sede no Rio de Janeiro atendendo a pedido de funcionários, mas ignorando o projeto de revitalização da zona portuária, na qual já investiu mais de R$ 5 bilhões do FGTS.

O banco decidiu mudar a sede para o Passeio Corporate, perto da Cinelândia. O acordo foi anunciado pela BR Properties, dona do imóvel, em comunicado ao mercado nesta segunda-feira (23).

A decisão contrariou membros da Prefeitura do Rio de Janeiro. Eles esperavam que a Caixa escolhesse o Aqwa Corporate, da Tishman Speyer, que fica na região portuária. A ida dos cerca de 2.000 funcionários para o local ajudaria a movimentar a região, que sofre com a falta de projetos imobiliários.

A decisão da Caixa vai ao encontro, contudo, do pleito de funcionários do banco. Eles se queixavam da falta de serviços no porto, dificuldade de acesso e a possível insegurança na área.

Os valores do negócio não foram anunciados. No mercado especulava-se que a oferta de ambos os imóveis eram semelhantes, de cerca de R$ 2 milhões mensais. A Caixa vai deixar sua sede na avenida Almirante Barroso onde atualmente paga R$ 4,2 milhões mensais a um fundo gerido pelo BTG Pactual.

O contrato firmado com a BR Propetiers é de 15 anos.

A decisão é mais um capítulo das divergências entre prefeitura e Caixa na condução da revitalização da região portuária. No mês passado, o banco informou ao município não ter dinheiro para bancar a 7a etapa do projeto.

O município suspendeu o início da fase, interrompeu a atuação da concessionária Porto Novo -contratada por PPP- e assumiu a responsabilidade pelos serviços públicos da região.

O projeto vem sofrendo com a falta de recursos desde 2015, causada pelo encalhe dos títulos imobiliários (chamados Cepacs) que autorizam a construção de prédios altos na região.

Há sete anos, fundo imobiliário gerido pela Caixa comprou os 6,4 milhões de Cepacs e 400 mil metros quadrados de terrenos na zona portuária. Ele pagou à vista R$ 3,5 bilhões, com dinheiro do FGTS, e se comprometeu a repassar outros R$ 6,5 bilhões -em valores atualizados- por 15 anos.

Era com a revenda desses terrenos e papéis que o banco manteria o cronograma de repasse acertado com o município até 2026. Porém, com a crise econômica afetando o setor imobiliário, menos de 10% dos Cepacs foram vendidos.

O problema é que esse dinheiro é usado pela prefeitura para pagar a concessionária Porto Novo, responsável pelas obras e serviços básicos da região, como limpeza e gerenciamento de trânsito.

Em 2015, o FGTS teve de aportar mais R$ 1,5 bilhão para manter o cronograma das obras. Em 2016, nova engenharia financeira teve de ser feita. Desta vez, com o município emprestando R$ 198 milhões para o fundo gerido para a Caixa.

Todas essas negociações, feitas na gestão Eduardo Paes (DEM). A administração Marcelo Crivella (PRB), contudo, não quer aceitar nova negociação. Entende que o município não pode se responsabilizar pelo risco de mercado da operação, assumido pela Caixa ao adquirir os títulos.

Na avaliação de membros da prefeitura, ao relegar o porto na escolha de sua sede, o banco não estimula a ocupação da região por outras empreendimentos imobiliários.

A Caixa ainda não comentou a decisão até a conclusão desta edição.