BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Senado aprovou nesta terça-feira (26) o nome do economista Roberto Campos Neto para a presidência do Banco Central no governo Jair Bolsonaro.

Também foram aprovados os nomes dos diretores Bruno Serra e João Manoel Pinho de Mello, que ocuparão, respectivamente, as diretorias de Política Monetária e Organização do Sistema Financeiro.

Com a aprovação, o presidente Jair Bolsonaro deverá confirmar a nomeação, e a previsão é que Campos Neto e os diretores assumam suas funções após o Carnaval.

Horas antes da aprovação em plenário, os quatro haviam sido aprovados por unanimidade pelos senadores que integram a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos. Eles passaram por sabatina que durou mais de quatro horas.

Campos Neto defendeu a aprovação da autonomia da autoridade monetária, cujo projeto de lei está em tramitação no Congresso.

Segundo ele, o BC continuará seguindo as metas de inflação definidas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). A autonomia dará apenas mais liberdade para a autoridade cumprir esses objetivos.

Campos Neto disse que o Brasil é uma “jabuticaba” nesse quesito, pois é um dos poucos países que adotaram o regime de metas de inflação e não deram autonomia à autoridade monetária. A autonomia permite que, com a mesma inflação, o juro seja mais baixo, pois você retira o componente de risco da curva.”

Neto de Roberto Campos, uns dos nomes mais relevantes do liberalismo no país, o futuro presidente do BC ressaltou sua visão crítica à intervenção estatal na economia.

“Parece haver certo consenso hoje na sociedade de que o Estado brasileiro se tornou grande demais, ineficiente, excessivamente custoso e não atende a muitas das necessidades básicas da população.”

Indicado para o BC pelo ministro Paulo Guedes (Economia), Campos Neto fez críticas aos governos do PT, sem mencioná-los diretamente.

“Políticas econômicas excessivamente intervencionistas levaram ao aumento da inflação e a uma recessão profunda, com uma grave piora das contas públicas”, disse.

Campos Neto rebateu ainda uma crítica recorrente, sobre o custo de manutenção das reservas internacionais no BC.

Avaliadas em US$ 310 bilhões, essas reservas funcionam como uma espécie de seguro contra especulações cambiais. Mas, quando o dólar cai, o custo fiscal de mantê-las fica elevado.

Ele afirmou, contudo, que neste momento a manutenção das reservas ficou muito mais barata, na esteira da desvalorização do real e do corte da taxa de juros no Brasil.

“Não cabe aqui criar especulação sobre o que será feito [com as reservas], mas é importante trazer esses dados.”

O economista foi cobrado por parlamentares sobre os elevados juros de mercado.

Nesse ponto, ele afirmou que o lucro responde pela menor parte (15%) do spread bancário (diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada no empréstimo).

O esforço do BC, disse, deve se concentrar no melhor aproveitamento das garantias, na maior segurança jurídica e nas informações dos tomadores de crédito.

Ele acrescentou que o lucro não é melhor métrica para o setor, que deve ser avaliado pela rentabilidade.

Neste caso, disse, o retorno já foi maior –era de 19%, caiu para 12% e agora está em 15%.

Embora concentrado, o mercado bancário brasileiro é competitivo na avaliação de Campos Neto. Mas isso não reduziu as taxas no mercado.

“Grande parte do questionamento dos senhores é: se tem competição bancária, se tem incentivo do governo, se o BC está atento, por que a taxa de juros de 6,5% não se reflete na ponta? Por isso é importante [entender] o spread”, afirmou.

Ele pontuou ainda o efeito das mudanças tecnológicas no mercado bancário e sua contribuição para o aumento da competição.