NATÁLIA CANCIAN
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A deputada estadual Maria Victoria Borghetti Barros (PP), candidata à Prefeitura de Curitiba (PR), publicou um vídeo em que diz ter dado um ‘puxão de orelha’ no pai, o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
O ministro afirmou que os homens procuram menos os serviços de saúde porque “trabalham mais” que as mulheres e “são os provedores” da maioria das famílias. A declaração aconteceu nesta quinta-feira (11) durante lançamento de uma campanha para estimular os homens a cuidar mais da saúde.
Questionado sobre os motivos que levam a esse cenário, Barros respondeu se tratar de “uma questão de hábito, de cultura, até porque os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para se dedicar à saúde preventiva”. Em seguida, afirmou que “é uma cultura que precisa ser modificada”. “Quem precisa acha tempo”, disse.
“Hoje (ontem) tive que dar um ‘puxão de orelhas’ no meu pai, que deu a entender que os homens trabalham mais do que as mulheres”, escreveu, na descrição do vídeo. “Pai, logo o senhor, com duas mulheres como nós em casa, a vice-governadora do Estado Paraná, Cida Borghetti, e eu, deputada estadual? trabalhamos tanto quanto o senhor”, diz Maria Victoria.
A declaração do ministro foi avaliada como “desastrosa” por assessores e auxiliares presidenciais e aumentou a pressão para que o presidente interino, Michel Temer, mude o comando do Ministério da Saúde após a conclusão do processo de impeachment no Senado.
Em declaração publicada no Facebook, o ministro tentou se explicar, afirmando que se referia ao número de homens no mercado de trabalho, “que ainda é maior”. Ele disse ainda que apenas quis passar a mensagem de que os homens deveriam cuidar da saúde tanto quanto as mulheres. “Se fui mal interpretado, me desculpem.”
Além da insatisfação em relação à postura do ministro, a avaliação interna é de que ele não tem apresentado um desempenho de destaque à frente das pasta com o lançamento, por exemplo, de programas ou iniciativas e tem lhe faltado conhecimento técnico para conduzir o ministério.
Com a possibilidade de saída do ministro, o entorno do presidente interino voltou a defender o nome do cirurgião paulista Raul Cutait, que chegou a ser sondado pela equipe do peemedebista antes do afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Apesar da justificativa de que os homens “trabalham mais”, dados da pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde mostram que o horário de funcionamento das unidades de saúde foi apontado por apenas 2,8% dos homens como motivo para não irem aos serviços de saúde. A maioria, ou 55%, justifica que “nunca precisou”, ou seja, que procura mais somente em casos urgentes e não para prevenção e cuidados contínuos. Outros 17,4% alegam utilizar a rede privada e 14,5% reclamam da demora no atendimento.
Resultados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, também mostram que, embora os homens ainda respondam pela maioria dos lares brasileiros, as mulheres vêm ocupando cada vez mais esse papel. De 2004 a 2014, a quantidade de lares chefiados por mulheres aumentou 67% -11,4 milhões de mulheres passaram a essa condição no período. Já a estatística de homens cresceu apenas 6% no período.
O mesmo estudo mostra ainda que as mulheres já fazem cinco horas a mais de “dupla jornada” em comparação aos homens -parâmetro que considera a soma do tempo dedicado ao trabalho remunerado fora de casa com as atividades dentro de casa.