SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um negócio que não prosperava e um professor com vontade expandir para além dos muros da universidade o seu conhecimento e impactar a sociedade.


Foi neste contexto que o professor Mário de Souza, 35, e a empreendedora Dayane dos Santos, 23, se conheceram em 2018. Cada um a seu modo, eles tentavam transformar suas realidades.


Na Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Mário leciona no curso de Ciência da Computação no campus de Arapiraca, a 120 km de Maceió. A 20 km dali, Dayane toca agora um empreendimento bem-sucedido, inspirado em sua filha.


Para ter sucesso, no entanto, a empreendedora precisou mudar o seu negócio. Na pequena cidade de São Sebastião (AL), ela comercializava rações de animais. Ter sua própria empresa era um sonho da infância passada na roça, no sítio da família.


Ao se mudar para a cidade com 15 anos, apostou numa loja de rações para animais. “Eu tinha a experiência do campo e a minha vivência estava ligada a questões da agricultura, do trato com os animais. Então a loja de ração foi algo natural para mim”, conta.


Mas faltavam alguns aprendizados para que o negócio prosperasse. “Eu não tinha noção de capital de giro. Até vendia bem, mas não tinha como repor e pagar todos os boletos. Foi triste”, lembra.


“No processo de fechar a loja, conversei com uma amiga, que trabalhava na agência do Santander. Ela me falou que tinha um programa que oferecia R$ 5.000 a quem gravasse um vídeo e falasse sobre como pensava em expandir seu negócio.”


A alagoana fez o vídeo. “Foi de um minuto, meio amador mesmo, porque eu não queria perder o prazo.”


Ela foi uma das cinco selecionadas para o Empreenda Santander, um edital em que o banco buscava interessados em participar do piloto Universidade & Microempreendedor. Do lado da universidade, estava o professor Mário, que sempre teve a veia empreendedora.


Natural de Maceió, ele já tinha liderado uma empresa de tecnologia e acompanhava as criações da esposa no ramo de beleza. Na universidade desde 2009, lutava para dar novas perspectivas a universitários da região.


“Arapiraca é uma cidade muito interessante. Quando cheguei, vi como crescia diariamente, tanto que de 2012 a 2016 sempre houve ofertas de emprego. Mas ainda tinha o pensamento tradicional, de jovens buscando concursos públicos e muitas vezes deixando de testar todo seu potencial em um negócio ou uma causa. Era um pensamento voltado a negócios de famílias”, explica.


Com o professor do edital piloto selecionado de um lado e Dayane e outras quatro empreendedoras (Rafaela Brito, Nathamyres Silva, Ana Carolina Magalhães e Ylana Souza) escolhidas do outro, eles iniciaram uma jornada que intensificou o papel de educador e fez decolar o trabalho dessas mulheres.


Durante os seis meses do curso, as participantes resignificaram sua participação em casa, na família, nos negócios e na sociedade. O cronograma foi desenhado por Mário e contou com a participação de cerca de 40 pessoas, entre elas coaches, mentores, especialistas, oficineiros e universitários da empresa júnior da Ufal.


“Foi muito enriquecedor. Superou muito o que pensávamos. Ajudamos a romper preconceitos, como o de a mulher tomar a frente das ações”, afirma o professor.


Os entraves mais comuns eram as iniciativas estarem registradas no nome dos maridos e o fato de a mulher ter que, primeiro, dar conta dos cuidados da família e da casa para depois, de madrugada, trabalhar em seu empreendimento.


Na batalha diária para manter um negócio —e, no caso de Dayane, criar outro—, muitas vezes a empreendedora foi às capacitações com a filha Isabella, hoje com três anos, a tiracolo.


E foi Isabela quem a inspirou a tomar um novo rumo. “Já na época da loja, eu fazia lacinhos para a minha filha. Isso foi crescendo. E as capacitações que recebemos me ajudaram muito a melhorar minha comunicação com o cliente, minha atitude nas vendas e o controle sobre todo meu processo de produção”, afirma.


A menina virou garota-propaganda do novo negócio da alagoana. “Ela vende na escola e me dá muitas dicas para inovar, colocar novas estampas, desenhos. Hoje, trabalho por ela”, diz Dayane, que é responsável por cerca de 60% da renda de sua família. Ela atende por volta de 150 pedidos por dia vindo de quatro cidades (São Sebastião, Junqueiro, Taquarana e Arapiraca).


“Se eu adquirir uma nova máquina de corte, posso dobrar minha produção e atender a pet shops também. E penso também em entrar na universidade.”


Enquanto Dayane, a mais novas das empreendedoras selecionadas, sonha, o professor provou o papel decisivo que a universidade pode ter em Arapiraca. Já o edital do Santander foi expandido a todos os estados do Brasil —no próximo dia 26 de junho, serão divulgadas as dez iniciativas finalistas de 2019, que serão capacitadas.


“A gente ajudou a empoderar essas mulheres, mas elas também ensinaram muito a toda a equipe. Foi um ganha-ganha”, diz Mário.