Dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde revelam que os casos de HIV e sifílis adquirida, transmitidas sexualmente, explodiram nos últimos anos no Paraná, tornando-se uma epidemia. Entre 2010 e 2015, último ano com dados disponíveis, o número de notificações da primeira doença saltou 262%, enquanto os casos de sífilis tiveram um aumento bem mais expressivo, de 14.114%.

De acordo com os dados do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais (DIAHV), em cinco anos foram registrados 9.037 casos de sífilis adquirida no Estado. Em 2010, primeiro ano da análise, haviam sido 29 notificações. Em 2015, foram 4.122, um aumento de 82,1% na comparação com 2014, quando haviam sido 2.264 notificações.

Com relação aos casos de HIV, o crescimento nas notificações até que foi menor, mas igualmente alarmante. Até 2012, o número de registros permanecia abaixo de 760 por ano. No ano seguinte, praticamente dobrou, chegando a 1.401 notificações. Em 2015, o recorde: 2.242 casos notificados.

Para o médico infectologista Alceu Pacheco Junior, do Departamento de Inscrição e Qualificação Profissional (DEIQP) do Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), um elemento presente no aumento de notificações para as doenças é o descuido da população, especialmente aquela considerada de maior risco — jovens com idade entre 18 e 23 anos e homossexuais.

“No caso do HIV e Aids, o que notamos é que jovens, principalmente gays, têm um certo destemor em relação à doença. Antes existia um pavor de pegar Aids, mas hoje, a impressão que temos é ‘se pegar, está tudo bem, tem tratamento. Essa é uma constatação de quem está atendendo em consultório”, afirma o especialista.

Com relação à sífilis, o médico aponta que a falta de penicilina, tratamento preferencial para a doença, é um problema e um dos fatores que estariam relacionados com a alta no número de casos. “É uma falta nacional, não é só no Paraná, e existe por parte dos farmacêuticos até um certo desinteresse de produzir medicamentos que custam muito pouco, como a penicilina”, explica.

Existem pelo menos 15 tipo de DSTs. As mais conhecidas são a gonorréia, o HPV e a candidíase.

Crise afetou nas campanhas de prevenção do governo federal
Para além dos fatores já citados, outro aspecto importante para se compreender a epidemia de doenças sexualmente transmissíveis no Paraná e no Brasil é a redução de campanhas publicitárias e educativas, importante ferramenta de prevenção. Segundo o médico infectologista Alceu Pacheco Junior, a crise econômica teria feito com que o governo reduzisse os investimentos na área.

“Do ponto de vista de tratamento publicitário, as coisas andam meio quietas. Não vemos mais como víamos antigamente propagandas, publicidade em relação ao combate dessas doenças, e isso deve ser um dos fatores que impactou”, analisa o especialista. “Se o Ministério da Saúde reconhece que o aumento é basicamente entre jovens de 18 a 23 anos e gays, tem de ter um trabalho em cima. E tem também alguns exames e medicamentos que estão sendo descontinuados, algumas complicações que o Ministério tem de enfrentar mais de perto”.

Secretaria de Saúde de Curitiba oferta três tipos de testes para a aids

Em Curitiba, há hoje três tipos de testes para verificar a existência do HIV. Um deles é feito pela mucosa da boca, em casa, e fica pronto em meia hora. O teste está disponível gratuitamente em farmácias populares e o projeto A Hora É Agora também o envia pelos Correios. Por ora, contudo, esta opção está indisponível.

O segundo, também rápido, é feito com uma amostra coletada do deo e pode ser feito por profissionais capacitados, no Centro de Orientação e Aconselhamento, na Rua do Rosário, número 144, em Curitiba.

Por fim, há os postos de saúde. Em qualquer cidade do estado, é possível pedir um teste de HIV de graça na rede pública. Se o teste for positivo, quanto mais cedo você iniciar o tratamento, menor será o impacto do vírus no seu sistema imunológico.

Doença pode passar despercebida e até matar

De acordo com Adele Benzaken, diretora do DIAHV, a sífilis no adulto tem sinais específicos, mas também há um período de latência considerável. O quadro sintomático inicia com uma ferida que, nos homens, é bem aparente, não dói e pode desaparecer num período de sete a dez dias. Nas mulheres, a ferida pode surgir na genitália interna e passar desapercebida.

A manifestação, nesses casos, fica em latência e o quadro se torna de sífilis terciária. Quando há evolução de mais de dez anos, a doença destrói tecidos como coração, cérebro e ossos, explicou em entrevista à Agência Brasil.