Franklin de Freitas – Castorzinho: “Com 15 anos fui direto para o campo”

Ele nasceu em Curitiba com o nome de Edmilson Ferreira, em 1979, mas ficou conhecido mesmo pelo apelido Castorzinho. Começou no futsal, fez carreira profissional no futebol de campo, foi eleito o melhor do mundo no Fut 7, virou professor de Crossfut e ajudou na criação do New Fut.

A carreira no futebol começou quase por acaso, no mesmo dia que Alex foi descoberto pelo Coritiba. Castorzinho, hoje com 41 anos, foi ver o primo mais velho treinar no Coritiba e acabou ‘fisgado’ pelo lendário professor Miro, um dos melhores caçadores de talentos da história do esporte paranaense.

Desde os primeiros chutes na bola, o talento de Castorzinho impressionou os maiores nomes do futebol paranaense. A pedido do Bem Paraná, o craque Alex, 42 anos, deu um depoimento sobre o ex-colega de Coritiba.

“Nossas histórias se confundem. Meu primeiro dia de AABB, levado pelo Professor Miro, também é o primeiro dele. Jogamos anos a fio juntos nas quadras e algumas vezes no campo. Não jogamos mais porque sou dois anos mais velho. Estava na estreia dele no time principal. De criança/adolescente foi um dos melhores que vi. Tinha um pé esquerdo privilegiado e uma categoria enorme para jogar. Sem dúvida um dos grandes que vi nessa fase. É daqueles que lamento não ter tido uma carreira maior e mais reconhecida. Realmente ele era muito craque”, conta Alex, sobre Castorzinho.

Em entrevista para o Bem Paraná, o ex-jogador de Coritiba e Athletico conta todos os detalhes da sua carreira, como sobreviveu no esporte sem ter um empresário, lembra o título com o Coxa em 1999 e detalha suas façanhas em outras modalidades do futebol.

Bem Paraná — Como foi seu início no futebol?
Castorzinho — Comecei jogando na rua. Fui assistir meu primo treinar no Coritiba. Eu era pequeno, com 6 para 7 anos. Me chamaram para bater bola com os meninos maiores. Eu e um outro pequeno. Começamos a nos destacar entre os maiores. Aí quando o professor Miro chegou, disseram que tinham ali dois meninos se destacando e que era para ele dar uma olhada. Um dos meninos era o Alex. A gente se conheceu ali, naquele dia. Eu tinha 6 e ele tinha 8. Aí ele colocou a gente para treinar no meio dos maiores e conseguimos nos sobressair. Depois, ele tirou a gente do treino e falou: “vou levar vocês para AABB, porque vocês são muito novos. Quando estiveram maiores, vocês voltam comigo aqui”. E daí nos levou na AABB, no futsal. E ali tivemos o início de tudo. A AABB foi muito importante na minha carreira, na minha vida. Tanto na escola, como preparando para a vida.

BP — E as categorias de base?
Castorzinho — Fiquei muito tempo entre o futsal e alguns jogos pelo campo no Coritiba. Me dediquei mais ao futsal até os 15 anos. Fui para o Rio com 11 anos e fiquei no futsal. Fui campeão brasileiro lá. A minha transição do salão para o campo demorou um pouquinho. Com 15 anos fui direto para o campo, quando o Alex me convidou de novo para o Coritiba. Foi muito legal, foi show de bola.

BP — Como foi sua primeira chance no profissional?
Castorzinho — Minha primeira chance no profissional foi aos 15 anos. O Coritiba tinha subido para a Série A em 95. E comecei a me destacar na base. Fui pra pré-temporada com o time principal e me destaquei. O técnico era o Lori Sandri. Estava eu, o Alex, o Dirceu… Fui aos pouquinhos ganhando oportunidades, mas não tive sequência de titular.

BP — Como foi o período no profissional Coritiba?
Castorzinho — Fiquei no profissional do Coritiba de 95 até 2001. Aí tive empréstimos. Fui para um time da Hungria e para a Inter de Limeira, em 97, que foi muito bom. O seu Pepe (técnico da Inter de Limeira) tentou me levar para lá, tentou comprar meu passe com o Coritiba, mas não chegaram a um acordo. Fiz um Paulistão muito bom. A Inter tinha um time muito experiente: o goleiro Sergio, que era destaque no Palmeiras, o Marquinhos Capixaba lateral, o zagueiro Tonhão do Palmeiras, o Beto, que depois jogou no Paraná, o Edu Marangon, o Sergio Araújo, o Charles Guerreiro e o Dinei. Fiz um grande campeonato. Quando voltei para o Coritiba, o Alex já não estava no Coritiba e já estava arrebentando no Palmeiras. Eu fui ficando. E 99 foi um ano bom para mim, apesar que em 98 eu tive um problema com alguns diretores do Coritiba. Em 98, eu treinava no profissional e jogava algumas com os juniores. Em 99, chegou o Abel (Braga). Na estreia dele, levamos uma goleada do Paraná. Ele tirou alguns mais velhos e começou a colocar eu, o Robert e o Marcel. Começamos a ter uma sequência. O time foi engrenando. Ele com aquele estilo paizão, fez o grupo se fechar. O Cleber (Arado) estava num momento bom. E tinha Struway, Yan… Quando foram ver, já estávamos na final. Pegamos o Paraná, que era um grande time. O primeiro jogo ganhamos por 1 a 0. E, na Vila Olímpica, estávamos perdendo por 2 a 0 e o Abel mandou aquecer, que eu ia entrar Robert e nós, a molecada toda. Empatamos em 2 a 2 e levamos para o terceiro jogo. E no terceiro jogo, no Pinheirão, foi aquele do título que fazia 10 anos que o Coritiba não ganhava. Fomos campeões. No vestiário, o Darci falou para o Abel: ‘me coloca, porque sonhei que vou fazer o gol do título’. Ele entrou e, no primeiro toque, marcou o gol, aproveitando o cruzamento do Araújo.

BP — E a passagem pelo Athletico?
Castorzinho — Depois que saí do Coritiba, fui para o Joinville. E não recebi. Fiquei nove meses, tive umas lesões e muitos problemas lá. Aí entrei com ação para conseguir a liberação. Fiquei meses brigando para conseguir. Aí o Riva Carli me chamou para o Athletico, para não ficar parado. Comecei a treinar e a me destacar. O Riva comentou com um diretor. Eles intercederam e conseguiram minha liberação. E me ofereceram contrato de cinco anos, de 2002 a 2007. Aí o Athletico começou a me emprestar e comecei a rodar. Fiz um campeonato pelo Mineiros, de Goiás, e fui muito bem, fui artilheiro, melhor jogador, melhor meia. O Atlético-GO e o Goiás tentaram me contratar e o Athletico não liberou. Depois apareceu o Gama. Fiz um bom campeonato brasileiro da Série B. Fiz uns 14, 15 gols, mas tive lesão no púbis no fim. Em seguida apareceu a oportunidade da Ponte Preta e o Athletico me negociou com eles. Em 2004, o Mario Sergio me chamou. Fui bem. Começou a me puxar para treinar com time principal. Teve uma minitemporada em Gramado e fui bem. Fui inscrito no Brasileiro. Joguei contra o Cruzeiro e fiquei no banco contra o Grêmio. Veio proposta de um clube do Interior de São Paulo, com salário bom. O Mario Sergio disse que eu tinha que ficar, mas um diretor do Athletico disse que eu tinha que ir, que o clube ia receber. No geral, o Athletico foi muito boa a passagem. O clube sempre foi correto. Quando eu era emprestado, o Athletico continuava pagando meu salário e sempre me mandavam para clubes com salário bom. O Athletico tem uma estrutura e sempre foi legal comigo.

BP — Qual foi o melhor técnico na sua carreira? É possível apontar apenas um?
Castorzinho — Adoro o professor Miro, que nos deu a oportunidade. Mas o mestre Sisico… Desde menino ele nos falava coisas boas, nos incentivava. Ele me ajudou muito na minha vida e na minha carreira. É um cara que todos gostam dele. O Lori me colocou no profissional. Trabalhei com Espinosa e Geraldino Damaceno, mas o Abel foi muito fera comigo. Quando eu estava no Athletico, o Abel uma vez me ligou e me arrumou um time do Vietnã. Ele disse: ‘tá tudo certo’. O Athletico cortou na hora e ele discutiu com um dirigente. O Abel foi um dos treinadores que não é a toa que teve o sucesso que teve. Era gente boa e tirava o máximo de cada um. Na hora que tinha que chamar a atenção, ele chamava. Na hora de brincar, brincava. Quando ele chegou no Coritiba, ele me disse: ‘Quando eu estava no Athletico todo mundo falava de você. Se você jogar o que faz no treino, você vai jogar comigo sempre’. Acabou o Paranaense, ele me mandou para Portugal, para o Belenenses. Fiquei lá na pré-temporada, mas o Coritiba aumentou os valores pro empréstimo e o time lá achou que ficaria muito caro por um jogador muito novo. Acabei voltando. E tem o Edson Porto. Trabalhei muito com ele em vários clubes e fui campeão no Maranhão com ele.

BP — Foram quantos clubes no futebol profissional?
Castorzinho —De cabeça, foram mais de 15. Nunca tive empresário. Eu queria estar jogando. Pegava minha esposa e meus filhos e eles sempre iam comigo.

BP — Um dos melhores momentos foi em 2007, na Ponte Preta?
Castorzinho — A Ponte Preta foi muito bom. Apesar de eu chegar machucado. Fiz o tratamento e o Athletico me ajudou muito no setor de reabilitação. Na estreia contra o Corinthians, no Pacaembu, perdemos por 2 a 1, mas joguei bem. Fiz a jogada do gol, bati e o Finazzi aproveitou o rebote. A torcida e imprensa já começaram a me olhar de maneira diferente. Nessa semana, voltei a sentir muita dor. Fiquei dois, três jogos afastado. Jogava meio-tempo. Aí o Vanderlei (Paiva, técnico) foi mandado embora. Aí chegou o Nelsinho Baptista, que trouxe o Evair como auxiliar. O Evair falou: ‘vamos deixar o Castor trabalhar separado por 15 dias, fortalecer bem para daí voltar bem’. O Nelsinho ajeitou o time. Quando voltei, entrei contra o Santo André e fiz o gol da vitória. Fiz gol contra o Ituano. Comecei a me destacar e o Nelsinho começou a falar bem. Fizemos campeonato bom e uma boa Copa do Brasil. Fiquei ano inteiro lá também, Série B também.

BP — Depois da Ponte Preta, você viveu momentos difíceis…
Castorzinho — Depois, no meio do Brasileiro, pedi para o Nelsinho que queria ir para o Ituano. Ele disse: ‘Só tô jogando com um meia, mas quando o Everton não jogar é você que joga’. Fui mesmo assim e foi uma furada no Ituano. Prometeram dinheiro na mão. Um mês me apresentei, fiz dois jogos e não me pagaram. Consegui um acordo com a Ponte Preta e peguei meu passe. Aí voltei para Curitiba. Recebi proposta do Caxias. Fiz um bom campeonato lá, fomos campeões da Copa RS. Vieram outros clubes gaúchos atrás de mim de novo. Aí recebi proposta da Coreia, contrato de três anos. Aí foi uma furada. Fui sozinho. Foi complicado. Aí queriam que eu tivesse empresário e colocaram o nome de um empresário lá no contrato. Receberam dinheiro e não repassaram para mim. Foi um momento bem difícil, não gosto nem de lembrar. Fiquei uns oito meses brigando com a Fifa para me liberar, gastando dinheiro do meu bolso. Mas consegui liberação. E como tinha ido bem no Rio Grande do Sul e o treinador virou muito amigo meu no Gama, o Edson Porto. Aí comecei a trabalhar com ele. Me levou para o XV de Campo Bom e me indicou para o Caxias. Fomos para um time do Interior do Goiás e daí para o Sampaio Corrêa. Aí já começou a dar uma desanimada no futebol e comecei a jogar o Fut 7.

BP — Qual a principal lição que o futebol profissional deixou para você?
Castorzinho — O futebol me deu a oportunidade de conhecer o mundo. Tive a oportunidade de ajudar minha família e conseguir minha casa. O futebol, para mim, me mostrou um lado de respeito, de se você achar que é o cara, você não vai chegar a lugar nenhum. Você sempre tem que estar trabalhando na sua humildade, trabalhando a cada dia mais. O futebol foi muito bom… e… passou…

BP — Qual o jogador adversário mais chato que você enfrentou? E qual o mais desleal e o mais violento?
Castorzinho — Eu era meia, sempre tinha marcação individual. Vários jogadores chegaram mais firme, tentando intimidar, mas sempre fui tranquilo. Sempre tive muitos amigos no futebol. Nunca tive atrito. Não lembro de nenhum. Não tive confusão com ninguém. Como meia, a gente se preparava para decidir o jogo em um lance.

BP — E como foi sua participação no Fut 7?
Castorzinho — Desde 2002, 2003, o Fut 7 entrou na minha vida. Quando eu estava parado, estava de férias, jogava em alguns times do bairro. Aí o Futebol 7 cresceu muito, hoje tem vários campeonatos, com Esporte Interativo e SporTv transmitindo. Eu sempre voltava para Curitiba no final do ano e participava. Fui convocado para seleção, fui bicampeão mundial, quatro vezes campeão brasileiro com o Caja. O Paranaense de Fut 7 ganhamos uns dez anos seguidos. Fui bicampeão brasileiro com seleção paranaense. É um esporte bem legal. Por anos o pessoal me elegeu o melhor do Paraná, do Brasil e do mundo. Fui artilheiro e melhor jogador do Mundial. Fiz uma carreira muito legal. Hoje não jogo tanto, porque tive uma lesão na coluna quando voltei da Coreia e evito jogar o sintético. É legal de jogar, tem habilidade, agilidade e bastante finalização.

BP — Além do Fut 7, agora você abriu uma escolinha de futebol. Também dá aulas de Crossfut (preparação física com fundamentos do futebol) na Stark, ajudou no lançamento do New Fut e tem sua empresa na área de transportes. Como está sua vida após o futebol profissional?
Castorzinho — Essa minha escolinha, Castor & Brau & 1ª Opção, é um trabalho novo. O objetivo é formar cidadãos. Meu filho e o professor Brau tocam a escola. E tenho minha família, que é tudo na vida. Tenho uma esposa que comprou a parada comigo, vive comigo, me ajuda na empresa, nessa área de transportes. Entrei nesse ramo dos transportes com a ajuda do Fiorentin e o Cesar, da Romanha Indústria de Alimentos. Minha empresa presta serviços para a Romanha. E tenho dois filhos maravilhosos. O Renan que está se formando na faculdade e minha filha Letícia, que ficou entre as melhores do Paraná e do Brasil na ginástica rítmica. Tenho orgulho deles. A gente fica até emocionado de falar, porque filho é tudo. Graças a Deus a minha mãezinha vive comigo. Sem esses pilares a gente não é nada na vida. Sou um cara que sempre tento fazer o bem. Onde vou o pessoal me respeita.

BP — E como é jogar nesse time de estrelas dos Amigos do Macaris?
Castorzinho — Eu não gostava de jogar futebol de campo. Quando parava, eu só jogava suíço e sintético. Aí fui convidado pelo Macaris e comecei a participar mais. Ele reúne todos que fizeram parte dos clubes de Curitiba. É um grupo muito bom. Um incentiva o outro, puxa o outro. São jogos festivos, mas com aquela vontade de ganhar. O Macaris e a Rosilete têm uma história linda. A gente fica honrado de ter a amizade deles. Sempre que posso passo para ele fazer um gol. E ele começou a fazer bastante gols e se empolgou. Onde a gente vai é uma festa. Tem Alex, Ademir (Alcântara), Castro, Marcio Santos… Todos estão ali através do Macaris. Ninguém recebe nada, todos estão ali porque gostam estar perto dele e da Rosilete. É um grupo maravilhoso. No fim do ano, fiz churrasco de fim de ano na minha escolinha e eles vieram ali vestidos de Papai Noel. Foi emocionante. Entregou presentes para todos os meninos e os pais chorando. Foi um dia inesquecível. É uma satisfação estar no grupo do Macaris jogando. E o homem faz gol mesmo. Ele se posiciona bem. Quando ele faz o gol, o pessoal vibra mesmo e grita ‘El Matador’. É uma alegria. E só tem cara fera no grupo.