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O enterro do catador de material reciclável Luciano Macedo, 27 anos, acontecerá hoje (19) à tarde, no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, zona portuária do Rio. A família não divulgou o horário do sepultamento. Luciano levou três tiros no domingo (7), ao tentar ajudar a família do músico Evaldo dos Santos Rosa, o Manduca, 51 anos, que teve o carro atingido por 83 tiros disparados por militares do Exército, quando passava por Guadalupe, zona norte do Rio. O músico morreu na hora. Os militares confundiram o carro de Evaldo com um veículo também branco que havia sido roubado por ladrões.

De acordo com informação da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Luciano morreu na madrugada de ontem (18), no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes. Em nota, a secretaria informou que “todos os esforços clínicos necessários foram realizados por profissionais multidisciplinares do Hospital Estadual Carlos Chagas com o objetivo de oferecer o melhor atendimento ao paciente Luciano Macedo, vítima de perfuração por arma de fogo que deu entrada na unidade no último dia 7”.

A SES esclareceu que o paciente “apresentava estado de saúde gravíssimo desde a entrada na unidade, o que impossibilitava sua transferência”. No dia 17, Luciano foi submetido a uma cirurgia torácica, mas acabou morrendo às 4h20 da madrugada de ontem (18). O catador deixou mulher, Daiana Horrara, grávida de cinco meses.

A organização não governamental (ONG) Rio de Paz conseguiu, por meio de doações, enxoval para o bebê e dinheiro para alugar casa para a viúva. De acordo com o advogado da família do catador, João Tancredo, nove tiros disparados pelos militares atingiram outro veículo estacionado do outro lado da rua. 

O caso

No úlitmo dia 7, Evaldo dos Santos Rosa dirigia o veículo de sua família a caminho de um chá de bebê. Além dele, estavam no veículo a esposa, o filho de 7 anos, o sogro de Evaldo (padrasto da esposa) e uma amiga da família.

Militares do Exército, contudo, atiraram 80 vezes contra o carro e alegam ter respondido a uma “injusta agressão”, termo empregado pelo Comando Militar do Leste (CML). Segundo a Polícia Civil, “tudo indica” que o carro da família foi confundido com o de criminosos.

Dez dos 12 militares do Exércioto que estavam na patrulha no dia em que o carro foi atingido foram presos após prestarem depoimento sobre a ação, em caso que será julgado pela Justiça Militar. Nove deles seguiram preso após a realização de uma audiência.

Além de Evaldo e Luciano, o sogro do músico, Sérgio Guimarães de Araújo, também foi baleado e segue internado no Hospital Albert Schweitzer. A esposa, o filho de 7 anos e a amiga da família não se feriram.

“Ele foi salvar uma vida e deu a dele”

Antes de ser baleado, Luciano não só tentou salvar Evaldo dos disparos efetuados pelos militares, mas também tirou o filho do músico de dentro do carro. Quem relatou isso foi a esposa do catador de papel, que testemunhou quando o marido ajudou a família ee acabou atingido por três tiros. Tal relato é confirmado ainda por parentes de Evaldo.

Para salvar o menino, o homem carregou a criança no colo até uma área segura. Na sequência, ainda voltou ao carro para tentar salvar o músico. “Se meu irmão errou muitas vezes na vida, ele acertou naquele momento. Deus levou ele. O que me conforta é isso, ele foi salvar uma vida e deu a dele”, desabafa Lucimara Macedo, de 38 anos, irmã mais velha da segunda vítima dos militares naquele fatídico 07 de abril.