Foto: Divulgação/Site oficial Cazuza – Cazuza

Neste mês, Cazuza completaria 60 anosO grande astro do rock morreu aos 32 anos, vítima de complicações decorrentes da Aids. 

Na época em que Cazuza descobriu a doença, os tratamentos para HIV utilizavam medicamentos à base de AZT (zidovudina) com combinação do 3TC (lamivudina), que traziam muitos efeitos colaterais e, anos depois, veio o coquetel de medicamentos que, além de ter um altíssimo custo, também apresentava muitas reações desagradáveis.

Ao longo do tempo, após sua morte, o tratamento da Aids no Brasil e no mundo evoluiu consideravelmente e passados 28 anos podemos comemorar a chegada de antirretrovirais muito mais potentes e com maior acesso à população.

Confira abaixo, na linha do tempo, a evolução da doença e dos medicamentos no Brasil e no mundo. E te convido a imaginar como seria a vida de Cazuza hoje, aos 60 anos, soropositivo.

1980

  • Primeiro caso no Brasil, em São Paulo, só classificado em 1982.

 

1981

  • Primeiras preocupações das autoridades de saúde pública nos EUA com uma nova e misteriosa doença.

 

1982

  • Adoção temporária do nome Doença dos 5 H, representando os homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers.
  • Conhecimento do fator de possível transmissão por contato sexual, uso de drogas ou exposição a sangue e derivados.
  • Primeiro caso decorrente de transfusão sanguínea.

 

1983

  • Primeira notificação de caso de Aids em criança.
  • Relato de caso de possível transmissão heterossexual.
  • Homossexuais usuários de drogas são considerados os difusores do fator para os heterossexuais usuários de drogas.
  • Relato de casos em profissionais de saúde.
  • Primeiras críticas ao termo “grupos de risco” (grupos mais vulneráveis à infecção).
  • Gays e haitianos são considerados principais vítimas.
  • Possível semelhança com o vírus da hepatite B.
  • No Brasil, primeiro caso de Aids no sexo feminino.

 

1984

  • Estruturação do primeiro programa de controle da Aids no Brasil, o Programa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.

 

1985

  • O primeiro teste anti-HIV é disponibilizado para diagnóstico.
  • Descoberta que a Aids é a fase final da doença, causada por um retrovírus, agora denominado HIV (Human Immunodeficiency Virus, em inglês), ou vírus da imunodeficiência humana.

 

1986

  • Criação do Programa Nacional de DST e Aids, pelo ministro da Saúde Roberto Santos.

 

1987

  • Início da utilização do AZT, medicamento para pacientes com câncer e o primeiro que reduz a multiplicação do HIV.
  • Os casos notificados no Brasil chegam a 2.775

 

1988

  • Criação do Sistema Único de Saúde.
  • Os casos notificados no Brasil somam 4.535.

 

1989

  • Brasil registra 6.295 casos de AIDS.

 

1990

  • O cantor e compositor Cazuza morre, aos 32 anos, em decorrência da Aids.

 

1991

  • Dez anos depois da AIDS ser identificada, a Organização Mundial da Saúde anuncia que 10 milhões de pessoas estão infectadas com o HIV pelo mundo.
  • Já são 11.805 casos de aids no Brasil – 8:1 de homens para mulheres.
  • O terceiro antirretroviral DDC foi autorizado pelo FDA (órgão do governo dos Estados Unidos, responsável por controlar os alimentos e medicamentos) para pacientes intolerantes ao AZT. Contudo, nesta época, ficou claro que o AZT e as outras drogas estavam limitadas ao tratamento da Aids, pois o HIV desenvolvia resistência aos medicamentos que diminuíam sua eficácia. O Ministério da Saúde, no Brasil, dá início à distribuição gratuita de antirretrovirais.

 

1992

  • Ministério da Saúde inclui os procedimentos para o tratamento da Aids na tabela do SUS.
  • Combinação entre AZT e Videx inaugura o coquetel antiAids.

 

1993

  • Início da notificação da aids no Sistema Nacional de Notificação de Doenças (SINAN).
  • Brasil passa a produzir o AZT.
  • No Brasil, é implantada a Rede Nacional de Isolamento do HIV-1, criada com suporte do Ministério da Saúde e da UNAIDS/OMS para mapear a diversidade genética do vírus no país e orientar a seleção de potenciais vacinas e medicamentos anti-Aids a serem utilizados por brasileiros.
  • Total de casos de AIDS notificados no Brasil: 16.760.

 

1994

  • Passou a ser estudado um novo grupo de drogas para o tratamento da infecção, os inibidores de protease. Essas drogas demonstraram potente efeito antiviral isoladamente ou em associação com drogas do grupo do AZT (daí a denominação "coquetel"). Houve diminuição da mortalidade imediata, melhora dos indicadores da imunidade e recuperação de infecções oportunistas. Ocorreu um estado de euforia, chegando-se a falar na cura da AIDS. Entretanto, logo se percebeu que o tratamento combinado (coquetel) não eliminava o vírus do organismo dos pacientes. Some-se a isso também os custos elevados do tratamento.
  • É criado a UNAIDS, integrado por cinco agências de cooperação de membros da ONU com o objetivo de defender e garantir uma ação global para a prevenção do HIV/Aids (Unicef; Unesco; UNFPA; OMS; e UNDP), além do Banco Mundial.
  • Brasil registra 18.224 casos

 

1995

  • Até esse ano, a assistência medicamentosa era precária, contando somente com AZT, Videx e DDc.
  • Uma nova classe de drogas contra o HIV, os inibidores de protease (dificultam a multiplicação do HIV no organismo), é aprovada nos EUA. Conceito HAART.
  • Os números de casos no Brasil já somam 19.980.

 

1996

  • Programa Nacional de DST e Aids lança o primeiro consenso em terapia antirretroviral
  • A Lei 9.313 estabelece a distribuição gratuita de medicação gratuita para tratamento da AIDS.
  • Casos da doença no Brasil somam 22.343.

 

 1997

  • Implantação da Rede Nacional de Laboratórios para o monitoramento de pacientes com HIV em terapia com antirretroviral, com a realização de exames de carga viral e de células CD4
  • Morre o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Hemofílico, contaminado pelo HIV por transfusão de sangue, defendia o tratamento digno dos doentes de Aids.
  • Já são 22.593 casos

 

1999

  • O governo federal divulga redução em 50% de mortes e em 80% de infecções oportunistas, em função do uso do coquetel anti-Aids, e a qualidade de vida dos portadores do HIV melhora
  • Número de medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde já são 15.

 

2000

  • Cinco grandes companhias farmacêuticas concordam em diminuir o preço dos medicamentos utilizados no tratamento da Aids nos países em desenvolvimento, o que ocorreu devido a um acordo promovido pelas Nações Unidas.
  • No Brasil, aumenta a incidência em mulheres 2:1

 

2001

  • No Brasil, é implantada a Rede Nacional de Laboratórios para Genotipagem. Organizações médicas e ativistas denunciam o alto preço dos medicamentos nos países em desenvolvimento. O HIV Vaccine Trials Network (HVTN) planeja a realização de testes com vacinas em vários países, incluindo o Brasil.
  • Em duas décadas (1980 – 2001), o total de casos de aids acumulados são de 220.000. 

 

2003

  • Realização do II Fórum em HIV/Aids e DST da América Latina, em Havana, Cuba.
  • O Programa Nacional de DST/Aids recebe US$ 1 milhão da Fundação Bill & Melinda Gates como reconhecimento às ações de prevenção e assistência no país. Os recursos foram doados para ONGs que trabalham com portadores de HIV/Aids. O Programa é considerado por diversas agências de cooperação internacional como referência mundial.

 

2006

  • No Brasil, o preço do antirretroviral Tenofovir foi reduzido em 50%.
  • Brasil reduz em mais de 50% o número de casos de transmissão vertical

 

2008

  • É inaugurada a primeira fábrica estatal de preservativos do Brasil e a primeira do mundo a utilizar o látex de seringal nativo no Acre.
  • É concluído o processo de nacionalização de um teste que permite detectar a presença do HIV em apenas 15 minutos. Fiocruz pode fabricar o teste, ao custo de US$ 2,60 cada. Governo gastava US$ 5 por teste.
  • O país investe US$ 10 milhões na instalação de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique.
  • Prêmio Nobel de Medicina é entregue aos franceses Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier pela descoberta do HIV, causador da aids.  

 

2009

  • Programa Nacional de DST e Aids torna-se departamento da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e o Programa Nacional para a Prevenção e Controle das Hepatites Virais é integrado a ele.

 

2010

  • Pesquisadores da Universidade de Medicina de Berlim anunciaram ter curado Timothy Ray Brown, de 44 anos, usando células-tronco adultas retiradas da medula óssea de um doador que era imune ao vírus HIV, por causa de uma mutação genética. Mais de três anos depois do procedimento, não foram detectados sinais do vírus no corpo do paciente, o que, segundo os médicos, “sugere fortemente que o paciente foi curado”. Entretanto, os pesquisadores alertaram que a técnica é muito arriscada para se transformar em um tratamento padrão.
  • Desde o início da epidemia, são notificados 592.914 casos.
  • São distribuídos 493 milhões de unidades de preservativo masculino no país.

 

2011

  • PEP sexual é introduzida no SUS.

 

2012

  • Ampliação do uso precoce de antirretrovirais CD4 igual ou menos que 350células/mm³.

 

2013

  • Anúncio do "3 em 1", unindo as drogas Lamivudina, Tenofovir e Efavirenz em um único comprimido. O uso dos medicamentos antirretrovirais é indicado para qualquer fase da doença. Teste rápido através do fluído oral é anunciado para venda em farmácia.
  • TASP como prevenção do HIV é adotada no país;
  • Teste rápido através do fluído oral é anunciado para venda em farmácia; ONG capacitadas
  • É anunciado ao mundo a cura de uma criança infectada com o vírus HIV. A notícia foi comemorada como um avanço no tratamento de recém-nascidos infectados com a doença. Tratava-se de uma menina nascida na zona rural do Estado de Mississipi, nos Estados Unidos, que recebeu doses maciças de antirretroviral apenas 30 horas após o nascimento, procedimento que usualmente é feito – e em dosagens menores – somente a partir dos quatro meses.

 

2014

Após uma Conferência médica internacional sobre Aids e o Vírus HIV, nos Estados Unidos, cientistas anunciam um novo tratamento, em que ao invés de tomar vários remédios diariamente por toda a vida, portadores do vírus poderiam tomar uma única injeção de tempos em tempos.

Usando uma técnica batizada de "edição genética", cientistas americanos retiraram células do sistema imunológico de 12 pacientes. Em laboratório, modificaram o DNA para tornar as células mais resistentes ao HIV. E injetaram o material de volta no organismo. Metade dos pacientes deixou de tomar os medicamentos tradicionais por um tempo. Mesmo assim, na maioria, os níveis de HIV caíram e ficaram baixos por vários anos. 

Os pesquisadores esclareceram que não se trata de cura. Mas de uma forma de melhorar a resistência e a saúde dos pacientes.

2017

  • Ministério da Saúde anuncia adoção de uso preventivo de pílula anti-HIV
  • Sistema Único de Saúde (SUS) anuncia incorporação e distribuição do medicamento Truvada (TDF/FTC) para prevenção do HIV em todo o Brasil (PrEP)
  • 850.000 casos de HIV/AIDS no Brasil