O inédito apagão de pesquisas eleitorais no Paraná, provocado pelas seguidos pedidos de impugnação do candidato do PSDB ao governo do Estado, Beto Richa, ganhou ontem as manchetes dos principais veículos de comunicação do País, e críticas de entidades de defesa do direito à informação. Desde o último dia 16 de setembro, quando foi divulgado um levantamento do Datafolha, nenhuma pesquisa sobre a disputa pelo governo pode ter seus resultados conhecidos pelo eleitorado, graças à ação do candidato tucano, que alega problemas de metodologia nos levantamentos.

A notícia ocupou cerca de cinco minutos na edição de ontem à noite do Jornal Nacional – telejornal de maior audiência do País – na Rede Globo. Na reportagem, a emissora destacou que as ações de Richa contra as pesquisas coincidiram com o momento em que ele viu sua vantagem inicial em relação ao principal adversário, Osmar Dias (PDT) se reduzir, aproximando-se do empate técnico, e indicando uma tendência de virada na disputa estadual em favor do pedetista. Apontou ainda que o tucano não questionou as pesquisas anteriores, em que ele aparecia na frente. Desde então, além do Datafolha, Ibope, Vox Populi e outros institutos tiveram suas pesquisas barradas na Justiça a pedido do tucano. Com isso, o Paraná se tornou o único Estado do País a chegar à reta final da eleição sem números disponíveis sobre a disputa pelo governo.

A última pesquisa divulgada fo Datafolha, que ouviu 1.246 pessoas entre os dias 13 e 14 de setembro, com margem de erro de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos, foi registrada no TRE-PR com o número 21.776/2010 e no TSE sob o nº 30.034/2010. Nela, Richa aparecia com 45% das intenções de voto, contra 40% de Osmar. Com a margem de erro, os dois estariam empatados tecnicamente.
Ao mesmo tempo em que barrava as pesquisas dos institutos de renome nacional, Richa foi autuado pela Justiça por divulgar, através de correio eletrônico, levantamento não registrado oficialmente, apontando que ele estaria na frente. Além disso, o tucano continuou utilizando pesquisas anteriores do Ibope – que usou as mesmas metodologias das pesquisas recentemente impugnadas – divulgado números apontando suposta vantagem para ele nas intenções de voto.

Condenação – A atitude de Beto Richa de impugnar todas as pesquisas suscitou esta semana reações contrárias também na imprensa escrita de todo o País. A Folha de São Paulo destacou ontem a informação, em manchete de primeira página, sob o título Tucano obtém no PR censura a nova pesquisa Datafolha, relatando a impugnação do levantamento registrado no último final de semana, que seria divulgado hoje. O jornal não deixa de notar a contradição de Richa, que no início da campanha alardeava os números dos mesmos institutos que agora questiona. São os mesmos institutos de pesquisa cujo resultado, quando Richa liderava as pesquisas, tinham os números divulgados ao público no horário eleitoral do tucano na TV e no rádio, lembra a reportagem de Dimitri do Valle.

Em artigo na página 2 sob o título Censura não tem partido, o jornalista Fernando Rodrigues afirmou que a ação do tucano paranaense seria mais um exemplo do atraso mental no meio político brasileiro quando se trata de conviver com as diferenças ou más notícias. Os pedidos de censura começaram a aparecer justamente quando Beto Richa caiu nas pesquisas, destaca Rodrigues. Há cerca de dez dias ele (Beto) passou a perder pontos para Osmar Dias (PDT). O tucano não teve pudor. Partiu para a censura.

O argumento usado por Beto para impugnar as pesquisas, a falta de ponderações estatísticas, trata-se de um cálculo bizantino, diz Rodrigues. Segundo o Datafolha, o argumento utilizado para a censura é infundado. A ponderação só é necessária em caso de eventuais desvios da amostra, afirma a reportagem.

Em sua coluna na revista IstoÉ, o jornalista Paulo Moreira Leite também lamentou a situação no Paraná, lembrando das acusações dos tucanos no âmbito nacional de tentativa de cerceamento da liberdade de imprensa por parte do presidente Lula.  Trata-se de um caso didático para quem levou a sério as denuncias de ameaça à liberdade de imprensa levantadas nos últimos dias. Eu sempre disse que eram acusações de fundo eleitoral. O vexame paranaense demonstra isso, argumentou.
Os tucanos acusam os petistas de pressionar a imprensa para não publicar notícias desagradáveis. Mas, na hora da dificuldade, é o PSDB quem parte para a truculência, analisa.

Para o candidato do PDT, Osmar Dias, não há dúvida sobre a motivação do adversário na briga contra as pesquisas. Porque as pesquisas eram tão interessantes no início da campanha eleitoral?, questionou.