RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em visita ao Rio de Janeiro, o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, elogiou a atuação do Brasil diante da crise da Venezuela.

Segundo Mattis, Washington está ciente das dificuldades econômicas e políticas atravessadas pelo Brasil, mas elogia a abertura das fronteiras para refugiados do país vizinho e o repúdio ao ditador Nicolás Maduro.

Mattis afirmou que a Venezuela tem um regime opressivo que lança mão de ações desestabilizantes na região.

Mattis deu palestra para jovens oficiais das Forças Armadas na Escola Superior de Guerra, na Urca (zona sul).

A visita é parte dos compromissos do secretário pela América Latina, que incluiu reunião em Brasília com o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, e o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, na segunda (13). Ele ainda passará por Argentina e Chile.

O secretário já havia manifestado na capital federal que esperava que o Brasil liderasse a solução para a crise na Venezuela. Na palestra no Rio, Mattis reforçou que os EUA veem o Brasil como importante líder da América Latina.

O secretário não deu grandes detalhes sobre o objetivo da visita ao Brasil. Segundo ele, a ideia seria fortalecer a “parceria estratégica” com o Brasil na região, além de promover trocas de conhecimento entre as escolas de guerra dos dois países.

Acredita-se que será discutida a possível compra da Embraer pela americana Boeing, além da possibilidade de uso pelos EUA da base de lançamento de mísseis da Força Aérea Brasileira em Alcântara, no Maranhão.

Devido a questões legais, Mattis evitou fazer comentários específicos sobre a possibilidade de compra da Embraer. Ele disse, porém, que vê com bons olhos sempre que os EUA fazem uso de tecnologias estrangeiras de defesa.

“Queremos fazer o máximo com nosso equipamento, mas não temos problema em utilizar tecnologias de outros países.”

Ele foi breve ao falar sobre a chamada força militar espacial lançada pelos EUA. Segundo Mattis, sua criação é uma espécie de resposta às ações de China e Rússia no espaço.

“Nossa intenção não é militarizar o espaço, mas não poderíamos observar ociosos os movimentos de outros países nesse sentido. Não queremos lutar a última guerra, mas seria pouco prudente se não pudéssemos nos defender.”

Para o secretário, a luta contra o terrorismo internacional mudou nos últimos anos. Os EUA têm ensinado aos jovens soldados sobre a necessidade de se manter padrões éticos no campo de batalha. Ele afirmou que não é mais possível combater o inimigo sem considerar a população civil.

“Nós ensinamos aos soldados que se para matar um terrorista o soldado tenha de atirar em um mercado cheio de gente inocente, que ele não faça e cace-os depois. A estratégia tem de ter um toque humano para que o jovem soldado saiba o que fazer numa situação como essa.”

O secretário chegou ao Rio na noite de segunda. Na madrugada de terça, ocorreu troca de tiros na favela do Chapéu Mangueira, no Leme, mesmo bairro em que Mattis e sua comitiva estavam hospedados.

Segundo uma funcionária do consulado americano, a comitiva percebeu o barulho dos tiros ainda de madrugada, o que gerou certa tensão.

A funcionária, que pediu anonimato, disse que o primeiro momento foi de apreensão, mas que os tiros foram encarados depois como uma espécie de “boas-vindas do Rio à comitiva”.

A Folha de S.Paulo tentou confirmar a informação com um funcionário do Serviço Secreto americano que acompanhou a comitiva nesta manhã, mas ele não respondeu aos questionamentos da reportagem.