Agência FAPESP – Espécies de três gêneros de morcegos frugívoros são os atores principais de uma técnica inovadora para o reflorestamento de áreas degradadas, desenvolvida por biólogos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Embrapa Florestas, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Colombo (PR).

Os morcegos, que voam por grandes distâncias e se alimentam de frutas, carregam no intestino sementes de espécies pioneiras, consideradas as mais importantes na redefinição da estrutura vegetal de uma floresta e que, por isso, devem ser plantadas antes de qualquer outra espécie. Ao defecar durante o vôo eles fazem o plantio natural das sementes.

A técnica funciona com base na atração dos morcegos por meio de óleos essenciais isolados a partir de frutos usualmente consumidos por eles, em especial dos gêneros Ficus, Solanum e Piper, acelerando a dispersão de sementes em regiões que precisam ser convertidas em florestas novamente para atender à legislação ambiental, como áreas de agricultura e pastagem abandonadas.

“Como os morcegos são atraídos pelo aroma dos óleos essenciais, nós os induzimos a depositar em locais que desejamos recuperar sementes contidas em suas fezes, colhidas em regiões não degradadas. Dessa forma, podemos aumentar a chuva de sementes vegetais de interesse em qualquer região devastada”, disse um dos autores do trabalho, Gledson Bianconi, pesquisador do Instituto de Biociências da Unesp, em Rio Claro (SP), à Agência FAPESP.

O estudo, desenvolvido em parceria com a pesquisadora Sandra Bos Mikich, da Emprapa Florestas, trabalhou com morcegos frugívoros de três gêneros: Artibeus, Carollia e Sturnira, comuns em matas brasileiras e em outros países das Américas do Sul e Central.

“Escolhemos os morcegos porque, além de voar por longas distâncias, esses mamíferos têm um consumo preferencial de frutos de plantas utilizadas na recuperação de áreas florestais. Outra vantagem é que eles defecam muito rápido, minutos após o consumo de alimento”, conta o pesquisador da Unesp.

O trabalho ficou em primeiro lugar na 11ª edição do Prêmio Ford Motor Company na categoria Iniciativa do Ano em Conservação, concedido pela Ford Brasil e pela Conservação Internacional do Brasil.

Vôos intensos

Testes para a validação da técnica foram realizados em uma área degradada da Mata Atlântica no entorno do Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo, no município de Fênix, no Paraná. Os óleos essenciais dos frutos foram impregnados em septos de borracha, estruturas de aproximadamente 1 centímetro que retêm por mais tempo os odores no ambiente.

“Dividimos parte da região em parcelas de 1 hectare e colocamos os septos para fazer a contagem dos animais atraídos pelo cheiro, utilizando filmadoras com infravermelho”, explicou Bianconi. Em cerca de uma hora de observação noturna os pesquisadores identificaram mais de 50 vôos de morcegos sobre cada uma das parcelas nas quais foram instalados os atrativos odoríferos.

O mesmo tempo de observação foi destinado para outras parcelas de terra, também com 1 hectare cada e utilizadas como controle, porém sem os odores. “Nessas áreas, contamos menos de 20 vôos por hectare, menos da metade daquelas que continham os aromas”, disse Bianconi.

Com o auxílio de botânicos da Universidade Federal do Paraná, a pesquisa está em fase de avaliação quali-quantitativa do crescimento das plantas que germinam na área de pesquisa em Fênix.

“Estamos também realizando outros testes em cativeiro, no laboratório e no campo para descobrir e isolar os compostos químicos dos óleos essenciais que são responsáveis pela atração dos morcegos, com o objetivo de sintetizar esses compostos para produzi-los em larga escala. Dependendo da espécie do fruto, cada óleo pode ter dezenas de compostos”, contou Bianconi.