“Falido e sem perspectiva”. Essa é hoje a situação das companhias circenses, segundo carta divulgada na última semana pelo Fórum Setorial de Circo do Paraná (FSCP). Endividado após praticamente um ano sem público e ainda impedido de trabalhar por conta das restrições impostas para o enfrentamento da crise sanitária, o setor soltou na última semana um grito de socorro à sociedade, com o lançamento da campanha “Adote um Circo Brasileiro.
Segundo levantamento do próprio Fórum, existem hoje, registrados ou instalados em algum município paranaense, pelo menos 37 circos, com 827 integrantes nessas companhias. O grande temor, relata Marcio Francisco, presidente do FSCP e dono do The Big Circus, é que grande parte dessas empresas, quando autorizadas a retomar os espetáculos, já não tenha mais condição de iluminar o picadeiro.
Não é exagero dizer que a arte milenar, após tempos caminhando tremulamente sobre a corda bamba, pode acabar finalmente beijando a lona. Nos anos 1970, por exemplo, haviam mais de 2 mil companhias circenses espalhadas pelo país. Já no ano passado, o Mapeamento dos Circos no Brasil, divulgado no final de julho pela Fundação Nacional de Artes (Funartes), apontava que apenas 645 circos resistiam em todo o país. Diante do cenário atual, é possível esperar que esse número diminua ainda mais nos próximos anos.
“A situação dos circos do Paraná, acho que do Brasil inteiro, é lamentável, de profundo desespero. Alguns não vão voltar, está correndo risco de extinguir o circo. Pessoal está vendendo caminhonete, lona… Tem palhaço vendendo sapato para poder comer, gente, motoqueiro vendendo o globo da morte”, relata o presidente do Fórum Setorial. “O circo está numa situação lamentável, de profunda tristeza, profundo desespero. Falta alguém olhar para nós. O que levamos 50 anos para construir estamos perdendo tudo em um ano”, diz.
Para evitar que a situação se agrave mais, os circos se uniram e estão convocando o Poder Público e a sociedade civil para participar da campanha “Adote um Circo Brasileiro”. A ideia é que empresas, cooperativas, ONGs e mesmo pessoas físicas abracem a iniciativa, colaborando com contribuições de todo o tipo (materiais de trabalho, ajuda financeira ou donativo de alimentos). As doações financeiras serão destinadas para a compra de medicamentos, produtos de limpeza e manutenção, compra de roupas e calçados, entre outros. Já os itens doados serão compartilhados entre os colaboradores do circo de forma equânime.
A ideia é que, através do Fórum, as pessoas (físicas e jurídicas) cheguem até um circo, escolham uma companhia para apadrinhar e ajudar. “É só entrar em contato conosco e daí passamos o contato direto do circo. Além disso, empresários, governantes e moradores também podem chegar e fazer um acerto direto com o circo, fazer troca, oferecer patrocínio, permuta… Não queremos nada de graça, mas pedimos que nos ajudem hoje para que os seus filhos não fiquem sem circo amanhã. Precisamos manter viva a arte do circo, que é a arte mais pura. O circo corre o risco de acabar”, desabafa Marcio.
Em um ano, dois dias de espetáculo e pouco público
A situação do Circo Imperial Kartoon retrata bem o momento que vive o setor. Quando teve início a pandemia, a companhia estava instalada em Tomazina, onde vinha se apresentando há cerca de duas semanas. Com o início da crise sanitária, o circo fechou para o público e só conseguiu autorização para retomar os espetáculos em novembro, no município de Jaboti. Foi gasto dinheiro com a mudança, locação de terreno, divulgação em redes sociais, por carro de som, panfleto.
“Minha estreia seria numa sexta-feira. Na quinta-feira veio um decreto estadual e avisaram que não poderia estrear”, relata Diego Pereira Marinho, proprietário do circo, que semanas depois conseguiu finalmente inaugurar o circo na cidade. “Estreei numa sexta, final de novembro. 42 pessoas, movimento fraco. Mas antes pouco movimento do que nada. No sábado caiu para 25 pessoas o público e no domingo não deu ninguém, cancelei a sessão. A gente ia pro segundo final de semana de espetáculo, mas daí veio outro decreto fechando tudo de novo e tive o alvará cassado. Nunca mais reabrimos. Então trabalhei dois dias, uma sexta e um sábado, ao longo de todo um ano e ainda foi com pouco público”.
Para sobreviver, o circo está tentando vender maçã do amor e outros produtos nas cidades da região. “Mas não está dando, o combustível está muito caro, está caro repor os produtos, não está dando lucro”, diz Diego. Outra saída foi buscar trabalho fora do circo, encontrar um emprego temporário em outra área, mas não tem sido fácil encontrar serviço. “Nossa situação está mais do que crítica, porque uma hora vão liberar a gente para trabalhar, mas não vou ter condição financeira de me erguer e sair daqui.”
‘Povo já ajudou demais, mas agora também está sofrendo’
Proprietário do Circo Imperial Kartoon, que hoje está parado em Jaboti, no Norte Pioneiro do Paraná, Diego Pereira Marinho comenta que a situação das companhias circenses só não é mais dramática graças ao povo, que desde o início está ajudando com doações. Após mais de um ano de pandemia, contudo, a condição dessas pessoas piorou de forma geral e, consequentemente, o auxílio também minguou.
“Nos primeiros meses [de pandemia] fomos muito ajudados. Agora, a maioria do povo também está precisando de ajuda”, diz Marinho, em discurso reforçado por Marcio Francisco. “A população apoiou circo de braços abertos, mas agora está faltando para eles também; As doações não estão vindo mais e a situação é cada vez mais lamentável”.
Em alguns lugares, as prefeituras têm ajudado as companhias oferecendo espaços para os trabalhadores ficarem e isentando a cobrança de água e luz. Mas não é a realidade da maioria. “Maior parte está pagando luz, água, gás, aluguel… Mistura, mistura está virando relíquia na comida”, diz Mario. “A população já fez sua parte, contribuiu. Agora pedimos aos empresários, aos governantes, para que olhem pelo circo. Agora é a hora de ajudar, o circo precisa de socorro desesperadamente”, finaliza o presidente do FSCP.
Como ajudar
Quem quiser colaborar com os circos pode entrar em contato com o Fórum Setorial de Circo do Paraná (FSCP) por meio de Marcio Francisco, presidente, pelo telefone (41) 99869-6086. Outra opção é o e-mail [email protected], ou ainda é possível entrar em contato diretamente com o circo de sua cidade ou o circo com o qual deseja contribuir. Confira a lista abaixo, com o total de circos registrados no Paraná ou que estão instalados em algum município paranaense.
Onde estão os circos do Paraná e seus contatos
Nome do circo | Responsável | Município | UF | Integrantes | Contato |
Circo Astros | Tarcísio Thiago Vieira Borges | Lobato | PR | 18 | 44 99948-7373 |
Circo Balão Mágico | Tiago Borges | Lobato | PR | 50 | 44 9999-5594 |
Circo Mundo Mágico | Francisco Vieira | Lobato | PR | 25 | 44 9932-9032 |
Circo Sofia | André Gomes da Silva | Lapa | PR | 8 | 42 98885-6977 |
Circo Pantanal | Hernandez | Boa Esperança | PR | 10 | 53 9968-5104 |
Circo Cassaly | Roberto Cassaly | Curitiba | PR | 12 | 41 99574-0200 |
Circo Troy | Wagner | Rio Grande | RS | 10 | 42 98885-6977 |
Circo Di Italia | LUIZ ROBATINY | Jacarezinho | PR | 15 | 41 99823-7667 |
Circo Di Sarah | ODAIR FARIAS | Boa Esperança | PR | 36 | 44 99860-0299 |
Circo do Pimentinha | Márcia R. E. Guidolin, Vila Zumbi | Curitiba | PR | 10 | 41 99797-2991/ 41 99602-8757 |
Circo Maximus | Ben Hur Vieira | 70 | 44 99972-8687 | ||
Circo Fantastico | Junior | 40 | 44 99911-2772 | ||
Circo Vitaly | Diego Henrique Bertoli | Fazenda Rio Grande | PR | 10 | 47 99900-5099 |
Euro Cirque | Luis Diorio | São José dos Pinhais | PR | 30 | 47 99761-4641 |
Circo Globo | Clóvis | Monte Castelo | PR | 22 | 44 99836-4736 |
Circo Imperial Kartoon | Diego Pereira Marinho | Tomazina | PR | 20 | 41 99686-0941 |
Circo Lisboa | João Paulo Gonçalves Borges | Wenceslau Braz | PR | 16 | 14 99897-9997 |
Circo Los Agady | Marcio | Rio Branco do Sul | PR | 38 | 11 97447-0660 |
Circo Max | NORBERTO FARIAS | Candido Farias | PR | 30 | 44 99917-1702 |
Circo Maximo | NEGO FARIAS | Caimbra | PR | 18 | 44 99700-3069 |
Circo Romany | Walter Cabral | Sao Jose dos Pinhais | PR | 15 | 41 99605-2938 |
Circo Rhoney Espetacular | Oney Newton Salgueiro Filho | Campo Mourão | PR | 38 | 47 99917-9598 |
Circo Tchê | Vanderlei Carlos Scaranto | Rio Azul | PR | 9 | 46 99985-7440 |
Circo Teatro Fantasy | Luiz Augusto Salgueiro | Curitiba | PR | 25 | 41 99910-8741 |
Circo Vostok | Fábio Meneses de Lima | Curitiba | PR | 38 | 41 99986-2394 / 48 9963-4803 |
Circo Zanchettini | Edlamar Maria Cabral Zanchetin | Campo do Tenente | PR | 25 | 41 99995-5497 |
Kazini Bros Circus | Luana/ Walter A. de A. Salgueiro | São José dos Pinhais | PR | 10 | 41 99219-2165/ 47 99668 9370 |
Star Magic Circo | Rodrigo Reis Amaral | Londrina | PR | 20 | 43 99678-6415 |
Super Star Circus | Jesus Maria Leopoldo Vieir | Lobato | PR | 40 | 43 99900-8621 |
Listan Circus | Antonio marcos andrade | Nova Fatima | PR | 8 | 41 99108-4005 |
Circo Disney | Ney | Manduri | PR | 15 | 14 98209-5938 |
Circo Fantasy | Sheila Farias de Freitas | Cequeira Campos | PR | 23 | 14 99898-9892/48 99832-4764 |
Circo Romanos | Roberto Gomes da Silva | SAO BENTO DO SUL | SC | 15 | 41 99603-8458 |
Circo Piska Piska | Gilson | Andira | PR | 14 | 14 99787-3272 |
Circo Maxter | Guilherme Salgueiro | sitio cercado | PR | 12 | 41 98504-9505 |
Circo Hermanos Rodrigues | Jorge Rodrigues | Glória de Dourados | MS | 15 | 67 99818-7982 |
The Big Circus | Marcio Zanchettini | Curitiba | PR | 17 | 41 99869-6086 |