Jaelson Lucas / ANPr – Em dois meses de temporada

Golfinhos, tartarugas, peixes, aves e vários outros animais que vivem nos oceanos confundem plástico com comida e morrem por asfixia, inanição ou por fome, já que o resíduo impede a ingestão e a absorção de alimentos. Imagens da fauna marinha saudável e dos impactos sofridos por esses animais pela ingestão de resíduos fazem parte do trabalho da Sanepar com os quase 100 envolvidos nas atividades de limpeza das praias.

“Essa capacitação ajuda nossos coletores a visualizarem a extensão do benefício que a coleta de lixo traz para os oceanos, e que vai além do que podemos perceber apenas olhando a areia limpa”, diz a bióloga Ana Cristina do Rego Barros, educadora ambiental da empresa e responsável pelo treinamento.

Pesquisa divulgada pela Fundação Ellen MacArthur em 2017 afirma que se o uso de plástico continuar crescendo na proporção atual, sem reciclagem, em 2050 haverá mais plástico que peixes nos oceanos. A instituição estima que cerca de 8 bilhões de toneladas do material já são despejados nos mares todos os anos, o que pode ser comparado a um caminhão de lixo por minuto.

No Litoral do Paraná, o trabalho de coleta de lixo, executado pela Sanepar, tenta reduzir esses números. Em dois meses de temporada, a empresa já retirou das areias 570 toneladas de resíduos dos tipos mais diversos. Quase 27 toneladas desse material apenas no primeiro dia de 2019. O trabalho é feito ao longo de 48 quilômetros de orla, de Pontal do Paraná até Guaratuba. As prefeituras municipais fazem a destinação dos resíduos.

“Os coletores percebem que está havendo uma redução no volume de lixo deixada na praia, mesmo quando a quantidade de pessoas não diminui na temporada. Isso demonstra uma mudança de comportamento no veranista que ou está trazendo menos lixo para a orla ou está levando os resíduos de volta”, destaca o supervisor dos coletores de Matinhos, David Pereira Machota.

Ana Cristina explica que esse comportamento observado por David e pelos coletores é muito importante. “Eliminar o lixo das praias é muito importante para a preservação dos oceanos. Isso pode ocorrer tanto pela conversa que os coletores têm com os veranistas ou mesmo pelo exemplo que eles dão, silenciosamente, dia após dia, com o seu trabalho de limpeza. Ver a praia limpa, ver alguém trabalhando para que ela esteja limpa ajuda a modificar o comportamento da população”, diz.

SEM FRONTEIRAS – A bióloga conta que as fotos usadas no treinamento são de diversas partes do mundo e que o lixo jogado nos mares pode ter consequências em locais bastante distantes.

De acordo com ela, pesquisadores já demonstraram que os resíduos chegam a locais muito remotos, nunca habitados, e que existem ilhas inteiras só de lixo. “O impacto de um elemento poluente é muito difícil de medir, mas sabemos que diversos resíduos, como o plástico, não trarão nenhum benefício para a fauna e a flora marinhas. Vão apenas causar morte e poluição. Em alguns casos também podem contaminar quem consome esses animais”, disse.

Ana Cristina destaca que os coletores não apenas limpam a faixa de areia usada pelos veranistas, mas contribuem para um ecossistema mais preservado. “Com o treinamento mostramos que o impacto da poluição gerada pelos resíduos descartados erroneamente é enorme. Também ensinamos como é grande o benefício gerado pela coleta e pelo destino correto do lixo”, conta.

De acordo com Ana, o treinamento é ainda mais relevante porque muitos dos coletores contratados pela Sanepar na temporada trabalham na coleta de recicláveis nas cidades litorâneas durante o restante do ano. “O treinamento em educação ambiental é para a vida inteira”, afirma.

REDUZIR – Segundo a pesquisadora Camila Domit, do Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a limpeza das praias é muito importante, mas a mudança de comportamento é fundamental para a preservação da vida marinha.

“É evidente que os resíduos sólidos que chegam ao nosso Litoral causam a morte de uma série enorme de animais, de diferentes espécies, e em grande quantidade. Entretanto, o lixo responsável por essa mortalidade não é só aquele deixado na praia, mas todo aquele que é descartado indevidamente e acaba chegando ao mar, de alguma forma”, explica a pesquisadora.

Camila acrescenta que, além do descarte correto, ainda é preciso reduzir a quantidade de resíduos que gerados porque chegou-se em um ponto em que não é suficiente apenas reciclar ou dar o destino correto ao que já se usou. “Precisamos reduzir a quantidade do que iremos usar”, diz a especialista, que é responsável pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR, com enfoque em estudos com mamíferos e tartarugas marinhas.