Valquir Aureliano

“Impossível” é uma palavra que Natãmy Nakano ainda não descobriu no dicionário. Diagnosticada com Síndrome de Asperger (um tipo de autismo) aos 13 anos e com altas habilidades, a adolescente, hoje com 15 anos, se tornou recentemente um dos estudantes mais jovens a ser aprovado no curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e já se prepara para o início das aulas, marcado para o próximo dia 4.

 Desde pequena, com apenas dois anos de idade, Natãmy já sabia o que queria ser quando crescesse. “Tive tumor quando a Natãmy tinha um ano e meio. Pouco depois disso ela já começou a dizer que queria ser médica”, recorda Andréia Pichorim, mãe de Natãmy e que, assim como a filha, também é portadora da Sídrome de Asperger e possui altas habilidades.

 Em setembro deste ano, quando a menina completar 16 anos, estará perto de terminar o primeiro ano de seu sonhado curso. Mas não o seu primeiro ano como universitária. Alfabetizada com apenas dois anos de idade, Natãmy presta vestibulares desde os 11 anos. Aos 13, já havia conquistado uma vaga em Engenharia de Bioprocessos na Universidade Positivo e, no mesmo ano, se tornou aluna to técnico em gás e petróleo da UTFPR, se tornando a mais jovem acadêmica do país.

 A inteligência extrema, contudo, não significou uma vida fácil, até por conta do autismo. “A vida inteira falaram que eu era estranha, parecia louca. Quase não tive amigos no Ensino Fundamental e as vezes parecia que estava perdendo tempo. Era muito solitária”, conta a jovem, que também tem hipersensibilidade nos sentidos, o que a leva a sentir incômodo e até dor física com coisas que outras pessoas nem percebem, como cheiros, barulhos mais altos, corte de cabelo ou até de unha.

“Eu também tinha alta habilidade e Asperger e como eu tinha as mesmas dificuldades que ela, achei que o resto do mundo também era assim”, destaca Andréia, que só descobriu sobre a condição especial da filha quando ela já tinha 13 anos.

 “Eu percebia também que não me enquadrava como superdotada. Então, quando veio o diagnóstico (de Asperger), foi como se essas perguntas tivessem sido respondidas”, relata Natãmy, que ainda faz um apelo aos pais com filhos autistas. “Se você tem um filho autista, aceite isso. Com esforço ele pode conquistar até mais coisas do que uma pessoa normal.”

Para a mãe Andréia, o que fica é o sorriso estampado no rosto enquanto olha a sua pequena. “Como mãe, como professora, me sinto feliz”, diz ela, ao que a garota emenda: “Toda essa garra e determinação eu tenho por causa do meu exemplo. É o melhor exemplo que eu poderia ter tido.”