Quando correu a Maratona de Londres, em 2019, com o tempo de 2h11min10, o brasileiro Daniel Chaves sabia que estava bem próximo da vaga nos Jogos de Tóquio. Ele correu 20 segundos abaixo do índice olímpico, mas, mesmo assim, ainda aguarda a confirmação em 31 de maio – existe um limite máximo de três competidores por país na prova. E, se realmente carimbar sua vaga para ir ao Japão no meio do ano, estará realizando um sonho que já foi adiado por duas vezes.

“A minha vontade de representar o Brasil é muito grande. Ter chegado perto antes, mas não ter disputado, só me motivou ainda mais. Cresci com esse desejo, que foi cada vez despertando mais em mim. Fiquei perto da vaga nos Jogos de Londres, na Olimpíada do Rio eu bati na trave, mas agora tenho o índice e estou maduro. Por isso que minha frustração de nunca ter disputado uma Olimpíada é zero”, diz, otimista.

Para ele, o adiamento dos Jogos de Tóquio por causa da pandemia da covid-19 não atrapalhou seus planos. Pelo contrário. Até ajudou. “Ter um ano a mais para treinar foi uma bênção. Claro que é um susto por tudo que está acontecendo no mundo, tive familiares e pessoas que tiveram grandes perdas, mas ganhei um ano a mais de preparação e isso ajudou no meu amadurecimento como atleta”, conta.

Daniel vive perto de Brasília, em uma zona rural, a 15 quilômetros do Plano Piloto. Até por isso, a pandemia não afetou tanto a sua rotina de treinamento como a de outros atletas. “No começo foi difícil para todo mundo entender o cenário. Mas, aos poucos, as coisas foram melhorando e estou feliz com o trabalho que venho fazendo.”

Ele evita colocar uma meta para os Jogos de Tóquio, mas se inspira em um brasileiro que já fez história na maratona: Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze nos Jogos de Atenas, em 2004. “Vamos deixar a meta aberta. Quero chegar em boas condições e dar meu melhor. Se eu fizer uma boa prova, vai vir um bom resultado. Temos história nessa prova, tenho fé e acho que é possível chegar ao pódio. O Vanderlei já mostrou isso”, lembra ao citar o único pódio na maratona conquistado pelo Brasil em toda história dos Jogos Olímpicos.

A ótima fase contrasta com um período nebuloso logo após os Jogos do Rio. Sem o índice e vendo amigos competindo no evento, ele acabou ficando em depressão. Em uma entrevista para o portal Olimpíada Todo Dia, revelou que perdeu a cabeça, começou a engordar, usou drogas e até pensou em se suicidar. “Cheguei a subir em uma ponte para me jogar”, disse.

Na época ele não tinha patrocínio – e isso ocorreu com muitos após a Olimpíada – e não via na corrida uma possibilidade de vencer na vida. Mas teve forças para voltar a correr e buscou refúgio em um mosteiro no sul de Minas Gerais, vivendo em uma cultura de subsistência e fazendo meditação. Aos poucos foi reencontrando sua vontade de competir e dando passos cada vez mais largos, mostrando uma enorme superação.

Deixando o período difícil para trás e aproveitando a nova fase que lhe permite viver do atletismo, o corredor participou como uma das estrelas do lançamento global de sua patrocinadora de um novo calçado com tecnologia que promete ajudar os atletas. O tênis Adizero Adios Pro, da adidas, traz cinco hastes de carbono mais finas que seguem a linha dos ossos dos pés. Isso, de acordo com a empresa, ajuda a devolver para o maratonista o impulso dado no tênis. “Ele ajuda em todos os sentidos, não somente nos números finais. É uma tecnologia nova que minimiza a perda de energia em contato com o solo. Com isso eu chego ao final da preparação mais inteiro”, explica o corredor de 32 anos.

Foi com esse calçado, por exemplo, que a queniana Peres Jepchirchir quebrou em setembro o recorde mundial na Meia Maratona de Praga, com o tempo de 1h05min34. De olho nos Jogos de Tóquio, a adidas trava, principalmente com a Nike, uma espécie de disputa tecnológica pelo tênis de corrida “mais rápido” do mundo. Em 2017, a Nike inovou ao lançar seu primeiro tênis com a fibra de carbono. Era o Vaporfly 4%, que mostrou nas pistas ser de fato um calçado diferente, que tornava o atleta mais rápido, derrubando recordes. Depois, a marca apresentou um novo modelo com a evolução do produto.

EMPOLGAÇÃO – Por causa do forte calor em Tóquio no período em que serão realizados os Jogos Olímpicos (julho e agosto), a prova de maratona foi transferida para Sapporo, a cerca de 800 quilômetros da cidade-sede. Para Daniel, essa mudança foi boa. “Foi uma decisão técnica, pela questão climática, mas vai ser legal, pois a cidade estará lotada e o calor humano será enorme. Estou bem feliz”, comenta o atleta.

Claro que ele acompanha os desdobramentos do aumento da pandemia do coronavírus no mundo todo, torcendo para que a situação melhore e que os Jogos possam ser realizados neste ano após o adiamento em 2020. Em seus sonhos ele já imagina repetir o feito de Vanderlei Cordeiro de Lima quando se aproximar da linha de chegada.