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Após registrar três mortes por Covid-19 em menos de duas semanas, trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) podem entrar em greve sanitária nos próximos dias. No último sábado (3 de março), inclusive, dirigentes do Sindipetro Paraná e Santa Catarina protocolaram um documento acusando a Petrobras de descumprir o decreto número 7.145, que impôs medidas mais restritivas para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Além disso, há o temor de que a realização de uma parada de manutenção, prevista para acontecer a partir do dia 12 de abril, exponha os profissionais a um risco ainda maior de contaminação.

Presidente do Sindipetro Paraná e Santa Catarina, Alexandro Guilherme Jorge explica que, normalmente, entre 300 e 400 pessoas trabalham diariamente na refinaria. Recentemente, porém, teve início a chamada ‘pré-parada de manutenção’, com o início da montagem de andaimes, retirada de isolamento dos equipamentos da refinaria e trabalho de oficina, com a preparação de tubulações e componentes que já se sabe que serão substituídos. Essa etapa, que já ocorre há cerca de 45 dias, colocou 800 pessoas a mais na rotina da refinaria. E a partir do dia 12 de abril, quando começa efetivamente a parada de manutenção, o número de trabalhadores externos na refinaria subiria para cerca de 2 mil.

Já durante a pré-parada de manutenção, contudo, situações de aglomeração teriam se tornado frequentes na Repar, o que provocou um aumento no número de contaminações entre os trabalhadores. Embora a Petrobras não informe o número de profissionais contaminados pelo coronavírus na unidade, sabe-se que pelo menos três pessoas faleceram em 10 dias, o último óbito tendo sido registrado na quinta-feira (1º de abril), quando faleceu Carlos Eduardo Correa dos Santos, o Cadu, que tinha 45 anos. Pai de gêmeos (um menino e uma menina), ele era supervisor de controle de qualidade da empresa Service Engenharia, contratada para a parada de manutenção da Repar.

“Hoje, a refinaria tem os trabalhadores próprios, que são cerca de 400 pessoas que fazem parte da operação e também do administrativo. Agora, para a parada, vem os contratados temporários, que ficam 45, 60 dias na refinaria. Dois desses que faleceram [Cadu e Rodrigo de Souza Germano, 36 anos] são desses contratos temporários e outro [Marcos da Silva, 39 anos] é um trabalhador que estava há 20 anos na refinaria”, relata Alexandro, comentando ainda que há evidências de que a contaminação desses profissionais ocorreu dentro das instalações da Repar.

“Temos conhecimento que quase uma dezena de colegas do Carlos Eduardo foram contaminados e tiveram de ser afastados por Covid. E o quadro do Cadu evoluiu rápido, deu menos de 20 dias entre o diagnóstico e ele vir a falecer”, explica ainda o presidente do Sindipetro PR/SC, afirmando que na próxima quarta-feira deve ser convocada uma assembleia que decidirá sobre a realização de uma greve sanitária, uma vez que a Petrobras estaria recusando adiar a realização da parada de manutenção.

“Aprova uma greve, aí o trabalhador tem o direito de ficar em casa. É o que estamos vendo de alternativa para esse processo. Nem é greve de fechar fábrica, ir pra frente dos portões. A ideia é dar essa oportunidade do trabalhador se proteger ficando em casa”, finaliza o presidente do sindicato.

Petrobras alega ter adotado ‘medidas robustas de prevenção à Covid-19’

Em nota encaminhada ao Bem Paraná, na qual respondeu alguns questionamentos feitos pela reportagem, a Petrobras esclareceu, primeiramente, que não informa o número de casos de Covid por unidade. Além disso, a empresa também afirmou que tem adotado “medidas robustas de prevenção à Covid-19 desde o início da pandemia”, que estariam entre as mais rigorosas adotadas no segmento da indústria.

“As rotinas de prevenção atualmente utilizadas nas unidades industriais foram intensificadas para que o aumento do efetivo, nas paradas de manutenção, ocorra de forma segura. As ações são abrangentes para todos os colaboradores (empregados e funcionários de empresas prestadoras de serviços)”, diz a Petrobras.

A empresa alega que as paradas de manutenção são realizadas com atendimento aos protocolos do Ministério da Saúde e aos diversos protocolos internos da própria Petrobras, o que incluiria a utilização de máscaras de proteção, adequação dos ambientes e meios de transporte para facilitar o distanciamento social, reforço das ações de limpeza e higienização de ambientes e equipamentos, fornecimento abundante de álcool em gel para limpeza das mãos e medição de temperatura diariamente em todos os trabalhadores antes da entrada na refinaria, assim como ações de conscientização.

“Além disso, são realizados testes rápidos em 100% dos candidatos apresentados pelas contratadas antes de ingressarem na refinaria que são repetidos a cada 14 dias em todo contingente, promovendo o afastamento quando necessário”, alega a empresa na nota encaminhada ao Bem Paraná.

Avaliação de ‘risco versus risco’

A Petrobras também diz que a parada de manutenção estava programada para acontecer em março do ano passado e vem sendo postergada, considerando as análises de cenário da pandemia de Covid-19 e os requisitos técnicos.

“Atualmente estão previstas a parada de parte das unidades a partir de 12 de abril e de outro conjunto de unidades a partir de 26 de abril. O período de duração da parada de manutenção foi ampliado de forma a diminuir a quantidade de trabalhadores a serem mobilizados para realização das atividades, reduzindo assim a concentração de pessoas. Cabe ressaltar que, por questões de segurança e confiabilidade operacional das instalações, não é possível realizar adiamentos indiscriminados da parada de manutenção”, aponta a estatal.

O sindicato, por sua vez, destaca que, neste momento, se faz necessária uma avaliação de ‘risco versus risco’, como explica o presidente do Sindipetro PR/SC. “Essa parada estava prevista pro ano passado, foi adiada em função da pandemia, só que agora chegou esse prazo do adiamento, a pandemia está numa condição pior ainda e não está sendo feita essa reavaliação. Entendemos a necessidade de fazer essa manutenção, inspecionar, mas nesse momento é uma avaliação risco versus risco: o risco de postergar mais um pouco o processo versus o risco de contaminação dos trabalhadores. Aliás, nem é mais risco, é a realidade. As pessoas estão se contaminando na Repar”.