Reprodução – Conceição Evaristo

Às 15h desta segunda-feira (29), quando a brasileira Conceição Evaristo completa 75 anos, ela se encontra virtualmente com a moçambicana Paulina Chiziane para trocar suas “escrevivências” e experiências, em conversa organizada pelo Itaú Cultural e transmitida em seu canal de YouTube www.youtube.com/itaucultural e site www.itaucultural.org.br. Com lirismo e contundência, a obra de ambas trata das vivências das mulheres negras em seus países. Tamanha convergência levou a aniversariante a ler um trecho do livro O Alegre Canto da Perdiz, de Paulina, no podcast do IC Escritores-leitores, em 2019.

Conceição já foi homenageada em mostra da série Ocupação, realizada pelo Itaú Cultural, em 2017, acompanhada de publicação organizada especialmente para esta mostra e na Olimpíada de Língua Portuguesa do Itaú Social, realizada em parceria com o Ministério da Educação (MEC) desde os anos 2000. Em 2019, ainda, ela foi eleita personalidade literária do Prêmio Jabuti, do qual recebeu premiação em 2015 pelo livro Olhos D’água.

Por sua vez, Paulina conquistou o Prêmio José Craveirinha, em 2003, com o livro Niketche: uma história de poligamia. Acaba de ser agraciada com o Prêmio Camões de Literatura, atribuído desde 1988 a autores que contribuíram para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa. É a primeira mulher africana a receber esta premiação. “Não contava com isso. Recebi a notícia e disse: ‘meu Deus! Eu já não contava com essas coisas bonitas!’ É muito bom. Esse prêmio é resultado de muita luta. Não foi fácil começar a publicar sendo mulher e negra. Depois de tantas lutas, quando achei que já estava tudo acabado, vem esse prêmio. O que eu posso dizer? É uma grande alegria”, declarou ela na ocasião.

Mais sobre Conceição

Ficcionista e ensaísta. Mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/Rio), doutora em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF. Sua primeira publicação (1990) foi na série Cadernos Negros do grupo Quilombhoje. Tem sete livros publicados, entre eles o vencedor do Jabuti, Olhos D’água (2015), cinco deles traduzidos para o inglês, francês, espanhol e árabe. Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra. Outros prêmios: Nicolás Guillén de Literatura pela Caribbean Philosophical Association e de Mestra das Periferias pelo Instituto Maria e João Aleixo (2018).  Em 2019, teve três de seus livros aprovados no PNLD Nacional. Ainda no mesmo ano lançou Poemas da Recordação e Outros Movimentos, em edição bilíngue (português/francês) no Salão do Livro de Paris.

Mais sobre Paulina

A escritora cresceu nos subúrbios da capital de Moçambique, Maputo, anteriormente chamada Lourenço Marques. Nasceu em uma família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu o português na escola de uma missão católica. Atualmente, vive e trabalha na Zambézia, província situada na região central de Moçambique, a 1,6 mil quilômetros da capital do país.

Na juventude, participou ativamente na cena política de Moçambique como membro da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), onde, segundo declarou, em entrevista, aprendeu a arte da militância. Deixou de se envolver na política para se dedicar à escrita e publicar suas obras. Entre as razões da sua escolha estava a desilusão com a política do partido Frelimo pós-independência, com suas ambivalências ideológicas internas e diretrizes sobre a mono e a poligamia e pelo que via como hipocrisia em relação à liberdade econômica da mulher.

Primeira mulher a publicar um romance   em Moçambique, iniciou a atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa de seu país. A sua trajetória literária é polêmica sobre assuntos sociais, como a prática de poligamia por lá. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento (1990), ela discute essa prática no sul de Moçambique durante o período colonial. Devido à sua participação ativa nas políticas da Frelimo, a sua narrativa reflete o mal-estar social de um país devastado pela guerra de libertação e os conflitos civis que aconteceram após a independência.

Em 2016, anunciou o abandono da escrita, cansada das lutas travadas ao longo da sua carreira.