Já se tornou um chavão afirmar que um professor do século XX dá aulas para alunos do século XXI exatamente da mesma forma que no século XIX. Isso cansa professores e alunos e faz com que vejam escolas como o lugar do passado, sem conexão com o presente e o futuro; a mudança nas metodologias de ensino é necessária efetivamente. Tornar a escola mais atraente sempre favorece o processo educativo, e hoje os alunos desejam mais tecnologia em sala, são deslumbrados por seus tabletes e celulares, usá-los valoriza as atividades escolares, desperta a curiosidade, moderniza a forma de acesso ao conhecimento, constitui excelente oportunidade de demonstrar que informações excessivas não significam real conhecimento, e que o professor continua indispensável na condução firme e segura do processo didático.
No entanto, assim como uma parte dos docentes resiste ferozmente a entender e utilizar estas ferramentas, outros, mormente os muito jovens, tendem a atribuir a elas toda a responsabilidade pelo ensino e aprendizagem. Ferramentas são importantes, e costumam fazer muita diferença, todo aquele que já tentou pregar um quadro reconhece a utilidade de um martelo, mas ferramentas não são todo o suficiente para atingir o objetivo de ensinar melhor. A habilidade do docente, o bom preparo da aula, a pertinência de suas escolhas na abordagem de alguns temas, a simpatia e o acolhimento do jovem são tão ou mais importantes que todo o aparato tecnológico envolvido.
A dissociação de qualquer destes itens – conteúdo preparado e metodologia utilizada – induz a percepções enviesadas do que é o verdadeiro objeto do saber, trazendo uma visão equivocada que não consegue captar as peculiaridades dos processos cognitivos, desconhecendo ou desconsiderando as determinantes culturais ou mesmo comunitárias do magistério.
É possível usar tecnologia de ponta para conteúdos desnecessários ou não pertinentes à realidade de algum grupo de alunos, o que abordar, como abordar, para quem se destina é fundamental na melhoria da qualidade de ensino. José Pacheco, idealizador da famosa Escola da Ponte em Portugal, uma das pioneiras das novas metodologias, declara sempre que o professor deve usar o seu talento, lecionar da forma que julgar mais adequada à aprendizagem, pois nenhuma inovação didática pode substituir um ser humano interessado e acolhedor.
Em instituições públicas, mantidas pelos impostos de todos, até mesmo daqueles que nunca completarão seu ciclo escolar, já que a evasão é imensa, reflexo da pouca atratividade do sistema de ensino assim como da necessidade da inserção precoce no mundo do trabalho, dois problemas que não temos resolvido ao longo dos anos, a situação é ainda mais crítica.
Por isso, ao lado da atuação docente, o país necessita melhores políticas governamentais no atendimento educacional de seus jovens, o que tem sido exaustivamente demandado por sindicatos e entidades de classe, já que fatores econômicos e políticos afetam diretamente as instituições educacionais. Se forem precárias as atenções ao sistema de ensino, problemas crônicos como deficiências de estrutura física, ausência de laboratórios ou bibliotecas, equipamentos de lazer, materiais didáticos, interferem decisivamente no magistério, e a ausência de uma política salarial e de carreira prejudica a ponto de não conseguirmos suprir as necessidades materiais e culturais estudantis.
Políticas públicas devem relacionar-se com aquelas de ciência e tecnologia, cultura, telecomunicações, já que as trazidas pelas tecnologias da informação e comunicação contribuem para com as profundas modificações na forma de exercer o magistério: professores, estudantes e trabalhadores da educação precisam renovar-se diariamente.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.