Franklin de Freitas – Márcia Huçulak

O último dia de 2019 trouxe a informação de que uma novíssima doença viral havia surgido em Wuhan, na China. Em menos de uma semana, o novo vírus foi reconhecido, recebendo o nome de “2019-nCoV” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O “CoV” é referência à Coronavírus, uma grande família de vírus conhecidos desde a década de 1960 e que podem causar resfriado comum ou mesmo síndromes respiratórias graves.

O boletim mais recente sobre a nova variante do vírus, divulgado ontem, registrava mais de 7 mil infectados em todo o mundo e 170 mortes na China, com uma taxa de letalidade (proporção entre o número de mortes por uma doença e o número total de doentes que sofrem dessa doença), por ora, de 2,08%. A expectativa de pesquisadores é que essa taxa, que deve ser consolidada nas próximas semanas ou meses, fique entre 2 e 5%.

Curiosamente, o temor sobre a doença tem se espalhado mais rapidamente pelo mundo do que o próprio vírus. E, de fato, existem motivos para preocupação. Mas é importante destacar que a letalidade da doença, até aqui, pode ser considerada relativamente dentro dos padrões. Além disso, embora exista o risco de epidemia global, a OMS ainda não declarou o surto de 2019-nCoV como uma situação de Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional. Além da China, Tailândia, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos já confirmaram casos da doença.

Em todo o mundo, a doença que apresenta maior taxa de letalidade é a encefalopatia espongiforme transmissível, uma doença neurológica associada ao mal da vaca louca. Atualmente incurável, a doença possui uma taxa de letalidade de 100%, índice parecido com o da tripánossomíase africana (doença do sono, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé), com letalidade aproximada de 100%.

Na historia, também já foram registradas pandemias com taxa de letalidade mais grave. A varíola, por exemplo, matou 60 milhões de pessoas apenas na Europa ao longo do século XVIII. Na época, a estimativa era que 30% dos pacientes infectados morriam. Já no final século XIX, a tuberculose chegou a matar 80% dos pacientes que desenvolveram a doença, enquanto a famosa peste negra teria exterminado um terço da população europeia e quase metade da população chinesa entre os anos de 1300 e 1600.

Casos suspeitos de Curitiba foram descartados

A Secretaria de Estado da Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba informaram, ontem, que exames clínicos e epidemiológicos descartaram a presença da doença no Estado até o momento. Os casos suspeitos foram divulgados pelo Ministério das Saúde no fim da tarde de terça-feira, e confirmados posteriormete pelos órgãos locais.

Apesar de descartar as suspeitas, o Paraná intensifica as ações para evitar que casos positivos cheguem ao Estado. O Porto de Paranaguá reforçou a fiscalização e a rotina, especialmente com pessoas que tenham vindo de áreas de países afetados.
Ontem, o Ministério da Saúde divulgou novo boletim, com nove casos suspeitos no País em seis estados.

O porquê do temor mundial

Se há tantas doenças mais letais, por que então todo esse alarde com relação ao novo coronavírus? Uma explicação, certamente, é o desconhecimento sobre a doença e o vírus, que ainda estão sendo pesquisados mais detalhadamente — por enquanto, o que se tem são opiniões de especialistas embasadas em algumas poucas informações disponíveis.

Outro ponto é a possibilidade de o vírus se tornar mais potente. Inclusive há doenças causadas por outros tipos de coronavírus com altas taxas de letalidade. A síndrome respiratória aguda grave, que ficou conhecida pela sigla SARS (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome), alcançou uma taxa de mortalidade de 10%. Já a síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é Mers (do inglês Middle East Respiratory Syndrome), teve uma taxa de letalidade reportada em pelo menos 37%.

Por fim, há ainda a taxa de reprodução da doença, que aponta quantas outras pessoas um doente pode acabar infectando dentro de um grupo suscetível. Hoje, a OMS estima que essa taxa ficaria entre 1,4 e 3,3, acima, por exemplo, da gripe sazonal, com 1,3.

Outros grupos que estão pesquisando a 2019-nCoV, contudo, já chegaram a identificar taxas acima de 5 — ou seja, um paciente infectado poderia transmitir a doença para outras cinco pessoas, o que é bastante problemático se considerado que ainda não há uma vacina.

Ontem, o Ministério da Saúde criou um grupo de emergência em saúde pública, com o objetivo de conduzir e monitorar as ações referentes aos casos de coronavírus.
OMS

A atenção que a Organização Mundial da Saúde (OMS) dá para o coronavírus chinês é sobretudo pela capacidade que ele tem em infectar outras pessoas, o que numa escala global, seria mais que procupante.

Apesar disso, alguns infectologistas de renome opinam que o coronavírus é menos grave do que se pensa, apesar da rápida propagação. Um aumento ainda maior no número de casos é esperado e vai atingirá cada vez mais países.

A boa notícia é que as medidas adotadas estão dando resultado e a porcentagem de mortes em relação ao número de casos está diminuindo. Esta epidemia pode se manter por vários meses.

As doenças mais letais no mundo

  • Encefalopatia espongiforme transmissível
    O que é: Doença neurológica associada ao mal da vaca louca, para a qual não existe tratamento.
  • Tripanossomíase africana
    O que é: Doença do sono, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé.
  • Fibrodisplasia Ossificante Progressiva
    O que é: uma doença genética rara e incurável que causa a formação de ossos no interior dos músculos, tendões, ligamentos e outros tecidos conectivos.
  • Raiva
    O que é: Zoonose transmitida para humanos principalmente por mordedura de animal infectado. Prevenível com vacinas, mas uma vez que os sintomas se manifestam, a taxa de letalidade é alta
  • Meningoencefalite amebiana primária
    O que é: uma infecção causada pela ameba parasita Naegleria fowleri, apelidada de “a ameba que come cérebro”.