Reprodução/SMCS arquivo

Um estudo do Ministério da Saúde mostrou que uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos de idade estão com o peso acima do ideal: 7% apresentam sobrepeso e 3% já estão com obesidade. São vários fatores que contribuem para esses dados preocupantes, um dos quais o baixo nível de atividade física. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada vez menos crianças e adolescentes de 5 a 17 anos vêm atingindo o mínimo recomendado de atividade física, que são 60 minutos diários, de intensidade moderada a vigorosa.

Outros fatores contribuem para o sobrepeso ou obesidade, como a alimentação inadequada (principalmente com o aumento da ingestão de alimentos ultraprocessados) e o uso excessivo de telas (tablets, celulares, videogames), ultrapassando o limite de duas horas por dia recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). O sedentarismo pode, ainda, contribuir para o desenvolvimento de doenças, como diabetes e cardiopatias, principalmente a hipertensão arterial. Além disso, a probabilidade de uma criança obesa se tornar um adulto obeso é muito maior.

O que auxilia (e muito) a amenizar essa situação são os exercícios físicos. Todo ser humano, independentemente da idade, deve se movimentar para manter o equilíbrio físico e mental, pois exercitar-se traz diversos benefícios cognitivos, socioemocionais e fisiológicos aos indivíduos. Portanto, é uma questão de saúde pública a prática de atividades físicas pela população. Esse estilo de vida está relacionado à saúde e mostra-se como um fator relevante para uma sociedade mais feliz e sustentável. Assim, incentivar as crianças a serem fisicamente ativas desde pequenas se torna de extrema importância, contribuindo para que cresçam saudáveis. Em 2018, a OMS lançou o “Plano de Ação Global para a Atividade Física”, com o objetivo de instituir políticas públicas para uma sociedade mais ativa até 2030, diminuindo a inatividade física e o sedentarismo em 15%.

É importante ressaltar, no entanto, que para cada idade deve ser respeitada a individualidade, maturidade e também a vontade da criança ‒ pois, muitas vezes, o desejo dos pais pode se sobressair ao da criança na escolha das atividades extracurriculares, por exemplo.

Também devemos lembrar que há uma diferença entre atividade física e exercício físico. Considera-se atividade física qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, que tenha um mínimo de gasto calórico e que tire o indivíduo do estado de repouso. Para exemplificar, podemos citar algumas tarefas simples do cotidiano, tais como: escovar os dentes, subir uma escada, carregar objetos, etc. Já o exercício físico é toda atividade física planejada, ou seja, que tenha frequência, duração, objetivo e, claro, seja orientada por um profissional de Educação Física ‒ como, por exemplo, um treino de musculação, ou qualquer outra modalidade.

Em relação às atividades físicas realizadas em academia, elas são permitidas tanto para crianças quanto para adolescentes, porém é importante que eles primeiramente consultem um médico e, na realização dos treinos, é imprescindível contar com a presença e a orientação de um profissional de Educação Física qualificado para fazer o acompanhamento. Na academia, não necessariamente os exercícios precisam ser feitos utilizando os aparelhos, pois as atividades podem ser brincadeiras, danças, artes marciais, entre outras.

No Colégio Bom Jesus, além das aulas de Educação Física, os alunos têm atividades extracurriculares, bem como estímulos dirigidos à prática de atividades físicas durante os intervalos, além de jogos internos, festivais e outras ações desenvolvidas ao longo do ano. Critérios envolvendo habilidades socioemocionais, como autocontrole, autonomia, empatia, comunicação assertiva e sustentabilidade também estão presentes no plano curricular de Educação Física.

Em 2018, a OMS lançou o “Plano de Ação Global para a Atividade Física”, com o objetivo de instituir políticas públicas para uma sociedade mais ativa até 2030, diminuindo a inatividade física e o sedentarismo em 15%.

Pandemia

Com a pandemia tivemos de nos adaptar a uma nova realidade e buscar alternativas para realizar nossas atividades diárias. Para as crianças e adolescentes, foi ainda mais preocupante. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou um alto índice de uso semanal das telas por parte das crianças durante a pandemia, com pouca atividade física, diminuindo ainda mais a aptidão física e a habilidade motora.

Em uma amostra de 671 crianças de 21 escolas pesquisadas, somente 36% delas faziam atividades físicas de 3 a 6 dias por semana; outros 34%, até 2 dias, e 30%, todos os dias. Mas 65% disseram usar as telas durante 4 horas ou mais por dia; 31%, de 1 a 3 horas, e apenas 4% relataram utilizar telas menos de 1 hora/dia.

O estudo da UFRJ também concluiu que a saúde mental dessas crianças foi afetada durante a pandemia, devido à falta de interação social com os colegas e por conta, também, da exposição excessiva às telas: 26,4% dos pais das crianças relataram que seus filhos ficavam mais de 6 horas diárias em frente a tablets, celulares e TVs, enquanto 20% usavam esses aparelhos de 4 a 6 horas por dia; 13,9%, de 1 a 3 horas, e 6,7%, menos de 1 hora. Além de desenvolver as capacidades físicas e motoras, a atividade física traz muitos benefícios socioemocionais à criança, como aumento da capacidade de resolução de conflitos, de tomadas de decisão, crescimento da resiliência, da habilidade para a escuta ativa e para o diálogo e a autonomia, condições tão necessárias para o convívio social e para ajudar a combater alguns problemas de saúde, como ansiedade e depressão.

Everton Saad é coordenador de Educação Física do Colégio Bom Jesus