
Além do impacto sanitário, a pandemia do coronavírus também causou importantes reflexos na economia. Foram dois trimestres seguidos de redução do PIB (Produto Interno Bruto) no país, o que se traduziu, para as empresas, em redução de faturamento e até mesmo na necessidade de redução do quadro de funcionários. Para alguns poucos setores, entretanto, o momento de crise acabou se transformando em oportunidade. E foi exatamente isso o que aconteceu, por exemplo, com as empresas especializadas em higienização e sanitização de ambientes.
Segundo a Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp), a percepção do setor é de crescimento generalizado, tanto na prestação de serviços, com alta tanto na demanda comercial como na residencial, quanto na indústria, com alta na procura por itens de higienização e desinfecção das mãos e por equipamentos de proteção individual (EPIs).
“Aquilo que antes poderia ser feito por qualquer um e de qualquer jeito hoje precisa ser profissional. E o público está conseguindo distinguir essa diferença e escolher o que realmente possa dar o conforto de um ambiente limpo e higienizado”, comenta Christian Rojas, CEO da marca Jani King do Brasil, relatando ainda que, num primeiro momento, houve uma retração de serviços devido à adoção do home office, mas que depois, com a retomada gradual das atividades, a procura foi aumentando em face da necessidade de maior cuidado com higiene e desinfecção de ambientes.
Proprietário da Hard Clean Serviços de Limpeza, fundada há cinco anos e meio em Curitiba, Euler Neto conta que a demanda começou a crescer principalmente a partir de maio na capital paranaense. Segundo ele, na medida em que a pandemia se agravava, a procura por serviços profissionais de limpeza e higienização crescia.
“Em abril a procura foi irrisória. Mas em maio já notamos uns 50% de faturamento, em junho subiu mais uns 30% e em julho, mais uns 50% de volta. Agora em agosto deu uma queda, voltou ao patamar de maio, mas isso aconteceu porque a procura é proporcional ao número de casos [de Covid-19]. Quanto mais casos, mais preocupação e aí também fica maior a procura”, explica o empresário.
Ainda segundo Neto, a principal demanda é por parte de empresas e, via de regra, a procura pelo serviço acontece após surgir algum caso suspeito ou confirmado de coronavírus entre os funcionários.
“Tem uma rede de bancos que nos procura sempre que tem algum caso, uma transportadora também, já atuamos em mercados… Tem tudo o que é tipo de empresa”, comenta ele. “Residência é mais raro, também mais quando tem algum caso, a pessoa fica isolada no quarto e depois somos chamados para higienizar esse ambiente. Mas o porcentual é baixo. O que temos feito muito é em condomínios, prédios”, complementa.
Projeto tenta criar política nacional de sanitização
Apresentado no final de julho e tramitando na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 3784/20 busca instituir uma política nacional de sanitização para conter a transmissão de doenças infectocontagiosas e permitir a retomada das atividades econômicas em tempos de Covid-19. A iniciativa do deputado Cleber Verde (Republicanos-MA) prevê que locais públicos e privados com grande circulação de pessoas deverão realizar processo de desinfecção de seus ambientes, incluindo tetos, pisos e paredes, e disponibilizar equipamentos de higiene de fácil visualização e acesso.
Mas afinal, como funciona esse serviço? Euler Neto, da Hard Clean, explica: “Pode ser feito de diversas maneiras. Temos um maquinário que é um nebulizador atomizador, expele gotículas e, basicamente, faz uma névoa, que atinge até mais de 10 metros de distância quando está aplicando e pega locais que manualmente, com um pano, talvez não fosse possível alcançar. Temos os produtos ceritificados pela Anvisa, à base de quaternário de amônia, que não é nocivo ao ser humano, mas elimina 98% de todos os vírus e bactérias”.
Volta às aulas deve ajudar a incrementar demanda
Ainda não há previsão para o retorno das aulas presenciais em Curitiba, mas as empresas de limpeza e higienização esperam registrar mais um incremento na demanda quando for a hora dos alunos voltarem para a sala de aula. Segundo a Associação dos Controladores de Vetores de Pragas Urbanas (Aprag), além da preocupação com a Covid, também deve haver um cuidado com relação à pragas e roedores, já que as instituiçõs ficaram fechadas por muito tempo.
“Há riscos com aranhas, escorpiões, baratas e roedores. Para manter a segurança de todos nas unidades escolares, os gestores vão precisar de um planejamento bem executado e constante”, aponta o vice-presidente da Aprag, Sérgio Bocalini, explicando que as escolas públicas e privadas costumam ter contratos com empresas de combate a pragas e higienização, mas que deverá ser necessário ir além do que a legislação já determina, em face da complexidade do momento atual.
“O trabalho permanente deve ser colocado em prática em todas as unidades. Outro ponto, é a necessidade de contar com uma empresa especializada e profissional nesse trabalho. Desta forma, evita-se um processo de intoxicação da comunidade escolar e ganha-se em agilidade no serviço, feito com mais qualidade e segurança”, explica o vice-presidente da Aprag.