Franklin de Freitas – Barragem do Passaúna já tem parte com leito seco desde o fim de abril

Não bastasse o novo coronavírus e todos os problemas decorrentes, uma outra crise se apresentou aos paranaenses de forma quase que concomitante. Em março, enquanto Curitiba adotava o isolamento social, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) implantava o rodízio de abastecimento de água na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que na prática significa o racionamento. E quase dois meses depois, o estado é de alerta por conta da crise hídrica.

O que acontece é que desde junho do ano passado o Paraná vem registrando, mês a mês, índices pluviométricos bem abaixo da média histórica. A estiagem, tanto no Estado como na Capital, é a pior das últimas duas décadas, pelo menos. Levantamentos iniciais do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) apontam que o período de escassez de chuvas deve se estender até setembro. E de acordo com a Sanepar, o sistema que abastece Curitiba e região tem autonomia para atender a demanda por mais três ou quatro meses.

“Nós temos uma gordura para queimar em função dos investimentos feitos pela Companhia. Temos um plano de obras pensando no saneamento e no abastecimento para daqui a 30 anos. Mas precisamos estar em estado de alerta, todos nós”, afirma Fabio Basso, que é engenheiro eletricista e gerente de produção para Curitiba e região metropolitana da Sanepar.

“Quem continua recebendo água, tenha consciência do uso econômico, mesmo não estando no rodízio. Enfrentamos uma estiagem de quase um ano, estamos com déficits hídricos enormes. Importante ter consciência, pensar no coletivo. O estado é de alerta”, complementa.

Dos quatro sistemas produtores que abastecem a RMC, um deles está em situação mais grave. É o Miringuava, o único que não conta com barragens e que capta água superficialmente, direto do rio de mesmo nome, que perdeu 70% de seu volume por conta da seca. Nos outros três sistemas a produção segue normal, mas graças ao uso da água das barragens.

Racionamento no Estado deve ser inevitável

Diante da preocupação com relação aos impactos da estiagem, o Governo do Estado decidiu criar recentemente um grupo de trabalho interinstitucional para propor a regulamentação de critérios para o uso racional e de reuso da água em todo o Paraná. Profissionais do Instituto Água e Terra (IAT), da Sanepar e das Fiep (Indústria) da Faep (Agricultura) compõem o grupo.

Segundo Fabiana Campos, que é diretora de Políticas Ambientais da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, órgão ao qual está vinculado o IAT, a ideia, num primeiro momento, é apostar em medidas educativas, evitando punições inicialmente e contando com a colaboração direta das pessoas. Ela, no entanto, reforça que a ampliação do rodízio no fornecimento de água será inevitável nas diversas regiões do Estado.

“As projeções mostram que a seca tende a se agravar. Esse grupo irá fazer o acompanhamento e monitoramento diário em busca de tomar as decisões mais acertadas, priorizando o consumo humano e animal”, afirmou.

“É um momento completamente anormal e enfrentamos duas crises: a pandemia [de Covid-19] e uma crise hídrica, uma estiagem sem precedentes nas duas últimas décadas. As pessoas não podem ter comportamento normal, lavar calçada, carro. Exige um comportamento coletivo, priorizando a higiene pessoal e alimentação”, orienta Basso.

Medidas mais radicais podem ser tomadas

Ainda de acordo com Fabio Basso, e gerente de produção para Curitiba e região metropolitana da Sanepar, diariamente os técnicos da Companhia estão analisando os dados sobre o nível de barragens e consumo de água e mapeando alternativas para garantir o abastecimento. A adoção de medidas mais drásticas para controle da demanda, no entanto, não estão descartadas. “Se forem necessárias medidas mais radicais, estamos atentos e no momento certo avançamos nisso”, garante.